Uma Epígrafe



"...Quanto à poesia, parece condenada a dizer apenas aqueles resíduos de paisagem, de memória e de sonho que a indústria cultural ainda não conseguiu manipular para vender."...[Alfredo Bosi, in O Ser e o Tempo da Poesia, p. 133]

terça-feira, março 29, 2011

URZIR ADREDE (puzzle-dadá pra Mirze)























urzir wrzir oorzir uurziir
urrzir urzeer urzyr urzzir
urzyier urzzr urrzyir hurzir
ürzir uwrzir urisir urzieer
ulrzir wrzir uzeir urzir ad/rede


Eurico,
brincando de armar...a rede.

segunda-feira, março 28, 2011

ANDAIMES (ou Babel de Vidro)


equívoco vitruviano



"O mundo poderá ser salvo
se o homem desfizer a distância
que o separa da sua infância."

Cassiano Ricardo



Essa urbe vítrea funda-se em um equívoco deliqüescente
um desvio nos desvãos das mentes
ruas sintáticas,
lineares, sem graça e sem crianças;
carentes dos trapézios líricos
e da possibilidade do vôo..


Permanece  vitrúvio no vítreo,
esse dessonho retilíneo,
em inútil plano desonírico?


Toda construção em cânones é um equívoco,
um anti-Sphairos,
mesmo que côncava,
e ainda que convexa,
Isso que eles chamam nexo
é uma dislexia do oco sem eco.
Quando entenderão os arquitetos
que o unívoco e eterno é um Ser Esférico?






Fachada de vidro

sábado, março 26, 2011

ALVENARIA (exercício de seleção e combinação)

Protopoesia?





 
Poética pragmática beleza rara de ara de objeto engastado em pedra dura sem lavra sem cantaria ou argamassa xisto pedra sabão quartzito  calcário pedra de rio e granito coisa litúrgica rito de pedra em pedra uma coisa túpida e não úmida mas unida em solidária alvenaria de junção em pétrea combinação


[Protopoesia?]




     




Eurico,

combinando e selecionando pa/lavras,
sob o comando do mestre de obras
Paul Valèry...rsrs




Fonte da imagem:
http://www.mardevinho.com.br/colunas/suica-2



       

sexta-feira, março 25, 2011

FROL (em pérgola)

Imagem Flickr - Google


























se é poesia
pode se dar elegantemente despida
sem pétalas
apenas ramagens esguias e perfume;
vestes,
quase sempre,
impedem a necessária estesia;
basta-lhe um átrio com risos silvestres,
pequenos ar-bustos
de amena buganvília


quando há sorriso
todo o menos belo desaparece em pelúcia
em plúcia
dilícia plúmida
que de poesia ex-pele
e despe-se
toda elegância
de falda em frol
toda fragrância de eflorescência e sol


se é poesia, a-flora,
...adere.





Eurico,
experimentos de arquitetura e paisagismo... volátil...rsrsrs

MANSARDA (fróes à fenestra)



























Tão triste, a modinha na casa das Fróes
São duas vocinhas (e um clavecino) em uma só voz
Mercedes, contralto
Soprano, Ana Fróes

Os gritos e esgares da guerra lhes pungem a voz

Guernica ó guernica solfeja Ana Fróes
co'a voz de pelica fiapo de voz

Os olhos dos bascos suplicam ao algoz
replica Mercedes em contrita voz

Dorida a cantiga
que chega até nós
vocinhas unidas que evém da mansarda
uníssona voz

Por quem dobram os sinos,
na musga avoenga desse clavecino
da casa das Fróes?



Fonte da imagem:
Mansarda com palomas e flores


Eurico,
primeiros estudos em arquitetura volátil...rs

quarta-feira, março 23, 2011

TAIPA


















Minh'alma
uma velha casa de taipa encardida
num perdido rincão
esses sertões...
a minha alma deserta e milenária.


Paredes rubras, a minh’alma,
barro curtindo ao sol
e uns oleiros ébrios à sombra do poente...


Ó minha alma, soçobro!
O balido dos rebanhos de cabras nos terreiros
e eu, ainda sóbrio.
A minh’alma sedenta, sem Deus.


E te ausculto, minh'alma
E te oiço, minh'alma
de alhures, te miro
na pátina de nossas construções exteriores...
os dedos demiurgos na lama avermelhada
essa argila descorada,
a minh’alma de taipa

Um oleiro ébrio brinda ainda,
nos debruns da tarde,
a casa erguida com as próprias mãos: 
A Deus!

Há Deus?
Minh'alma esboroa-se...
Frágil e deserta.
Adeus.



Fonte da imagem:
http://fatosefotosdacaatinga.blogspot.com/2010/08/seca-e-os-animais-na-caatinga_08.html

terça-feira, março 22, 2011

CARCARÁ (linossignos onomatopaicos)






















O Carcará
(volataria rés-do-chão, ou um close-up cabralino)



O carcará é o eco do eco,
Do eco seco,
Onomatopaico eco.

Falcão modesto
E sem estirpe
Que, não se apresta, de resto,
Aos exercícios fidalgos
Da caça em volataria.
Voa rés-do-chão, rasante,
Vôo sem nada elegante
Aqui mesmo, nas barrancas
À jusante ou à montante,
do leito seco do rio.


Tem um pouco de caprino (cabra alada?)
Quando escava o chão infértil
No vão das palmas de espinhos,
caçando o rato-preá
que se esconde entre as raízes.


Um pouco de cabra ou de ema,
Outra ave de pouco senso,
Pois não escolhe alimento.
Come tudo. Rato, lagarto e cobra.
E por que haveria de escolher
entre as pedras da escassez?

Vai reto e certeiro, ao ponto.
Bicho do mato, agreste e rude,
Não faz o arrodeio e o rito
Funéreo, assim como o abutre
Que espera a morte matar.

A fome, que dá sentido
Ao seu jeito de caçar,
Não lhe permite a espera.
E nem se diz que ele caça,
Pois caça é arte mui nobre,
Pra um bicho pobre e sem raça
Pra um bicho sem sobrenome.

O carcará vai bem reto
Guiado por sua fome
Não metaforiza a lida,
Não tem pena, não vacila,
Que nenhum dó lhe consome.
Pega e arrasta a lagartixa
Abre-lhe o ventre
E, ali, come.

Lições de vida
Pros homens,
Crias da caatinga braba,
Ventres e bocas aflitas,
São os carcarás e as cabras,
Emas, ratos, lagartixas;


Lições de vida
E de morte.
De fado, de sina e sorte,
Homem e bicho
Bicho e homem.
Fauna em flora estiolada.
Juntos na mesma desdita.

***********************************


Eurico,
reeditando signos cíclicos...rsrs


***********************************

Ao poeta, músico e cuidador de almas viventes,
Éverton Vidal.

EU-caOlhO (um divertimento em linossignos)


Seu Malaquias - carnaval - Recife-PE

"Porque hoje o mundo automático
É bem mais para as crianças
do que pra nós que conhecemos
o seu mecanismo, o que há, nele,
de lunatismo e abismo."
(Cassiano Ricardo)

N. do A.
Portanto,
permitam-me
mais um brincante rsrsrs







I


POr
que razãO
nãO me enfiei,
vestes a dentrO,
nUm daqUeles calUngas-mãos-molengas,
em solitária e ridícula euforia
pelAS
ruelAS
estreitAS
da Cidade AnTiga,
se caRnaval sem Ridículo é coR-vadia?




