Uma Epígrafe



"...Quanto à poesia, parece condenada a dizer apenas aqueles resíduos de paisagem, de memória e de sonho que a indústria cultural ainda não conseguiu manipular para vender."...[Alfredo Bosi, in O Ser e o Tempo da Poesia, p. 133]

domingo, dezembro 04, 2011

DE LÍRICA (para uma metafísica do sensível)





















Subindo para o geral, sem jamais se desprender do ponto de partida, a ascensão metafísica é similar ao papagaio de papel a subir sempre mais sem desprender-se do cordel de quem o puxa; somente sobe porque está preso à terra. O metafísico, homem pequenino a puxar pelo cordel de suas idéias, atira o seu pensamento para as alturas; com as idéias intencionalmente nas nuvens, subirá sempre mais, à medida que der impulso a partir dos dados primitivos de sua própria metafísica.
(Evaldo Pauli)



Luzeiros na noite escura.
A chuva em que viça a flora.
Deliciar-se em doçura.
A tua presença agora.
Súbita flor na planura.
Uma ária ao romper da aurora...

Pobres dos que não os percebem!

Antes, os bêbados,
os clowns,
os birutas,
os poetas...
(Todos os que não padecem
da abulia que acomete
os normais e os exegetas.)

Mas, o que é isso, de fato?
Isso, indizível, mas, evidente,
que, vez em quando,
invade, lírica, a mente?

Flor, luzeiros,
chuva, aurora,
viço, doçura, presença...

Brilha nisso, simplesmente,
um indício in/ato,
de certa instância:
a estesia.
Pulsa um Ser, em entreato,
pulcro e abstrato:
A poesia.



Villa Lobos, Bachiana nº 5, Amel Brahim:


 
Fonte da imagem:
DELÍRICA

2 comentários:

Lícia Dalcin disse...

Aplausos.

Rejane Martins disse...

Tão... mas tão bonita esta tua poesia, Eurico. Tanto e com tal força ...silêncio-e-emoção de mesa servida, mais que isso: partilhada.
Eu agradeço a possibilidade de ler um poema desta natureza. E neste encontro de folhas um trevo doutra e-outra-e-outra... em sorte, refúgio e fortaleza.