Uma Epígrafe



"...Quanto à poesia, parece condenada a dizer apenas aqueles resíduos de paisagem, de memória e de sonho que a indústria cultural ainda não conseguiu manipular para vender."...[Alfredo Bosi, in O Ser e o Tempo da Poesia, p. 133]

sábado, maio 02, 2015

A JAQUEIRA DA ABOLIÇÃO




 



O casario que hoje chamamos de Arruado faz parte da Rua João Francisco Lisboa, a antiga rua do Bom Gosto. Começava ali, na esquina do que hoje é a Reitoria da UFPE, mais ou menos, e seguia pelo casario dos trabalhadores do velho engenho (Arruado), passando pelos fundos da Matriz da Várzea, cruzando a rua da Levada (atual Mário Campelo) indo findar nas terras dos Brennand, bem na esquina da atual Rua Barão da Muribeca (a rua da Escola de Artes).

Pois bem, conta-nos o escritor varzeano, Marcos Ferreira da Silva Sobrinho, às páginas 7-13, de seu interessante livro, "VÁRZEA - lembranças de um tempo que se foi", que, ao cair da tarde de 14 de maio de 1888, estava sentada comendo uma saborosa jaca, a negra liberta Feliciana, casada com o engenheiro francês Júlio Adurand, quando adentrou o seu quintal, a galope, um escravo, vindo do centro do Recife, e anunciou:

Sá Feliciana, já não existem escravos no Brasil. No Recife, não se fala em outra coisa! Assinaram uma tal de Lei Áurea!

Sá Feliciana, emocionada, pegou o caroço da jaca que estava comendo, levantou-se, deu alguns passos e o semeou no solo varzeano.

Eis a foto da árvore, mais que centenária, que ainda resiste, na esquina da rua da Levada, com a rua João Francisco Lisboa, a rua que vai dar no Arruado.

 No início do século XXI, a construtora Romarco comprou o terreno, demoliu a velha casa dos Adurand e ergueu o Edf. Morada Verde. Porém, contraditoriamente, começou a derrubar o que de verde existia no antigo quintal de Sá Feliciana. Quase que derrubava a histórica jaqueira. Ainda cortou o seu tronco, em alguns pontos. Mas, a professora Antonieta Ferreira, irmã do autor do livro citado, que desde criança ouvia de seus pais e avós a história da jaqueira famosa, evitou a derrubada, ameaçando os construtores com denúncia aos órgãos competentes. Estava salva a jaqueira da abolição! É para isso que precisamos conhecer a nossa história. Para nos empoderarmos e evitarmos que a sanha imobiliária e capitalista destrua o que ainda há de ancestral na nossa cidade, seja uma árvore, um pátio ferroviário, como o do Estelita, ou um arruado de moradores de engenho.

 Viva Sá Feliciana e vida longa à sua frondosa jaqueira!

sexta-feira, fevereiro 20, 2015

SALVE, O ENTRUDO VARZEANO!





Nessa pequena porção de terra, banhada pelo rio Capibaribe, havia 16 banguês e uma pequena povoação, com sítios, chácaras, quintas e sobrados. Uma população que vivia entre o urbano e o rural, com seu labor agrícola, com sua pequena criação, com suas procissões, com suas festas. Nós somos os herdeiros dessa Várzea rurbana e cult/rural. E, agora, pelo entrudo, (entrudo, sim, nosso carnaval é mais próximo do entrudo que do Carnaval de Veneza, lá do Recife Antigo)... Pois bem, pelo entrudo nos vestimos de cores, de luz, e deixamos fluir a alegria do efêmero, desse instante transitório que é a existência humana, com a maneira telúrica do povo, com os saberes e fazeres da gente simples do povo! Evoé, brincante varzeano! O tempo passa, mas no teu semblante estão as marcas vivas dessa Várzea quatrocentona! Evoé, Sori Galtama, que conta essa história com maestria, em tua máquina de guardar sonhos! Evoé!