Uma Epígrafe



"...Quanto à poesia, parece condenada a dizer apenas aqueles resíduos de paisagem, de memória e de sonho que a indústria cultural ainda não conseguiu manipular para vender."...[Alfredo Bosi, in O Ser e o Tempo da Poesia, p. 133]

quinta-feira, setembro 30, 2010

Balões de Nada




Atentai hoje
na ars poetica da bolha breve
que escapa leve de um tubo fino
com que um menino sopra a ilusão
Balão brilhante soprado a esmo que nada afirma
além do brilho pois que em si mesmo a nada alude
diversamente das que de gude lidam em lúdica competição
Só brilham estes casulos ocos vazios nulos e entrementes desvãos desvios
vácuos inócuos comas hiatos bulbos de ar fruta gorada e vã lenição
mero à esquerda hora perdida tiques e lapsos sons tautológicos
versos autistas frases recurvas sem dicção
balões de nada coisa fadada à
d i s s o l u ç ã o.





Fonte da imagem:Abrigo de Ventos

terça-feira, setembro 28, 2010

Florada






















Não olvideis, no entanto,
desses nichos vocálicos, minúsculos,
que, a um canto, oclusos,
roem o instante...

Eis que eles brotam dos sais,
monossilábicos ais
e alçam, em inesperados tons,
suas asas, brevíssimas, bilabiais.
Pululam, palpáveis sons,
mantras zen, interjeições...

Olhai os insetos do céu...

E não olvideis desse mel,
mimético mel, volátil,
tão metonímico mel.

Volvei as vistas ao léu:

borboleteiam abelhas,
com favos novos, verbais,
zumbidos consonantais,
arbitrárias uruçus,
em aglutinantes colméias
melífluas onomatopéias,
in/significantes zunzuns.






Fonte da imagem:
https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiNlrlrpro9JGvn3USMdia_JZ7Eyv0h4gk1saWmJ0anFgGfpwa1Fff8xJuT5eMPGKMPuDq2U1jm4UqHK_D1B3gXPwR91WMrtZDUFTj0GfKAZkMUt9g4MaH9lIYOLUvX9df9eXIR4Q/s1600/abelhas-e-favos-f6b46.jpg

segunda-feira, setembro 27, 2010

Exercício de Gnose (lirismo reflexivo)




"E disse:
Em verdade vos digo que, se não vos converterdes
e não vos tornardes como crianças,
de modo algum entrareis no reino dos céus."
Mateus, o publicano, cap. 18:03





- Bom dia, disse o príncipezinho.

- Bom dia, respondeu o guarda-chaves.

- Que fazes aqui? Perguntou-lhe o príncipezinho.

- Eu divido os passageiros em blocos de mil, disse o guarda-chaves. Despacho os trens que os carregam, ora para a direita, ora para a esquerda.

E um rápido iluminado, roncando como um trovão fez tremer a cabine do guarda-chaves.

- Eles estão com muita pressa, disse o príncipezinho. O que é que estão fazendo ?

- Nem o homem da locomotiva sabe, disse o guarda-chaves.

E trovejou, em sentido inverso, um outro rápido iluminado.

- Já estão de volta? Perguntou o príncipezinho...

- Não são os mesmos, disse o guarda-chaves. É uma troca.

- Não estavam contentes onde estavam?

- Nunca estamos contentes onde estamos, disse o guarda-chaves.

E um terceiro rápido, iluminado, trovejou.

- Estão perseguindo os primeiros viajantes? Perguntou o príncipezinho.

- Não perseguem nada, disse o guarda-chaves. Estão dormindo lá dentro, ou bocejando.

Só as crianças esmagam o nariz nas vidraças.

- Só as crianças sabem o que procuram, disse o príncipezinho. Perdem tempo com uma boneca de pano, e a boneca se torna muito importante, e choram quando a gente toma...

- Elas são felizes... Disse o guarda-chaves.




