Uma Epígrafe



"...Quanto à poesia, parece condenada a dizer apenas aqueles resíduos de paisagem, de memória e de sonho que a indústria cultural ainda não conseguiu manipular para vender."...[Alfredo Bosi, in O Ser e o Tempo da Poesia, p. 133]

quarta-feira, março 28, 2012

DELÍRIO EM AZUL






















Quando Ela nos alcança, cadavérica e terrível,
De nada adiantam as especulações ontológicas,
A teleologia
ou
a incognoscível redução fenomenológica;


Nada nos salva,
nem mesmo a transubstanciação eucarística.


Ela chega destruindo toda ciência,
toda consciência.
Ela ressoa no cerne mesmo
daquilo que os saciados chamam alma.


Aos poucos Ela invade o núcleo das células,
que se vão devorando umas às outras,
fugindo da inanição.
As sístoles e as diástoles se atropelam.
A Razão fraqueja.


E o Ser começa a delirar na cor azul.


Porém, quando Ela nos alcança,
o sentido profundo da vida se revela,
em imperiosa e urgente concretude,
pois Ela não falseia a realidade.
Ela é a coisa mais pura e verdadeira:
A Fome, quando chega, não ilude.








 Fonte da imagem: FOME EM ÁFRICA




Para carpir, (ou penitenciar-se, se preferes): Lacrimosa, de Mozart

ou Chico Buarque - Brejo da Cruz:

5 comentários:

Anônimo disse...

aiii doeu!

Unknown disse...

quando ela chega indevassável com suas garras de agonia, nada há que se alcance a alforria: a fome azul consome até o céu



abraço

Unknown disse...

É, Eurico!

Existe a fome dos que nada tem para comer, e a outra fome dos que tudo tem e não podem saciar o organismo.

Lindo!

Beijos, POETA!

Mirze

Unknown disse...

Nossa! Já conhecia a imagem ganhadoras de um grande prêmio, entretanto seus escritos foram mais chocantes....


Muita paz!

Fred Caju disse...

Excelente, Eurico. Bem forte mesmo.