Uma Epígrafe



"...Quanto à poesia, parece condenada a dizer apenas aqueles resíduos de paisagem, de memória e de sonho que a indústria cultural ainda não conseguiu manipular para vender."...[Alfredo Bosi, in O Ser e o Tempo da Poesia, p. 133]

quinta-feira, novembro 25, 2010

TERCEIRO OLHO (renascimento)



Hubble
imagem recolhida do Google


Ver não é apenas compilar
pontos desconexos, pixels,
varreduras de imagens por segundo.
Ninguém vê apenas com os olhos.
Esses mesmos olhos com que se está
à mesa da cozinha a cortar cebolas
e a chorar lágrimas sem nexo.
Ver vai além do apenas ver.
Interpreta-se assim que se olha,
se é cebola ou emoção,
o que arde nos olhos.
E o conceito já vem atado à coisa que se vê.
Por isso, acautelai-vos com o visual.

(Bom seria fechar os olhos por minutos
ou passar os dias longe dos televisores.
Há muito o que se ver na própria tela mental.)

Imaginem:
A Poesia é um imenso nascedouro de imagens.
Hubble às avessas.
Ôlho pra dentro.
Muito dentro,
em regiões abissais.
Dentro de mim,
o riso distraído e indene
de uma criança revolvendo a Terra.
A bola colorida e um pátio: o espaço.
Um poço com roldana.
Um olho que me olha no centro imemorial da noite.
A hera.
As eras.
Estrelas, lumes, vagalumes.
Lá no centro de mim
sou um buraco negro e aquático,
galáxia aprazível.
Esse colo estelar, ubérrimo,
irresistível.

(Voluteio, centrípeto,
pra dentro de Deus?)

Eis que a Poesia alberga esse invisível
fulcro numinoso

:

Mãe!
Sou eu, filho...

7 comentários:

Jens disse...

Poesia é olhar para dentro de si. Coisa de poeta (e dos bons).

Um abraço, camarada Eurico.

lula eurico disse...

Jens, camarada velho das guerras estelares,
em que sempre vencem as estrelas vermelhas, posto que as anãs azuis são nossas freguesas,

dá cá um abraço sempre fraterno!

Anônimo disse...

Que texto meu amigo!!!!!!1
Falou tudo.
Bjs.

Zélia Guardiano disse...

Mais lindo impossível, amigo Eurico!
Poema para se ler até decorar e depois, ainda mais...
Bravo!
Enorme abraço, grande poeta!

lula eurico disse...

Fátima e Zélia, assim vcs me deixam encabulado.
Esse é mais um experimento poético, que me permito, posto que a idade vai avançando e a gente voltando a ser criança. rsrsrs
E essa é mais uma brincadeira linguística. E só.

Mas agradeço pela adesão entusiástica das amigas, que sei, o fazem por me terem consideração.

Grato.
Grato, mesmo.
Do fundo "cósmico e imensurável" do meu eu-poético,
estou grato a todas. rs

Unknown disse...

há muito que se ver neste caminhar adentro

abraço

Anônimo disse...

Eurico, belo poema.

Somos micro-cosmos.