Fonte da lição:
Le Petit Prince - Saint-Éxupèry
Capítulo XXII
In: http://www.cirac.org/Principe/Ch22-pt.htm

terça-feira, setembro 21, 2010

Jarra de Luz



























Dum jarro jorram jáculos
de lázuli sem mácula.
Vernáculos.
Cristais azuis em jactos,
aquáticos.
de luz coagulada.

Finíssimos filetes,
tentáculos,
de caules florescentes,
quais báculos,
em que rebentam brotos,
re/natos e trans/lúcidos,
da bela e inculta flor
do Lácio.


Fonte da imagem:
http://br.olhares.com/flor_azul_foto1973596.html

domingo, setembro 19, 2010

EU-PROFUNDO (cardumes líricos)






















Vir emergindo, bem lá do fundo,
do abismo escuro, de um oceano,
com toneladas de um eu-profundo,
que vem subindo, bem lentamente,
do inconsciente à flor das águas azuis, marinhas,
Vir com a profunda necessidade,
imperiosa necessidade,
de esguichar-me nessas palavras.



















Ou,


Vir emergindo,
em álacres bandos,
súbitos saltos, vôos sem asas,
singrando os mares,
um imenso aquário
do imaginário,
(telas de aquático LCD);
Cantando em odes ou para-odes,
coral submerso, sons guturais,
salmodiando com alegria
gregoriana, simples, vital:
palavras-peixes,
mar virtual...






Fonte da imagem:
1- recolhida do PicasaWeb
2- http://contanatura.weblog.com.pt/arquivo/5%20dolphins.jpg

sábado, setembro 18, 2010

O ARTISTA E SEU CHAPÉU


























Esta edição do Eu-lírico
é dedicada aos inventores silenciosos, aos
que trabalham sem ruído, amassando
o verbo com a ponta dos dígitos,
(mesmo os que usam apenas o índex);

Aos que, verbofágicos, assentam-se
à ceia dos comedores de palavras para degustar
o peixe mitológico
e arquetípico.

Aos incendiários, aos que atritam
palavras coruscantes.
Aos que ousam parir
e dão à luz os seus filhotes, nas cavernas neo-modernas.
Aos roubadores do fogo,
os que expõem suas vísceras aos abutres:

Esta edição do Eu-lírico
é pra vocês

Poetas tribais e ideoplásticos
que vivem sob a unção da Palavra!

(transcrição do pósfácio do Eu-lírico nº 7 jul/ago 1995)


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O ARTISTA E SEU CHAPÉU (um salmo apócrifo)


Ó chamas esfaimadas, velozes, inexatas
como uma língua de lava. Ou rio,
um imenso rio, fumegante enxurrada.
Seu rastro incandescente: o léxico brasil,
palavras fumarentas, falidas e tisnadas,
na língua de estupor de mães desesperadas:
Herodes, ó Herodes!
Romãs ensangüentadas.

(E pode traduzir-se o orbe
em árias, aquarelas, valsas, odes?)


Agulhas de tricô/espasmos nucleares
Aidéticos de trem, luar/Louis Pasteur
Tropel, trovões, tzar/ Tristan Tzara
e a degenerescência que tão clara

Vincos do nada
Ecos vazios
Alvo e absurdo
Demolidor. Cinzel. Nuncas e tudos.

VENDE-SE UM NEXO ÍNDIGO BLUE EM ÓTIMO ESTADO

Chamas na sala, bicos vorazes, mães, lavaredas.
Tenor, gibi, maçã cansada e em relativa ordem

(E ouso perguntar se o mundo pode
traduzir-se...pode?!
em árias, aquarelas, valsas, odes?)

Eurico
(poema transcrito do zine-colagem Eu-lírico, edição nº 7)

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Comentário do Salmo Apócrifo nº XXIV
(por Carlinhos do Amparo)


As palavras são objetos plasmáveis, ideoplásticos, musicais.
Apalpadas, moldam figuras;
Sopradas, produzem voz;
Atritadas, soltam centelhas, chamas incendiárias.