Caboclo de lança Nazaré da Mata PE
foto Rafael Alex Flickr.com
                                         II

Devia ter trincado
um cravo entre dentes,
e balançado
os badalos de cauda,
como badalam
os caboclos de lança;
Devia ter vivido
esse ridículo sem medo,
um ridículo tão risível
quanto os outros,
mas, um ridículo regado a música,
um ridículo gostoso,
em que se dança,
como fazem, nas laursas, as crianças...
De que me adianta
essa séria carranca
demasiado humana
discreta e anônima,
que conduzo entre
pudores e vergonhas

Devia ter usado a carantonha
dos bufões,
dos bobos,
dos palhaços,
e atravessar a cidade sem recalques,
como vi fazer aquele bêbado,
amparado pela embriaguez,
 que cantava: "ó, não me levem
à minha lucidez;
é que só posso ser eu mesmo, dessa vez"



LAMBE-LAMBE

III


Que fiz de mim no entrudo?

Saí nO blOcO
dO
eu-sÓzinhO,
COm uma câmara fOtOgráfica
cOlada aO OlhO,
e assim, caOlhO,
esse mesmO eu-liridículO
e tOlO,
em que me escOndO O anO tOdO,

A espreitAr A festA AlheiA,
A AlegriA AlheiA,
e A estAr nA vidA, À-toA,
sem meter-me nelA...
Sem ViVê-lA...



Eurico,
ainda, um divertimento, rsrsrs


Fonte do LAMBE LAMBE
http://cloacanews.blogspot.com/2009_03_22_archive.html


Fonte do CABOCLO DE LANÇA:
Rafael Alex Sobrinho
http://www.flickr.com/photos/rafaelalex/5516448962/in/photostream/

sábado, março 19, 2011

UAUÁ (linossignos oscilantes)

Pirilampos (in Firefly Flashing)



























Chegaríamos na noite,

noite profunda,
noite ignara e hermética,
depois duma escuridão de léguas...


O sereno, no entanto,
molhava as c'roas e as palmas
e nos breus, de instante a instante
flutuavam
dois fonemas oscilantes


Uauá


lume aceso que se apaga,
que outra vez lucila e apaga,
lume que vaga, e não vaga
pelas barrancas do arroio


Uauá
(borbulhar luminescente...)


E eu que tinha algo a dizer,
Calei-me.
Na noite densa,
gelada, feito a orla do deserto,
deu-me um calafrio de tragédia.
Naquela chã, ainda ecoa o genocídio
:

As estrelas eram os olhinhos
das menininhas tapuias que as gentes viam na noite.
Apagaram-se as estrelas.
As indiazinhas, também.
Restaram os vagalumes, soluços de luz,
Uauás (so)lucilantes.


Rio-abaixo,
mais adiante
era Canudos, Bello Monte,
à jusante
do velho Vaza-barris...
Era Canudos, num é mais.
Nosso Senhor assim quis...


Lá, meus irmãos, no entanto,
já não brilham pirilampos, como brilham por aqui
:
Furaram os olhos dos santos
e inundaram a Matriz...






Eurico
"em viagem, metonímica e sinestésica, pelos sertões"

Fonte da imagem:
Pirilampos

NATUREZA-MORTA COM CAJU (linossignos sobre papel sulfite)


Busco-
me, frágil e
p
ê
n
s
i
l
infrutescência,
a casca mascarada,
o broto ácido,
p
i
n
g
e
n
t
e
e FLÁCIDO;
IN/tensa realidade macerada,
ranço e nódoa,
que se me
e
s
c
o
r
r
e
peloscantosdalma.
Onde estou frondoso?
Em que sítio de mim sou Eu e eterno...?
Maturi-pêndula
in/ventos sazonais,
Oscilo ao Tempo,
invento cajuais.
Des/fruto
aquém,
a
Q
U
E
D
A
além,
o NADA...
ou a sempiterna seiva nacarada?



Eurico
poema datado de 05/02/97


A imagem é a capa do Eu-lírico nº 11/1997
desenho do artista-plástico
Eugenio Paxelly

quarta-feira, março 16, 2011

M'BOIÚNA (sete serpes-linossígnicas)

Medusa
( imagem Google)



Desdobra-se em dobras, redobras,
por vértices e vórtices,
um ser de mil bocas
mil línguas
[in/tensa-cobra-mítica]

Quando,acuada, estertora prosódias,
                                            [sucuri-fônica]

Debate-se em rimas, plurirrimas assimétricas
    [áspide-rítmica]  .................................................

Tenta escapar do cerco
             [serpe-sintática]

                               Enrosca-se sobre si
[jibóia-morfológica]

Estruge, ruge,
                                 [anaconda-simbólica]

                                 Engole a própria cauda
[m'boiúna verbofágica]


E reverbera em verbos
...semióticos guizos...

 [linossignos ]

        guizos...
                                             [linossignos]
                                                                                    guizos...
                                                                          [..................]
                                                       
                                                                 guizos...           
                                                                                                  
                                                                                              [...p o e s i a...]                     






Fonte da imagem:
http://www.tonomundo.org.br/

segunda-feira, março 14, 2011

POEMA DE CIRCUNSTÂNCIA

Assis Freitas

Poeta e escritor, idealizador do blog 1001 poemas.
Feira de Santana, Bahia, Brasil











Com um meta-Poema deste Poeta com P maiúsculo,
o Eu-lírico celebra o Dia da Poesia (com deleitoso espanto):



4 - poema de circunstância


o poema não nasce torto
são as palavras que se
desconfiam unidas amiúde
e não satisfeitas
querem se fundir em espanto


poema postado por Assis Freitas às 08:45
sexta-feira, 16 de outubro de 2009

sexta-feira, março 11, 2011

A FUNÇÃO DIONISÍACA DAS RUAS (Carnaval, Clarice Lispector e Chico Buarque)

Rua do Sol e Av. Guararapes, em dia do Galo
(imagem Google) 


Retomo aqui, de impressionado que fiquei, a mesma epígrafe de Clarice:


“E quando a festa já ia se aproximando, como explicar a agitação que me tomava?
Como se enfim o mundo se abrisse de botão que era em grande rosa escarlate. Como se as ruas e praças do Recife enfim explicassem para que tinham sido feitas. Como se vozes humanas enfim cantassem a capacidade de prazer que era secreta em mim. Carnaval era meu, meu".

 Clarice Lispector



A função dionisíaca das ruas: essa foi a descoberta de Clarice Lispector. Nem Lúcio Costa, o arquiteto da cidade sem esquinas, tampouco o nosso Joaquim Cardoso, engenheiro e poeta, alcançaram essa iluminada antevisão. Mas só a menina Clarice, a mulher além do seu tempo, o ser humano perto do coração selvagem, só ela poderia perceber, liricamente, ou seja, com a abertura da emoção, a que se destinam as ruas de uma cidade.

