Uma Epígrafe



"...Quanto à poesia, parece condenada a dizer apenas aqueles resíduos de paisagem, de memória e de sonho que a indústria cultural ainda não conseguiu manipular para vender."...[Alfredo Bosi, in O Ser e o Tempo da Poesia, p. 133]

sábado, abril 23, 2011

Asperges me! (litania do sábado)

Giotto - O Beijo de Judas



“Faze-me ouvir júbilo e alegria,
Para que exultem os ossos que esmagaste.

...........................................Salmos 51:8



Compadece-te de mim.
Eu que chego da noite,
Fugindo das trevas da noite;
Da escura noite do mundo.

Eu que sempre fui vil.
E capaz das vilezas mais sutis.
Das trapaças nos negócios.
Da especulação sem escrúpulos.
Da mais valia sobre meus operários.
Da acumulação de terras e mais terras,
De bens e mais bens materiais...

Eu que adentrei as tabernas
E abusei das mulheres sofridas.
Das mulheres da vida sem sentido.
Eu que traí os meus votos

E sempre culpei as mulheres.
E traindo as mulheres Te traí.
E me traí. Misero me!

Eu que não dou a mão aos anciãos
Quando os vejo caídos na rua.
Eu que desdenho das grávidas,

Dos aleijados,
Dos cegos.
Eu que zombo dos afeminados.

Eu que sou cruel. Sou violento.
Eu que atiro pedras nos cães e gatos.
Eu que tantas vezes os mato por pura maldade.

Eu que me insulo na minha casa,
Bebendo e fumando.
Destruindo o meu corpo.
Isolado no meu egoísmo
Monge às avessas,
Afastando meu próximo.

Abandonando os Teus pequeninos.
Desprezando os meus irmãos
Só por descrer das suas esperanças
Ou desesperar de suas crenças.


Eu que tantas vezes fui cobarde
E praguejador.
Eu que tantas vezes blasfemo
Por puro desencantamento
Por me sentir abandonado por Ti.
Por necessidade de Ti.

Por ciúmes de Ti.
Por saudade de Ti, ó Paizinho...

Miserere, mei, Dio!
Asperges me!



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Eurico

(não esqueçais, pelo amor de Dio, que aqui
fala um eu-lírico, rs)

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10 comentários:

Dauri Batisti disse...

(Faço silêncio)e escrevo com abelhas um mel transubistanciado de amargas flores, escrevo com uma pequena viagem feita aos anos 80, por ai, quando na américa latina se produzia em profusão um pensamento sobre Deus, sobre os homens, sobre o mundo, em anseios de Libertação. ah! o que digo agora, saudade? sim, talvez. Vou...

Dauri Batisti disse...

Estes pássaros ao lado aproximam-nos mais, nossas escritas, nossos Brasís, Nós-líricos, cantos escritos de gente, asas forjadas na poesia dos dias.

Jens disse...

O pecador em busca de redenção. Versos que conseguem ser ao mesmo tempo duros, cruéis e supreendentemente delicados no final. Um poema implacável.

Feliz Páscoa, camarada Eurico.

Unknown disse...

borrifa sobre mim também tua água benfazeja,

abraço

Unknown disse...

Olá, venho te convidar para a festa dos 1.000 acessos diários no blog http://conscienciaevida.blogspot.com . Hoje temos um convidado especial te esperando por lá.
Apareça, vamos comemorar juntos!
Abraços fraternos. :)

Como está tudo lindo por aqui, beijos :)

Unknown disse...

Eurico!

Que confissão!!! Andou lendo as Confissões de Santo Agostinho?

Acho que cinco litros de água benta á pouco. Mas o Pai é maior. Deve ter você como predileto e escolhido!

Um poema de pensar.....

Beijos, poeta!

Mirze

Jasanf disse...

Páscoa significa passagem.Então desejo que todos os dias de sua vida sejam uma Páscoa, uma passagem.
Que todo dia você passe da tristeza a alegria, da mágoa ao perdão, do desânimo a coragem, da descrença a fé, do desamor ao amor.
Desejo também que você passe dos desejos materiais aos desejos imateriais, dos pensamentos pequenos aos pensamentos edificantes.
Desejo, enfim, que você consiga fazer a passagem diária de transformação interior.
FELIZ PÁSCOA!!

lula eurico disse...

Gente, não esqueçam de que o eu enunciador do poema não é o eu do poeta rsrsrs
Muitos do que aqui está descrito é pura ficção.

Mesmo assim, miserere mei, Dio.
Asperge me!

Loba disse...

o eu-lírico é a ponte que liga o poema ao leitor. cada um de nós lê/recebe a mensagem como necessita. eu a recebo pedindo: Miserere mei, Dio. Asperge me!
Beijo!

Unknown disse...

CADEÊ!

Onde está o EU?

Beijos

Mirze