O artista, em seu ofício, debruça-se sobre elas : desmonta-as,
reinventa-as, dá-lhes novo ser. Busca, como o pintor materista,
esmagá-las sobre o suporte. Joga-as umas contra as outras.
Seu intento?
Que elas centelhem. Que tragam de dentro sua luz.
E que essa luz alargue os limites da realidade.
Que nos faça adentrar a instância da Arte.
No mundo absoluto.
Na Poesia.

Neste Salmo XXIV - O Artista e seu Chapéu, o poeta atinge
as palavras em seu âmago. Elas emergem, vulcânicas, ab/surdas,
para reconstruir o mundo, voz flamígena.
O poema busca angustiadamente seu nexo.
Mas o nexo da poesia é o indizível.

Pode a palavra poética traduzir o mundo?
O poema é atravessado por essa antiga questão, como se essa
fosse a sua própria razão de ser: a única coisa que faz sentido
no mundo estranho e hostil em que se dão os poemas.

Mas ouso perguntar se o mundo pode
traduzir-se (pode?!)
em árias, aquarelas, valsas, odes?


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Quero dedicar essa postagem,
apesar de ser uma transcrição de 1995,
ao Mestre Luís de la Mancha
vate da voz incendiária!


A capa daquela edição do fanzine,
inspirada no célebre chapéu com velas de Van Gogh,
deve-se ao pintor Eugenio Paxelly,
poetartista-plástico neo-barroco!

Improviso à Clarineta (Jazz-band lírica Op. 1)





sié
çarua
sié
çarua
fossimin-
nha

eumã
dava
eumã
davamo-
dularrr
co'notinhas
co'notinhasdissonantes
parumeuparumeuamormalhar

sié
çalua
sié
çalua
fossiminha
eumãdava
eumãdava
eh
lah
brilharrr
comluzinhasmiluzinhasdissonantes
pareleh
pareleh
fantespassar

serpentinasciciantes
silhuetasdecetim
rodopiammilinfantes
piruetasdeguri

obrincanterodopia
quatrocantosdeolinda
braçossoltosmãomolenga
passotortopernafina
cabriolaabailarina
melodiafescenina
clarinetasbombardinas
vaievémnamultidão


rammramm
rammramm
ramram

rammram!
taaa-taritari-tatá!




Eurico,
em dias de brincantes...rsrsrs

Fonte da imagem:
http://coretojs.blogspot.com/2009_11_01_archive.html

quinta-feira, setembro 16, 2010

OFICINA (lirismo fold-in, em semantema retrátil)




















Assim, o artífice anima ao ourives,
e o que alisa com o martelo,
ao que bate na bigorna,
dizendo da soldadura: Está bem feita.
Então, com pregos fixa o ídolo para que não oscile.
Is. 41:7




O pequenino
o pequenino gesto
O pequenino gesto repetido
o pequenino e mesmo gesto repetido
e repetindo-se
move o anelo
no mesmo elo
elo por elo
move o martelo
faz do martelo flor desse gesto
fruto da gesta
abstraído de uma floresta,
flor desses gestos, abstraídos,
da martelagem
no peso o apenso
penso e pondero
pênsil pingente
pondero e penso
a peça rara
du’a ourivesaria
sob incensos

nas muitas dobras
e mais redobras
e mil batidas como em aldabras
tão repetidas essas palavras
pedras em salvas
ouro das lavras
de um tempo intenso
de tempo imenso
de um temp(l)o antigo
um santuário para o Infinito.

ouvir seus g/ritos
distinguir ritos,
haurir seus gritos
um ourives aos gritos,
hiero-gritos:

- Datemi un martello!
- Che cosa ne vuoi fare?

- Moldar os mitos.

Com hieroglifos
florões e grifos
oraiseescritos
roots e ritos
:
Assim, dá alento
ao lento
ourives,
e ao que modela os elos
os velos de oiro
sob o martelo
cravando os pontos
de filigranas
soldas precisas
e derretidas
sob as batidas
leves batidas
de modelagem numa bigorna...
(wayüHazzëq Häräš ´et-cörëp maHálîq Pa††îš ´et-hôlem Pä`am).