Conheço bem essa agitação interior que antecede as festas de rua. E conheço isso, enquanto menino suburbano: De manhã, as senhoras recortavam bandeirolas e as iam esticando em cordões finíssimos, primeiro pelo chão, depois esticados nos postes, pelas varandas, em um colorido ziguezague. A rua ficava numa feliz agitação. Meu coração de menino disparava no peito. Era a festa chegando! Era dionisos!
Mas eu nunca saberia colocar palavras nessa alegria, sem ler Clarice. Sem ler o mundo-Lispector.

Hoje eu sei que o mundo se abre em botão, em alegre vermelhidão, em grande rosa escarlate. Nada há de mais lírica do que essa apreensão da realidade. E essa realidade, em que se agitava Clarice, era a festa: o carnaval.
Era a passagem dos cortejos animados, com o ruge-ruge dos anônimos foliões, nesse autêntico e ancestral entrudo, que o Recife preservou. E era nessa órgica cantata popular, que as ruas revelavam “a capacidade de prazer”, que em tantas mulheres era secreta, naquele começo de século XX.

E essa é mesmo a função das ruas: abrir passagem ao que está contido. Deixar fluir o povo, com suas emoções desabridas, flor sem redoma; o povo-fluxo, em dionisíacas pulsões. Uma função lírica, dionisíaca.

Salve, pois, a menina Clarice, que exsurge das reminiscências da Clarice adulta, para nos revelar o lirismo do carnaval, mesmo que o lirismo mais cru, mais selvagem e pagão.
Aliás, como conter essa torrente das ruas, como conter isso que, vida, flui?
Já dizia o poeta, nos versos da verdadeira catarse, que é o samba, Apesar de Você:



(...) Eu pergunto a você onde vai se esconder da enorme euforia
Como vai proibir quando o galo insistir em cantar
Água nova brotando e a gente se amando sem parar
(...)
Você vai ter que ver a manhã renascer a esbanjar poesia
Como vai se explicar, vendo o céu clarear de repente, impunemente?
Como vai abafar nosso coro a cantar na sua frente?(...)


 
Fonte do samba: http://letras.azmusica.com.br/Q/letras_quarteto_em_cy_35213/letras_otras_23823/letra_apesar_de_voce_1307465.html


Eurico, lírico, rsrsrs

Que se proibam os galos de cantar,
e o povo de frevar!!! rsrsrs

quinta-feira, março 10, 2011

Manifesto Lírico


















"Estou farto(...) de todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora de si mesmo.
(...) Não quero saber do lirismo que não é libertação."

(fragmentos de Poética, de Manuel Bandeira
)





Fora do lirismo não há libertação!
Urge, pois, uma civilização da ternura
em que crianças ainda possam nadar em água potável e pura.

Não estou a rimar, mera poética.
Urge, e é vital, uma civilização fra/terna e ética!

Tanatos, fascinante, invade a grande mídia
e um mundo em combustão põe risco à vida.
Resta-nos a lírica subversão.

Creiam-me, é essa inútil poesia,
essa, esquecida nas livrarias,
que é portadora da libertação.

Odes ao amor,
hinos à empatia,
cânticos à mais utópica utopia.
Só há subversão pelo lirismo.

Ouvidos moucos aos outros ismos:
Que solução nos trouxe o niilismo?

Lirismo, sim, mesmo que comedido.
Todo lirismo, inclusos os políticos:
lirismo dos que sonham com fraternos armistícios,
com um desarmamento, amplo, geral e irrestrito.

Lirismo pacifista e ecológico;
lirismo ingênuo e inútil, eis a subversão!

Na gentileza,
na cortesia,
no desapego, noblesse oblige,
em gestos mínimos,
do mais cotidiano heroísmo.

Não estou a rimar, mera poética.
Urge, e é vital, uma civilização fra/terna e ética!



Fonte da imagem:

quarta-feira, março 09, 2011

RUAS DO RECIFE (o que via Clarice Lispector da sua sacada?)







“E quando a festa já ia se aproximando, como explicar a agitação que me tomava? Como se enfim o mundo se abrisse de botão que era em grande rosa escarlate. Como se as ruas e praças do Recife enfim explicassem para que tinham sido feitas. Como se vozes humanas enfim cantassem a capacidade de prazer que era secreta em mim. Carnaval era meu, meu".


Clarice Lispector, ao recordar o carnaval de sua infância, na Praça Maciel Pinheiro- Recife - PE.


Clarice via um Recife bucólico e simples...
(Recife, 1940 - Revista Life)

 



E via a Pça. Maciel Pinheiro com a Matriz



Clarice via a fonte a jorrar sobre as ninfas de mármore...




Via o povo que passava frevando...



E criava um insólito mundo-escrito... 
'



Um mundo "que se abria de botão que era em grande rosa escarlate..."




Eurico,
(em momento de refazimento da folia...rs)


Fontes:


da foto Recife 1940:
http://aniziosilva.com/blog/vendedores-de-banana/


passista solitário
http://revistahost.uol.com.br/publisher/preview.php?edicao=0909&id_mat=2795


 praça maciel pinheiro com matriz
http://www.pousadapeter.com.br/indexfotos_praca_maciel_pinheiro_recife.htm


 praça maciel pinheiro com chafariz
http://www.flickr.com/photos/rodrigocantarelli/195454991/


 praça maciel pinheiro estátuas clarice de noite e dia
http://www.demetrioesculturas.com/2007/index.php?option=com_content&task=view&id=27&Itemid=29

MOMO, NOEL, SACIS E CRIANÇAS...




Partindo da falsa premissa de que Momo, um deus pagão, é quem arrasta as multidões no carnaval, muitos religiosos declaram o apocalipse, o armagedom e outras escatológicas hecatombes universais, como punição aos festejos que hoje findam. (Findam mesmo?)


Para os que brincam, como eu, de forma lúdica, pueril, sem dor de consciência, sem maldade ou violência; para os que levam suas crianças, cheias de encantadora alegria, para os pólos infantis; para os foliões de alma pura e serena, eu lhes confirmo o óbvio: Momo é pura fantasia.


Brinquei e creio ser essa a mais saudável forma de viver essa festa: brincar. Tenho pena dos superegões empedernidos, que ficam a tentar nos tolher, nos castrar, acenando com a ira divina. São eles os mesmos que endeusam o Papai Noel em plena festa dedicada ao Menino Jesus. E eu vos digo que Momo nem chega perto do Santa Claus, em matéria de ibope. Noel sim, é uma doideira. Uma carnavalização da festa cristã, baseada numa lenda que rouba toda a atenção que deveria ser do aniversariante.


Essa postagem vai endereçada aos que vivem de mau-humor, aos que não sabem mais brincar como crianças, ou que talvez nunca tenham brincado na vida. Vai mesmo para os muitos desavisados que acreditam que Momo é mesmo um deus e que existe ou existiu. Façam-me o favor. Momo é tão real quanto o Curupira ou o Saci-pererê. E tão inofensivo quanto as fadas e gnomos ou outros da espécie. Zeus, Hércules, Afrodite, e todo o panteão das “divindades” gregas, não passam de produtos da imaginação fértil ou das crendices e superstições daqueles povos.


