Uma Epígrafe



"...Quanto à poesia, parece condenada a dizer apenas aqueles resíduos de paisagem, de memória e de sonho que a indústria cultural ainda não conseguiu manipular para vender."...[Alfredo Bosi, in O Ser e o Tempo da Poesia, p. 133]

segunda-feira, novembro 01, 2010

PELEJA

























Acender uma fogueira
Sobre os destroços da fúria:
Dizer o dom mais terrível
No tom da mais vil ternura.
Por monossílabos vastos
Cantar o avêsso, a feiúra.

Atravessar a existência,
Esse fado, essa caatinga,
Com a Língua ressecada
E o estio dentro da fala.

Domar a Onça suasssuna
Da Vida graciliana,
Inda que o peito lanhado
Pela palavra, cardeiro;
Pela palavra, essa morte.

Aboiar angustiado,
Rumor de vozes queimando:
Viver é ser renitente,
Acender uma fogueira
Sobre os destroços, os destroços,
(...ai, que légua tão tirana...)
sobre os destroços da fúria.



Luiz Eurico de Melo Neto
(3º Lugar no Salão Pernambucano de Poesia – 1994)


Fonte da Imagem:
Ruínas da Capela de Canudos

Nota do blogueiro:

A mesma República positivista, que via os nordestinos como uma sub-raça,
hoje é obrigada a repensar suas teses: o maior líder desse país é um sábio e valente nordestino, que traz no sangue a estirpe dos bravos, dos renitentes, dos que superam a escassez e a fome, dos que jamais desistem de sua peleja.

Essa postagem homenageia os nordestinos, que, por votação histórica, pelejaram contra os adversários do bem comum, como um dia lutamos em Canudos. Estamos refazendo os caminhos da história e "acendendo uma fogueira sobre os destroços da fúria."


Em tempo:
e para fazer justiça ao povo fluminense e mineiro, quase metade do povo de Sampa e do Rio Grande do Sul, e metade das demais regiões deste Brasil que votaram na primeira mulher presidenta; ao mesmo tempo abraçar os que votaram na oposição, por entender que somos uma só nação, fraterna, cordial, solidária (basta lembrar da ajuda aos desabrigados das enchentes do nordeste), por tudo isso quero saudar a democracia, a liberdade e a sabedoria de todos os que escolheram manter a atual política, que diminui os extremos, que distribui renda, que dá início à construção de um Brasil com mais igualdade entre as regiões, que é bom pra todos os brasileiros e brasileiras.

10 comentários:

Anônimo disse...

"Viver é ser renitente,
Acender uma fogueira
Sobre os destroços, os destroços,"


Vc é meu grande professor!

Bjs

VELOSO disse...

E a peleja continua ...

Paula Barros disse...

A luta diária do nordestino, daqueles que sabem o que é fome e sede, e mesmo assim sabem lutar, saber ser guerreiros, trabalhadores, honestos.

abraço.

Jens disse...

Baita poema, Eurico. Os versos ásperos remetem diretamente ao universo inclemente do sertão nordestino, onde para sobreviver é necessário, sobretudo, ser um forte.
Assino embaixo da homenagem ao Lula.

Um abraço.

carmen silvia presotto disse...

Teus poemas atravessa a existência de quem te lê, ensinam cantando.

Um abraço amigo, Eurico!!! te ler noa amplia a visão.

Sueli Maia (Mai) disse...

Eu adoro a palavra peleja e adoro uma boa teimosia. Viver é pelejar.

beijos, amigo.

Anônimo disse...

faço minhas tuas palavras. Sem tirar nem pôr uma vírgula.

O melhor, por fim, aconteceu, como eu tenho dito.

E que poema, heim?! Me permite um palavrão? Puta-que-pariu, lindo demais!

Ilaine disse...

Eurico, querido! Que louco de lindo o seu poema. E sim! Suas palavras sobre Lula são grandes e verdadeiras. E agora temos uma presidente que seguirá a mesma estrada a favor de uma mudança social significativa. Estou feliz. Este post é lindíssimo, Eurico.
Beijo

carmen silvia presotto disse...

Eurico venho te visitar, reler e desejar saúde e que logo possamos estar com teus versos aqui conVersando, enquanto isso revisitamos as páginas.

Um abraço amigo e carinhoso e volta logo!!!

Rejane Martins disse...

Tua poesia parece prescindir de elogios, ela simplesmente se basta!
Aproveito, então, pra aplaudir a Nota do Blogueiro.
Com tempo e dedicação que teu espaço merece, vou lendo o que ficou pra trás, é claro!