Uma Epígrafe



"...Quanto à poesia, parece condenada a dizer apenas aqueles resíduos de paisagem, de memória e de sonho que a indústria cultural ainda não conseguiu manipular para vender."...[Alfredo Bosi, in O Ser e o Tempo da Poesia, p. 133]

domingo, setembro 30, 2012

ARCO DA RABECA (litania d'Olinda)

ARABISCO: Caminho do Céu - E. B. Brito
 

Quem diria...
O arco da minha rabeca é árabe.
Mas nós é que inventamos os desertos
Os hamburgueres,
E as calamidades.

Deus! quanto é vã nossa modernidade.
Perfunctória e fútil, eis a verdade.
Essa fuligem é tão mórbida
Quanto a obesidade.

Havia um coqueiral na praia.
Algumas casas.

Um farol.
E o que agora encontro é a Realidade.
Nem peixes.
Nem tarrafas.
Nem anzóis.


Deus! quanto é vã nossa civilidade.
E quando o tempo nos tirar o véu,
Pode ser tarde.

O arco da minha rabeca é árabe.


Mas nós já temos a indústria.
E o forno arde.
Novos desertos surgem ao cair da tarde.
O mar avança
E alcança
a nossa vaidade.

Deus! quanto é vã a nossa ansiedade.

Entanto, indiferentes,
Erguemos túmulos litorâneos
E os batizamos:
Cidades.

...mas descobri, enfim,
que o arco da minha rabeca é árabe.


Quem diria...
O arco da minha rabeca é árabe.

 

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Eurico
(com arabisco de Emanuel B. Brito)


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