Se alguns não podem brincar, por determinação médica, religiosa ou de outra natureza qualquer, guardem seus temores em seu próprio coração.


Não por acaso, um filósofo que questionava os pilares de nossa cultura ocidental, fez uma analogia interessante, entre o dever do camelo, o querer do leão e a inocência da criança. Grosso modo, ele anunciava o advento da criança como a condição para a transvaloração dos valores da nossa civilização. Lembra um pouco aquele “quem não se tornar como uma destas crianças não entrará no reino dos céus”, não é mesmo? A criança livre de todas as nossas ridículas crendices e lendas. A criança pura e plena. Sem medo do armagedom e sem pecado original. A criança e só.


Pois bem, brincar, brincar e brincar, com a ingenuidade das crianças. Eis a questão. Pular frevo, dançar samba e maracatu. E sem nenhuma crise de consciência. Afinal, Momo e Papai Noel são primos-irmãos de Hamlet, do Quixote e da Cuca, são filhos da louca da casa, fantasmagorias, criações da imaginação rsrsrs







Fonte da imagem:
http://afraniosoares.blogspot.com/

Fonte do texto:
Cultura Solidária

terça-feira, março 08, 2011

UM VIOLÃO SE CALOU...









Hoje não fui ver o meu querido bloco Batutas de São José, que desfilou sua alegria quase centenária, pela praça da Várzea, sob a batuta do meu amigo, o maestro Ceará. Também não pude dedicar um tempo às devidas felicitações pelo Dia da Mulher, para as florinhas do Capibaribe.
O motivo:
Ontem, pelo fim da tarde, calou-se um violão recifense. Calou-se um seresteiro e folião. Refiro-me ao senhor José Gonçalves dos Santos Filho, 69 anos, genitor de nossa amiga Érika Wiviane e da cantora Lila.
Deixo aqui uma homenagem ao velho violonista que partiu, cujo corpo físico semeamos em Santo Amaro das Salinas.
Que sua alegria volte, em breve, ao seio da família Gonçalves.
Que os acordes de seu instrumento ecoem na afinada voz de contralto de Lila, a caçula das mulheres.
Que os céus se alegrem com boa música, nesse último dia de carnaval, para recebê-lo na confraria dos amigos seresteiros, que por lá, decerto, já o aguardavam.


Fonte da imagem:
http://maitheboggo.blogspot.com

domingo, março 06, 2011

O incêndio na sede do Pirilampos de Tejipió

Imagem PE360graus - 10/08/2010




Os bombeiros combateram um incêndio no bairro da Boa Vista, área central do Recife, na madrugada desta terça-feira (10). O fogo atingiu a garagem de uma casa, que fica na rua Padre João Ribeiro. Fantasias e adereços do bloco Pirilampos de Tejipió foram destruídos.

O presidente do bloco, José Dias dos Santos, mora no primeiro andar da casa, que não foi atingido pelo incêndio. Em poucos minutos, o fogo destruiu o carro da família e tudo o que estava na garagem, inclusive as fantasias e os adereços do bloco.
Fonte da notícia:
http://pe360graus.globo.com/noticias/cidades/acidente/2010/08/10/NWS,518515,4,94,NOTICIAS,766-INCENDIO-DESTROI-FANTASIAS-ADERECOS-BLOCO-PIRILAMPOS-TEJIPIO.aspx



No carnaval do ano passado, eu vi Pirilampos de Tejipió. Fiquei muito desolado com aquela cena tão triste. Aquele bloco afamado, evocado por Edgard Morais, em seu frevo "Valores do Passado", passou sem brilho pela Praça da Várzea. Nós, do bloco Flores do Capibaribe, que estávamos ali só pra vê-lo passar, quase entramos na passarela para ajudar os Pirilampos. Foi uma consternação geral.  Era o Pirilampos resistindo ao incêndio em sua sede, e vindo às ruas do jeito que deu. Valeu pela resistência!


Pra quem não sabe, Pirilampos foi criado pelo mesmo organizador do Apois Fum, o jornalista, Guilherme de Araújo. E, dos dois blocos antigos, por ele criados, Pirilampos é o único que resiste até hoje. Sua sede já não é no distante subúrbio de Tejipió, mas no centro da cidade, no Bairro da Boa-Vista, onde se deu o incêndio, ano passado.
É preciso que se faça um movimento político-cultural para cuidar dos blocos centenários dessa cidade. Batutas de São José enfrenta uma difícil crise, com questões trabalhistas de gestões passadas atravancando sua vida. Inocentes e Madeira, ambos do Rosarinho, ninguém mais viu?
Por isso, a comunidadade dos amantes dos blocos líricos precisa fazer pressão junto aos órgãos públicos da cultura. Providências urgentes devem ser tomadas, em prol da preservação dessas agremiações, que fazem o que há de mais poético (e pacífico) no carnaval em Pernambuco.


O Governo do Estado tem ajudado os times de futebol, com o Programa Todos com a Nota. Por que uma fatia dessa verba não é destinada ao carnaval das pequenas troças, maracatus, bois-bumbás, laursas e blocos líricos, principalmente aos mais antigos e tradicionais, que sobrevivem da ajuda de uns poucos abnegados?


Deixo o meu apelo por essas humildes agremiações populares, que fazem o verdadeiro carnaval de rua de Pernambuco. São elas que trazem a diversidade de ritmos e de cores, de cultura, que fizeram a Prefeitura do Recife, em lance de marketing, denominar o nosso carnaval de multicultural. Multiculturais sempre foram todas as manifestações da gente pernambucana. Da música aos folguedos. Da fé ao carnaval. 
Sem essa diversidade de grupos populares morreriam os brincantes, morreriam as tradições e nos restariam apenas o ribombar dos trios elétricos, que hoje invadem a cidade, com música ruim e sem as autênticas raízes pernambucanas.
Salvemos os genuínos blocos líricos e as nossas troças e clubes de carnaval, expressões ancestrais de nossa cultura e de nossa identidade!



Fonte da postagem:
Cultura Solidária

sábado, março 05, 2011

É O GALOO!!!

Imagem da Band


Desde 1979 que vou ao Galo.
Bem, faz 2 anos que não posso estar lá, no meio do povo.
Mas saúdo, de cá do meu cantinho, a multidão
de foliões que brinca o dia todo
no maior Clube de Máscaras do planeta.
Viva o Galo!!!


Fonte da imagem:
http://www.band.com.br/bandfolia/conteudo.asp?id=100000407054

sexta-feira, março 04, 2011

TEMPOS DO APOIS FUM (marcha-de-bloco)

Um bonde na Praça da Várzea




Dizem que nas ruas lá da Torre
havia samambaias verdes e um rio de águas limpas,

mangueiras nos quintais;   
Que os chorões, voltando da noitada,
dedilhavam em serenata, bandolins e banjos...

Que era um tempo dos trolleys urbanos,
velhas maxambombas, bondes,
casas suburbanas com
cadeiras na calçada;

Tempo das batalhas de confetes,
ternos brancos, cravos, leques,
foliões no corso...
Arlequins,
Pierrots,
Bobos, Palhaços, Bufões, Dominós:

Tempos do Apois Fum.