E o que modela com o martelete,
forja a cutelos, cravo e cut-up
“batte le métal en plaques”
fold-in, em dobraduras da joiaria,
pinos e pinças,
brincos e broches
“breitgehämmerte Bleche”
molde e persona,
mote e martelo,
elo por elo ,
dobra-se a alma
na oficina
bate um martelo
bate o martelo
bate martelo...

...e um temp(l)o oscila.



Eurico,
em dobraduras experimentais...rs
Meu Deus! Oscilo?

Fontes dos cut-up e fold-in:
http://www.ouviroevento.pro.br/publicados/Firmamentum.pdf
http://ourivesariahavila.blogspot.com/2007/10/histria-da-ourivesaria.html
http://letras.terra.com.br/rita-pavone/64293/traducao.html

Imagem:

CLARAS EM NEVE (lirismo em cut-up/semântico)
































"Devemos ser suaves, suaves, suaves uns com os outros, porque somos muito frágeis..."


............................................................................Petra Maré, in Abrigo de Ventos


Dissolve-se um fonema,
em excipiente átono,
quase inaudível fluxo, in abstrato,
claras em neve,

i-lógico hiato...
de ilusória elisão.

Leva-se a lenir, vogal aberta,
u'a flatus vocis,
em leve vozear, ao rés do vento,
dulcíssima alusão...

Servir, translúcida,
em céu algodoado.




Eurico
em reengenharia de nuvens...rs



Fonte da imagem (e da epígrafe):
Algodão em flor.

terça-feira, setembro 14, 2010

MASCAVO

























"os antagonismos não resolvidos da realidade retornam às obras de arte como os problemas imanentes de sua forma" (Adorno)




Eu não sou isso.
Esse instante entre/cortado à lâmina de estrovenga.
Essa instável dissolução caiena.
Esse devir usinável.
Essa face de isopor.
Esse retraço
de coisa mercadejada,
Esse nada ou quase nada, embebido em suor e melaço.

E sou quase tudo isso.
Um oco histórico, sem mim.
Um pária, a esboroar-se entre alfenins
Um nada esmagado no bagaço.

(e esse re/corte me faz enxergar mais fundo e além
dessa matéria inerte, em que eu estou sendo,
ou em que me deixo estar...)

Mas sou um outro,
inútil tacho de bronze
em fogo morto;
Sou um outro,
mascavado e espúrio, mas o Outro.

Est’outro

que não esse...


*****************

Fonte da imagem:Auto-retrato

Fonte da epígrafe:Alea: Estudos Neolatinos

domingo, setembro 12, 2010

Canção do Amor Menor




















a música:

um melodioso barítono
modula graves gorgeios,
numa voz viscosa, ao fundo,

aveludada e espêssa,
feito mel grosso de engenho,
faz contraponto a um trombone...
Nat King Cole?
Armstrong?

Jazz/blues/bolero...
Não, não:
isso é um samba-canção.
Jamelão?
Sim, oiço a voz do Jamelão...


o espelho:

a musa sinuosa e nua,
feito uma enseada, uma baía
de lúbricas reentrâncias,

tão mulher e tão criança...
um gosto de vinho na Língua, na alma
mestiça, menina de grandes lábios,
a Língua, salgada e doce, veneno...



faz-me mais rijo,
qual mouro,
sangue no olho, na pélvis

intumescida, lança em riste,
e prazeroso alarido,
ao invadir a Ibéria.



o clímax:

mas ouve-se um mar bramindo...
e ouve-se um fado.
Amália?

Dulce?
Mariza?

ouvem-se violões,
harpas, solfejos... suspiros.


Meu Deus!
E esse mar bramindo?
Post coitum animal triste?


um sono leve e essa música...
um melodioso trombone,
mergulhos num mar de orgone...




