Uma Epígrafe



"...Quanto à poesia, parece condenada a dizer apenas aqueles resíduos de paisagem, de memória e de sonho que a indústria cultural ainda não conseguiu manipular para vender."...[Alfredo Bosi, in O Ser e o Tempo da Poesia, p. 133]

quarta-feira, outubro 12, 2011

QUE AS CRIANÇAS CANTEM LIVRES!


Crianças de Gaza olham por buracos em muro.















O tempo passa e atravessa as avenidas

E o fruto cresce, pesa e enverga o velho pé
E o vento forte quebra as telhas e vidraças
E o livro sábio deixa em branco o que não é


Pode não ser essa mulher o que te falta
Pode não ser esse calor o que faz mal
Pode não ser essa gravata o que sufoca
Ou essa falta de dinheiro o que é fatal


Vê como um fogo brando funde um ferro duro
Vê como o asfalto é teu jardim se você crê
Que há um sol nascente avermelhando o céu escuro
Chamando os homens pro seu tempo de viver


E que as crianças cantem livres sobre os muros
E ensinem sonho ao que não soube amar sem dor
E que o passado abra os presentes pro futuro
Que não dormiu e preparou o amanhecer...




Tinha eu 16 anos, quando ouvi essa canção pela primeira vez.
Estávamos em plena ditadura. Taiguara, sem perder a ternura,
já me ensinava que o lirismo pode ser contestador. Ouçam:


Taiguara ao piano - 1973

6 comentários:

Unknown disse...

AI, Lírico!

Que saudade do Taiguara" Lembro que quando ouvi foi que percebi que o futuro não dorme, claro. Eu ainda menina fiquei horas pensando nisso.

E ainda fico!

Ufa! Chega a parar o coração!

Beijos, Eurico!

Mirze

Unknown disse...

Grande lembrança. Taiguara sofreu uma censura implacável da ditadura. Taiguara sempre um canto de liberdade.



abraço

Rejane Martins disse...

Taiguara também foi parte de minha adolescência, Eurico, de certa forma tentei beber o brilho dele até entender ...e seguirei tentando. Eu te agradeço porque hoje, além de rever e reouvir Que as crianças cantem livres, tu me fizeste rever a letra da Aquarela de um país na lua. Feliz dia da criança pra ti!

Essa rosa branca
É de todas as cores
É um portão aberto
É uma criança livre
É uma semibreve
É Brasília nua
É um cristal de luz
É um país...

Essa rosa branca
É de todas as cores
É um punhal de neve
É um canhão de vidro
É um colchão de nuvem
Numa cela acesa
É meu pé na terra
É meu pão na mesa
Na mesa, na mesa...

Claudinha ੴ disse...

Olá Eurico! Você me transportou ao passado, à minha casa cheia de primos (da minha mãe) moços, envolvidos com a política, sentidos pela morte de um deles (lá, naqueles porões malditos), família na varanda, moços cheirando meus cabelos cheios de cachos, avô, avó e muitas esperanças... Me emocionei... Amanhecer... é preciso! BJ

Lícia Dalcin disse...

Eurico: quem é esse homem, Deus meu?
Quem é esse Eurico? Você há mesmo ou deliro?

Luma Rosa disse...

Que bela prosa, Eurico!! Que seu desejo seja uma ordem: Que as crianças cantem livres e nos ensinem a sonhar!
O player não funcionou para mim, mas imagino qual música escolheu. Se gosta de Taiguara, depois procura pelo CD tributo que o DJ Zé Pedro dedicou à ele "A Voz da Mulher na Obra de Taiguara", com várias cantoras da época em que Taiguara era mais conhecido. Beijus,