Eurico,
(ainda sob a inspiração dos blocos líricos...)



Fonte da imagem:
http://cafehistoria.ning.com/photo/recife-pe-bonde-eletrico-1924?context=latest

terça-feira, março 01, 2011

O FUNDADOR DO APOIS FUM - por Eustórgio Wanderley

Pierrots mirins


Não se extingüiram, de todo, os ecos do carnaval, quando eu focalizei o tipo popular de Osvaldo de Almeida, o criador do neologismo "frevo" no carnaval pernambucano.

Agora cabe a vez de um não menos popular tipo, como o primeiro, repórter, e carnavalesco, figura que ficou inesquecida, pois, ainda hoje, é recordada com saudade pelos colegas de imprensa e pelos que com ele privaram, quer nos meios carnavalescos dos clubes pedestres e "blocos", quer nos meios forenses, pois ele era também uma espécie de rábula, procurador em diversas causas.

Trata-se de Guilherme Araújo. Muito inteligente e empreendedor, desenvolvia grande atividade, embora seu cultivo intelectual fosse bem reduzido, não passando de um ligeiro curso primário.

Sua sagacidade, entretanto, supria quaisquer outras falhas, sendo maneiroso, delicado, sabendo tirar partido das situações em que se encontrava, não deixando – a quem não o conhecesse bem – aquilatar o seu preparo mental.


No Jornal Pequeno

Por muitos anos trabalhou no Jornal Pequeno, onde fazia a reportagem marítima e a da polícia, mostrando-se competente pela longa prática do metier como dizem os cronistas mundanos.

Dando notícia das partidas dos navios do nosso porto, simpatizou ele com o verbo zarpar com que iniciava os períodos assim:

"Zarpou ontem para a Europa o navio tal..."

"Zarpa hoje para o Rio"...

O diretor do jornal reparou naquela chapa e, certa vez, lhe disse:

- Ó, seu Guilherme! Você não conhece outro verbo sem ser zarpar com que noticia a partida dos navios?

- Conheço, sim, senhor!

- Pois trate de empregá-lo porque, do contrário, quem acaba zarpando daqui é você. Está entendendo?

- Estou, sim, senhor!

E o Guilherme ficou a pensar em outro verbo... Dois dias depois partia um navio para o Norte e ele, pensando haver resolvido o problema, escrevia:

"Amanhã zarpará para o Pará, o vapor Pará..."

O Dr. Tomé Gibson, ao ler aquela séria cacofônica de paras e parás não pôde se zangar, porque desandou a rir... sem parar também.


Jornalzinho carnavalesco

Certa vez lembrou-se o Guilherme de editar um jornalzinho carnavalesco de propaganda comercial. Como era muito estimado no comércio, não lhe foi difícil angariar anunciantes que, não só custeavam a impressão do jornal, como ainda lhe proporcionaram razoável lucro.

Intercalava, nos anúncios historietas, anedotas, versos, epigramas etc. Durante vários anos publicou seu jornalzinho com êxito crescente.


O Apois Fum

Havia naquele tempo um gazeteiro, (o que no sul chamam jornaleiro, vendedor de jornais) apelidado Fon-fon, não porque vendesse a revista carioca de igual nome, e sim, porque tinha o lábio superior e o véu palatino fendidos, a que chamam lábio de lobo, o que o impedia de pronunciar bem certas sílabas, dando, a quase todas as consoantes o som de F. Quando se lhe dizia qualquer coisa de que ele duvidasse o Fon-fon tinha o costume de replicar:

- Apois fum! Quando o que ele pretendia dizer era: - Pois sim...

O Guilherme de Araújo aproveitou o dito, que se tornou popular, e organizou um bloco carnavalesco de muito sucesso no Recife, não somente pelo grande número de moças e de rapazes de que se compunha, como também por exibir um sugestivo carro alegórico, o que era uma inovação entre os blocos de carnaval na época.


Quem não cheirou levante o dedo!...

Na estação do Brum, da antiga Great Western, era visto um vendedor ambulante de perfumes que, enquanto o comboio estava parado, aguardando a hora da partida, percorria os carros com um vidro dos seus perfumes, desarrolhado na mão, dirigindo-se, delicadamente, aos passageiros:

- O cavalheiro dá licença?...

E, antes que a licença fosse dada, ele passava, de leve, no dorso da mão do passageiro, a rolha do vidro umedecida no perfume, solicitando:

- Por obséquio, queira cheirar e depois me diga se não é puro Houbigant de Paris.

Assim, percorria toda composição e, ao regressar, pelo mesmo caminho, entre os bancos dos vagões, ia procurando vender seu produto, ao mesmo tempo que indagava:

- Quem não cheirou levante o dedo!...

O dito pegou, ficando como pilhéria carnavalesca: O Guilherme se aproveitou do caso e me pediu que escrevesse a letra e a música de uma pequena marcha carnavalesca para ser cantada pelos componentes do Bloco Apois-fum, o que fiz com grande prazer para o seu irrequieto diretor.


Seu tipo físico

O Guilherme era de pequena estatura, mais ou menos gordo, com o ventre saliente. Moreno, de lábios carnudos e roxos, os cabelos muito crespos e castanhos claros, partidos ao meio. Olhos verdes e bigodes à kaiser, como estava na moda. Era ele o que se costuma chamar de alaranjado. Fumava vastos charutos. Sempre elegantemente vestido, ostentando altos colarinhos duros, mirabolantes gravatas e não menos estupefacientes coletes, o Guilherme calçava botinas de polimento, abotoadas ao lado, tendo a gáspea cinzenta ou marron clara.

Um grande emotivo, amava a família com desvelo, procurando cercá-la do maior conforto, para o que adquirira no Barro, subúrbio do Recife, uma aprazível vivenda.


O coração o matou

Uma tarde, no quarto onde havia um oratório com imagens de santos, uma vela acesa, caindo sobre a toalha que forrava o altar, incendiou-o. Ao divisarem o clarão do incêndio, gritaram:

- Fogo! Fogo!... A casa está se incendiando!...

O Guilherme corre para extingüir as chamas que ameaçavam, se propagar por todo o prédio. Depois de grande luta foi dominado o perigo. O esforço, porém, que ele fez foi sobre-humano para o seu coração já afetado de miocardite.

Dias depois, sentindo-se mal, declarou:

- Cheguei ao fim!...

Serenamente fechou os olhos e adormeceu. Adormeceu para não mais despertar, como o fazia cedo, diariamente, para ir à sua labuta no Jornal Pequeno e na Polícia Marítima, noticiando os passageiros que chegavam e os navios que zarpavam...

Pobre Guilherme de Araújo! Foi um lutador e um bom!


(WANDERLEY, Eustórgio. Tipos populares do Recife antigo)

Fonte da postagem
http://www.jangadabrasil.com.br/marco19/pa19030b.htm

SOBRE EUSTÓRGIO WANDERLEY


Eustórgio Wanderley nasceu no dia 5 de setembro de 1882, na cidade do Recife, PE, onde estudou e morou durante quase toda sua vida. Adulto, dedicou-se ao jornalismo, atuando no Diário da Manhã e no Jornal do Recife.

