Uma Epígrafe



"...Quanto à poesia, parece condenada a dizer apenas aqueles resíduos de paisagem, de memória e de sonho que a indústria cultural ainda não conseguiu manipular para vender."...[Alfredo Bosi, in O Ser e o Tempo da Poesia, p. 133]

domingo, julho 10, 2011

LIRISMO E LIBERTAÇÃO (reflexão dominical)




















Mas o que é mesmo lirismo?
Lirismo é uma maneira de ver e acercar-se das coisas, da realidade. Lirismo é pois, perspectiva, interpretação, ambas fundadas na emoção. Mas numa emoção vital, consciente da radical importância da vida na Terra. Vida dos homens, dos animais, das plantas. Vida.
Fundado nessa perspectiva, o lirismo  já é, em si, uma atitude política diante do mundo.
Portanto, o lirismo não é apolítico. Pode e quer o lirismo interferir nos rumos da pólis. Esse lirismo sonha atuar na sociedade, propondo um salto civilizatório. Um movimento pela qualidade da vida humana, dentro de uma visão ecossocialista, pacifista e libertária. Mas nossa política não é a dos grandes líderes messiânicos, nem a política partidária, (essa em que os fins justificam os meios), e sim, a política do cotidiano, feita por anônimos, que querem fundar uma sociedade da gentileza e da cortesia, tanto nas pequenas quanto nas grandes cousas.
Mas, como propor uma política da ternura, em um mundo em que parece imperar a indiferença, o desamor? Parece frágil, essa postura. Mas não é. Resiliente, talvez, frágil, jamais. Essa busca do lirismo e da ternura, diante de um mundo que fraqueja ante a lei da força, do poder pelo poder e da violência gratuita, é, sim, a atitude dos fortes, dos que ousam resistir e sonhar.
Quem se ocupa da musicalidade e da harmonia das cores, das palavras e dos sons, se incumbe também de ocupar um espaço (político) para a poesia, para o poético, para a beleza.
Esse lirismo interfere na pólis, ou seja, faz política, ocupando-se do belo, do bom e do bem, com a inocência e a ingenuidade da criança... nietzscheana. E isso não é utopia. É necessidade vital. A preservação da vida na Terra carece de uma tomada de atitude em defesa desse salto civilizatório. Essa atitude é radicalmente lírica e política.
Não existe, pois, um lirismo comedido. Todo lirismo já é, em si, libertação.

Eurico
10/07/2011

FONTE DA IMAGEM:
http://semeadoresdeestrelas.blogspot.com/2011/05/curando-com-o-reino-animal-como-nos.html