Dando vazão aos seus pendores musicais, foi parceiro de Nelson Ferreira em diversas valsas e canções, sendo um dos primeiros pernambucanos a participar, pelo selo da RCA – Victor, da discografia brasileira, através de suas cançonetas que fizeram muito sucesso, como A pianista, O almofadinha e A melindrosa.

Durante o tempo que morou no Rio escreveu no Correio da Manhã, em A Noite Ilustrada, no Jornal do Brasil e em O Malho.


Em 1909 compôs a versão mais e picante e maliciosa da polca No bico da chaleira (a primeira versão foi escrita por Juca Storoni também no mesmo ano), gravada na Casa Edison pelos Os Geraldos.


Poeta, teatrólogo, foi membro da Academia Pernambucana de Letras e do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico de Pernambuco.


Quando residia no Recife, publicou em dois volumes, Tipos Populares do Recife Antigo (1953/54).


Faleceu no dia 31 de maio de 1962, no Rio de Janeiro.

Fonte da mini-biografia:

http://cifrantiga2.blogspot.com/2008/02/eustrgio-wanderley.html


Postagem transcrita do Sítio d'Olinda

O BLOCO LÍRICO APÔIS FUM - por João Montarroyos



BLOCO APÔIS FUM: O LIRISMO E A OUSADIA DE MOMO*

João Montarroyos**
Professor, escritor e pesquisador



Até a década de 1920, os carnavais do Recife aconteciam ao sabor das evoluções dos clubes pedestres, os quais geralmente representavam algumas profissões durante o período de momo. Entre os principais, pode-se citar o Vassourinhas, o Empalhadores, o Toureiros e o Batutas de São José, o Caiadores, o Clube das Pás, que até hoje povoam os nossos corações de paixão e saudosismo.

A partir daquela década, contudo, o carnaval recifense irá se abrilhantar de emoção e cores que somente os blocos carnavalescos, aos quais chamamos “blocos líricos”, puderam proporcionar ao folião. Surgidas a partir dos cordões de isolamento onde podiam desfilar as senhoras e senhoritas da época, tais agremiações vingaram graças ao sentimentalismo já impresso pelos presépios, onde as mulheres cantavam e os homens tocavam somente seus instrumentos de pau-e-corda, como sejam os bandolins, violões, pandeiros, etc., admitindo, quando muito, além disso, uma gaita de sopro. Os Irmãos Valença (João e Raul) tiveram fundamental importância em tal processo, pois era muito famoso o presépio que mantinham no Casarão da Madalena, no sítio dos Valença, uma tradição herdada de seus avós.

Assim, como não aprazia às senhorinhas frequentarem o carnaval dos clubes pedestres, tais grupos cantantes acabaram fundando os blocos de rua, uma extensão de seus elegantes saraus.

Os versos da marcha Último Regresso, de Getúlio Cavalcanti, nos dão bem uma dimensão desta verdade (grifo do autor):

É lindo ver
O dia amanhecer
Com violões e pastorinhas mil,
Dizendo bem
Que o Recife tem
O carnaval melhor do meu Brasil!

Vários foram os blocos daquela década áurea do carnaval pernambucano: o Bloco das Flores (o primeiro a se formar), Flor da Lira, Andaluzas, Pirilampos, Crisântemos, destacando-se especialmente, entre eles, o bloco Apôis Fum, uma vez que sua estréia realmente viria a mudar os rumos dos carnavais de então. Aquele primeiro já se chamara, dois anos antes, Bloco das Flores Brancas. Com sede na Praça Sérgio Loreto, à Rua Imperial, na residência do capitão Pedro Salgado, tinha por maestro o Príncipe Raul Morais, compositor e regente de sua marcha regresso.

Contrariando o que normalmente cita a maioria dos pesquisadores do gênero, o bloco Apôis Fum, originário da Torre, foi efetivamente fundado em 1923, e não em 1925 (chegando-se ainda a afirmar, absurdamente, o ano de 1929), conforme se pode depreender da edição do Jornal Pequeno, de 2 de fevereiro de 1923: “APÔIS FUM – No próximo domingo, a Torre estará pelo avesso, segundo profetizou o Raymundo da Elite. É o dia do ensaio batuta do batuta mestre Felinto com os seus meninos da orquestra Apôis Fum, que vai constituir a nota carnavalesca [...]”. Em número do Jornal do Commercio, de 4 de março de 1924, o Apôis Fum é citado, para não restar mais nenhuma dúvida quanto ao ano de sua fundação, como associação que se exibia naquele carnaval “com igual denominação desde o ano passado”, referindo-se ao carnaval do ano anterior, portanto o de 1923.

Os torreanos, aliás, sempre souberam dignificar a folia, dali saindo grandes agremiações, como foi o Um Dia Só, fundado pelo Prof. José Severino Calazans, regente dos coros das Igrejas Batistas da Torre e de Iputinga. Também fundou uma escola de primeiras letras na Rua Belarmino Carneiro. É de sua autoria a marcha de saudação aos grandes blocos da época, entre eles o Apôis Fum:

Em saudação sincera, o Bloco Um Dia Só,
A estes blocos tão apreciados,
Saúda todos com ouro em pó.
A todos desejamos, prazer e simpatia,
Vitória inconteste, que o povo ateste com alegria.


Um dia Só ainda chegou a ser Campeão da Cidade, mas, depois de dois anos de existência, desfez-se, por dissensões, surgindo daí um novo bloco, o Bobos em Folia, que logo teve por rival o sapeca Sabido Não Grita.

Infelizmente, é na Torre que ainda lembramos d’ A Dor de Uma Saudade, marcha composta por Edgar Morais em homenagem ao seu mano Raul, que viria a falecer em 8 de setembro de 1937, na Rua do Cailigeiro, hoje denominada R.Dom Manuel da Costa, no mesmo bairro.

Mas Edgar Morais também compôs marchinhas bem alegres, embora sem nunca abandonar o espírito saudosista, como se percebe em sua marchinhaValores do Passado:

Blocos das Flores, Andaluzas, Cartomantes,
Camponesa, Apôis Fum e o Bloco Um Dia Só.
Os Corações Futuristas, Bobos em Folia,
Pirilampos de Tejipió.
A Flor da Magnólia,
Lira do Charmion, Sem Rival,
Jacarandá, Madeira da Sé,
Crisântemos, Se Tem Bote e Um Dia
De Carnaval [...].

O Apôis Fum formava um bloco de notáveis, tendo em suas fileiras títulos de honraria militar que conferiam distinção social, adquiridos à Guarda Nacional, como ocorria com o capitão Fenelon Albuquerque e o coronel Francisco de Sá Leitão, seu presidente de honra. À frente das finanças, o então respeitado comerciante da praça, Raymundo Silva, proprietário do Salão Elite, o que lhe valeu o apelido de Raymundo da Elite. O seu principal representante, contudo, viria a ser o carnavalesco Felinto de Morais (um dos maiores violonistas da época), todos homenageados na composição do saudoso maestro Nelson Ferreira, Evocação nº.1 (1957):

“Felinto/ Pedro Salgado/ Guilherme/ Fenelon/ cadê seus blocos famosos: Bloco das Flores/ Andaluzas/ Pirilampos/ Apôis Fum/ dos carnavais saudosos! [...]”. (grifos do autor)

Embora nascidos em bairros distintos, era comum a muitos clubes possuírem sua sede em locais centrais, mais privilegiados em relação à freqüência popular. Foi assim, também, com o Apôis Fum: no ano de sua fundação, em fevereiro de 1923, o bloco instalara-se, “desde o sábado gordo até a 4ª feira, no confortável prédio, nº.39, à Rua da Imperatriz, tendo este firmado contrato com a Mme. Baldi, que ali mantém um salão de danças.” Também já se instalou na Rua Nova, sobre a famosa Confeitaria Crystal, ponto de grandes eventos da cidade e onde seis anos depois seria assassinado o então governador do estado da Paraíba, João Pessoa de Albuquerque, deflagrando-se a partir daí a famosa Revolução de 1930.

Seus ensaios, contudo, eram sempre realizados na Rua José Bonifácio (antiga Rua do Rio), no bairro da Torre, na residência do ilustre Sá Leitão – em local hoje correspondente ao prédio confronte ao SESI do mesmo bairro – de onde a famosa agremiação saía em préstito para saudar os seus concorrentes e o público em geral, notadamente a imprensa. Antes de qualquer apresentação, porém, o bloco subia a rua até as margens do imponente Capibaribe – em cujo leito iam rebolando suas águas, ao som da alegre fanfarra –, dali retornando para ganhar as ruas principais do bairro. Muitas vezes reencontravam-se, o bloco e o rio, em confraternização no centro do Recife, de onde as águas retomavam o rebolado da farra, para depois quedarem-se, exaustas, nos braços do mar.

Tais seções eram sempre muito apreciadas pelo público do bairro, que para ali acorriam em êxtase, como vemos por ocasião de seu primeiro ensaio, no dia 4 de fevereiro de 1923, um domingo de prévias carnavalescas: “Foi um sucesso o ensaio, ontem, da pesada orquestra Apôis Fum, bloco composto por famílias, senhoritas e rapazes da Torre. A casa do Sá Leitão foi invadida por uma onda polvorosa, onde todos faziam o passo do cavalo-do-cão não é aeroplano.” A prévia durou dez horas, iniciando-se o ensaio ao meio dia daquele festivo domingo, encerrando-se somente às 22 horas do mesmo dia. Ali já se marcara novo ensaio para a quarta-feira seguinte, acertando-se a quinta-feira para uma apresentação à imprensa, na Praça da Independência, às oito da noite, em frente ao Salão Elite, do tesoureiro Raymundo.

A apresentação à imprensa foi fantástica, como fantástico já se mostrava aquela danação do Apôis Fum, um bloco que viera para marcar, definitivamente, os carnavais recifenses. Às oito e meia, o povo já se exasperava no frevo, logo servido de farta mesa de bolinhos e “sandwichs, regalados à cerveja Antarctica e Teotonia”. Depois de muitos discursos, saudações e “mil vira-voltas”, o bloco voltou ao Elite, e lá permaneceu até a hora do regresso, que se deu às onze da noite.

No domingo de carnaval daquele ano, o Apôis Fum conquistava, de uma vez por todas, as ruas do carnaval recifense; trazia como destaque um carro alegórico que representava um bloco de neve, onde se postava sua porta-estandarte, uma bela jovem. Sua saída se deu às 15h, deixando a sede da Imperatriz para percorrer os principais pontos da cidade, visitando a ponte da Boa Vista, Rua da Concórdia, Campina do Bode (atual Cinco Pontas, no bairro de São José), Av. Lima Castro (atual R. Imperial), Praça da Independência, oPalácio do Governo, para depois retornar a sua sede, à Rua da Imperatriz. A sua inolvidável orquestra era composta de 24 violões, 6 cavaquinhos, 3 trombones de vara, 2 flautas, e reco-recos, 2 ganzás, 2 bombardinos, 2 bombardões, 1 saxofone, 2 surdos, 1 flautim, 3 pandeiros, 2 clarins, à frente o boêmio Felinto de Morais. Comandando os instrumentos de cordas, tanto quanto os de sopro, o Prof. José Lourenço da Silva, o Zuzinha, regente da Banda de Música da PMPE.

O carnaval seguinte, no ano de 1924, representou a verdadeira apoteose do bloco Apôis Fum. Nesse ano, a imprensa, pelo Jornal do Commercio, promovia um concurso para premiar os destaques do carnaval. O Jornal do Commercio inaugurava sua Seção Carnavalesca, atraindo várias casas comerciais para a doação de prêmios a serem conferidos aos melhores daquele período momesco. Os agentes da Ford, aqui no Recife, por exemplo, premiariam os dois automóveis que melhor se apresentassem no corso, desde que tivessem a marca Ford e pneus Goodyear.

Aquele fora um dos mais concorridos carnavais da cidade, impregnado de alegres clubes, tais como Dragões de Momo (S. José), Jacarandá (idem, fundado por Raul Morais), SeTem...Bote (Torre), Pyrilampos (Tejipió), Lobos de Afogados (Afogados), Philocríticos de Campo Grande (Campo Grande), Os Inocentes (Paulista), Andarilhos do Feitosa (Feitosa, atual Hipódromo), Apronta a Coisa que Eu já Chego (idem), Chora para Mamar (Av.Lima Castro, atual R. Imperial), Brinca Quem Pode (Casa Amarela – Av.Norte), e muitos outros alegres bandos recém-fundados. Num lapso de discriminação, os negros também se misturavam a tais empreendimentos, apresentando igualmente suas luxuosas fantasias, de ricos bordados e farto simbolismo.

A elite procurava os salões do Clube Internacional (à época ainda localizado na R. da Aurora) – cujos estatutos foram aprovadas em Assembléia Geral de 6 de outubro de 1895 – ou o Club Allemão, que teve nesse ano a sua sede improvisada em um navio – o DEKAPE – ancorado junto à ponte da Torre, ali realizando, a 10 de fevereiro, o seu “brilhante festival”.

Nada estancava a farra. Fartamente anunciada pelos jornais, a previsão de muita chuva, ao contrário do temor de repetição das recentes enchentes – como o Capibaribe a saltar de seu leito para misturar-se aos brincantes – provocou até um concurso de glosas, de onde podemos extrair a seguinte:

[...]
Momo de capa, galocha
E guarda-chuva? Não vai!
Como acender suas tochas,
Se a chuva abundante cai?
Como o frevo à rua sai?
[...]

Festa depreciada pela Igreja, nem os padres escaparam da língua ferina dos foliões:

Até os frades do convento
Na cela se sentem mal...
Eu digo, juro e sustento:
Eles, só por fingimento,
Não gostam do carnaval.

O grande poeta pernambucano Austro Costa também não deixava escapar uma alfinetada e disparava, mexendo nos dois institutos que mais apaixonam o povo pernambucano:

Não sei se devo ou não devo
Dizer, mas, digo, afinal:
Se até Roma fosse o frevo
Teria bênção papal.

Considerado um dos mais finos da cidade, o bloco Apôis Fum tinha a sua coreografia e decoração a cargo do mestre Eustórgio Wanderley, professor de Artes da Escola Normal do Estado. Seu quadro de maestros, compositores e coro destacava-se pelas figuras relevantes do velho Raul Morais, grande compositor de marchas para blocos, hoje um imortal da música carnavalesca;Augusto Calheiros – o Patativa do Norte - ; José Lourenço da Silva, o Zuzinha, regente da Banda de Música da Polícia Militar de Pernambuco, além dos irmãos Luperce e Romualdo Miranda, que depois viriam a compor o conjunto Turunas da Mauricéia, juntamente com Augusto Calheiros (voz), João Frazão (diretor e violão), o cego Manuel de Lima (violão), e o irmão João Miranda (violão), fazendo grande sucesso suas apresentações no Rio de Janeiro.

Outro famoso maestro daquela década, Miguel Barkokebas, também compôs parte do repertório do bloco, como a marchinha Esse Bloco é Meu, embora assinasse com o pseudônimo João Sem Nome, talvez devido às estreitas relações com a Paróquia de Nª.Srª.do Rosário, da Torre, para quem compunha os hinos religiosos apresentados todos os domingos na missa das 9h. Viria a falecer em 14 de agosto de 1978, mas deixaria o registro de seu encanto pelo Apôis Fum:

[...]
Olhem bem o nosso bloco,
Que é o rei do frevo e o rei do passo.
Nem Pierrô, nem Colombina,
Nem Arlequim e nem Palhaço.
Preto e branco se irmanam
Esquecem tudo, dão-se o braço,
Nesse entrudo do Recife
O rico e o pobre estão no no passo.


Finalmente, em 26 de fevereiro, o Jornal Pequeno registrava a saída do bloco, “da Torre para o Recife, em bondes especiais, para apanhar o seu estandarte de honra (flabelo) em casa de um sócio de destaque, na Av. Conde da Boa Vista, sendo homenageado depois por moradores da Rua dos Pires, dali seguindo para a Praça da Independência”, onde participou de animada festa com queima de morteiros de fabrico alemão. Bastante apreciado, o bloco logo conquistara as graças do povo pela simpatia de seus adereços e a vibração de seus componentes. Ganhou o primeiro lugar entre os Clubes de Críticas, recebendo a TAÇA JORNAL DO COMMERCIO, oferecida pela empresa J. L. Krause & Cia.

O Bloco das Flores, grande campeão em 1923 e principal concorrente do Apôis Fum, mereceu apenas menção honrosa, cabendo-lhe uma minoria de votos entre os membros da comissão julgadora. Pedro Salgado, seu presidente,esperneou, mas não levou, indignado por manter o novo campeão “particularidades formuladas como incompatíveis ao característico do bloco.” Referia-se, principalmente, à sua orquestra de metais, justamente o que mais impressionara a multidão de momo. Esbravejou: “Eu tenho um bloco e não um clube de carnaval...”, e retirou-se do carnaval.

Daí por diante, o Recife viveu carnavais como nunca antes se apresentara, diante do espírito de concorrência que se criara entre as agremiações.
O Apôis Fum imortalizara-se sempre se destacando como principal agremiação e levando aos foliões alegria que só nos seus acordes encontrava o melhor dos blocos líricos, tradição que hoje se renova pelas velhas ruas dos carnavais saudosos.


Recife, 6 de fevereiro de 2009.


FONTES CONSULTADAS:
AMORIM, Leny. Música e Músicos de Pernambuco. Recife: Ed. do Autor, 2006.
Diario de Pernambuco, Recife, 14 abr. 1993. [Fundaj/Fonoteca]
Diario de Pernambuco, Recife, n. 66, 1916. [APEJE, R.do Imperador]
ESTATUTOS do Clube Internacional do Recife, 1895. [BEP]
Jornal do Commercio, Recife, 4 mar. 1924. [Fundaj/Microfilmagem]
Jornal do Commercio, Recife, 5 fev. 1924. [Fundaj/Microfilmagem].
Jornal do Commercio, Recife, fev. 1925. [Fundaj/Microfilmagem]
Jornal Pequeno, Recife, 2 fev. 1923. [Fundaj/Microfilmagem]
Jornal Pequeno, Recife, edições fev./mar. 1924. [Fundaj/Microfilmagem]
LIMA, Cláudia. Evoé. História do Carnaval: das tradições mitológicas ao trio elétrico. Recife: Ed. Raízes Brasileiras, 2001.
MAIOR, Mário Souto; SILVA, Leonardo Dantas (Org.). Recife: Fundaj, Ed.Massangana, Recife, 1991.
MÁRIO FILHO. O teu cabelo não nega. A história carnavalesca dos grandes poetas João e Raul Valença. Recife: Rádio Capibaribe do Recife, 1992. [Fundaj/Fonoteca]
OLIVEIRA, Waldemar de. Frevo, capoeira e passo. Recife: CEPE, [19--?]. p. 15.
REAL, Katarina. O Folclore no Carnaval do Recife. Rio de Janeiro: Min. Educ. e Cult., 1967.
SILVA, Leonardo Dantas (Org.). Raul Moraes. Repértório variado. Recife: Ed.Massangana, 2003.
SILVA, Leonardo Dantas (Org.). Um sonho de folião. Recife: Ed.Bagaço, 1996.



FONTES ORAIS:
MAESTRO Edgar Morais. Entrevista à TV Universitária do Recife, 8 ago. 1973. [Fundaj/Fonoteca].
DEPOIMENTOS de Toinho Valença, filho de João Valença; Baltazar Valença, filho de Raul Valença. Sítio dos Valença, Madalena, mar. 2006.




COMO CITAR ESTE TEXTO:
Fonte: Montarroyos, João. Bloco Apôis Fum: o lirismo e a ousadia de momo. Pesquisa Escolar On-Line, Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Disponível em: . Acesso em: dia mês ano. Ex: 6 ago. 2009.


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* Texto inédito em publicações sobre o bloco Apôis Fum e faz parte do livro Uma Década de Ouro no Carnaval do Recife, do mesmo autor, a ser lançado em AGO/2009. Direitos autorais reservados.
** Professor de História, escritor e pesquisador de História Social de Pernambuco. Premiações: Bloch Editores / CEF - Monografia Érico Veríssimo (1978); Menção Honrosa FJN (1980); ALEPE – Monografia Pereira da Costa (2001). Desenvolve ao longo dos últimos cinco anos projeto particular de Educação Patrimonial, levando o discente a descobrir e conhecer o conjunto histórico material e cultural do Estado.


Fonte desta postagem:
http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/index.php?option=com_content&view=article&id=472&Itemid=181

Fonte da imagem:
http://www.lainsignia.org/2008/febrero/cul_002.htm

P.S.:
Miguel Barkokebas, ao ler seu nome nesse artigo bateu saudade. Era o meu velho professor de canto orfeônico, naquele centro de excelência em ensino público, que era o meu querido Ginásio Pernambucano, nos idos de 1968.
Saudades, Mestre.
Devo-lhe parte de minha formação musical e artística.
Obrigado.

(Eurico - 01/03/2011)

Transcrição de postagem do Sítio d'Olinda