Fonte da imagem

http://luminescencias.blogspot.com/f437010_2.jpg

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sábado, setembro 11, 2010

Tríptico





















"Não é a vida mais do que o alimento,
e o corpo, mais do que as vestes?
Observai as aves do céu..."
Mt 6: 25,26



O vôo é imprescindível.
Se as caixas estão empilhadas
E os lotes numerados.
Deus! O que é isso?

Essas asas, não as tenho em vão.
Embora inumeráveis, os veículos e a chuva, ácida.
Esquemáticos, os projetos.

Os túneis, sem luz.
Aonde vamos?

Posso pairar sobre o azul das cordilheiras.
Enquanto o conceito aprisiona as coisas.
Flagelam-se as gentes.
Captam-se teleológicos cicios.
Mãe, o que é a vida?







sexta-feira, setembro 10, 2010

O Gato de Schrödinger























Experimento mental:

1 imagine-se um gato com as quatro
patas jogadas ao alto
do alto de um prédio,
bem alto...

2 espera-se, da queda livre
que dos assustados átomos
do arrepiado bichano, decerto
saltem partículas, diga-se, fótons,
mas, o fato

3 é que do susto cai o gato com as quatro
patas ondulatórias, coitado,
no chão incerto de um pátio.


Conclusão quântica:

o gato pode (ou não)
estar vivo ou morto
ou então
semimorto
semivivo
ou morto e vivo, ao mesmo tempo,
pela superposição de eventos.
Essa é o paradoxo
da indeterminação.
Diz que o observador
é quem decide a questão
ao observar o gato
altera a situação.
Gato vivo/gato morto.
Qual é a tua opção?


Conclusão lírica:

Será a matéria feita da poesia mais singela?
Saltita entre onda e fótons,
e ninguém sabe o que é ela...
Ah, matéria mais esquisita!
(parece que é espiritista)
Ah, matéria mais bonita!
que tanta beleza, quanta:
quanto mais salta mais me espanta!
Como eu-lírico, observo,
e essa ciência me encanta.
Haverá algo mais lúdico
do que a física quântica?


Fonte da imagem:
Quadro de Norberto Conti

Sobre Schrödinger:
Experiência Quântica

Notícias sobre Poesia e Cibertexto:
Poesia Experimental

quinta-feira, setembro 09, 2010

Ode Etimológica (arcaísmos redivivos)



















Dos muitos livros que herdei de meus avós, um marcou-me a infância e a vida toda. Dele é o interessante diálogo que transcrevo, razão de um de meus mais arraigados vícios:

"– E a senhora, que é? Perguntou-lhe.

– Sou a palavra Ogano.

– Ogano? O que quer dizer isso?

– Nem queira saber, menina! Sou uma palavra que já perdeu até a memória da vida passada. Apenas me lembro que vim do latim Hoc Anno, que significa Este Ano. Entrei nesta cidade quando só havia uns começos de rua; os homens desse tempo usavam-me para dizer Este Ano. Depois fui sendo esquecida, e hoje ninguém se lembra de mim. A senhora Bofé é mais feliz; os escrevedores de romances históricos ainda a chamam de longe em longe. Mas a mim ninguém, absolutamente ninguém, me chama. Já sou mais que Arcaísmo; sou simplesmente uma palavra morta... "

...............................................................in
Emília no País da Gramática, Monteiro Lobato

O arrebol unge de lume o albor de agora,
em um dilúculo crescente,
com ledos rádios iluminescentes.
Eterna antemanhã,
em que a Palavra, alvinitente,
é sempre a Aurora.

Por isso o Sol, renato, faz o dia
e, mesmo astro longevo,
anuncia
a novidade, emb'hora...

Não há palavra antiga,
em verve viva.
A flama é nova,
a cada vez que o fogo faz faúlha.

A fácies desses étimos rebrilha...
num prisma iridescente, evém da hulha;
E exsurge a voz d'outr'hora
em voz de hac hora.


****************



Fonte da imagem:
Biblioteca de Coimbra

sábado, setembro 04, 2010

Jardineiro do Ar


















Na latência, efloresce o patente...
E o novo está guardado no antes.
Nesse instante.

Há flor na luz solar.
Já é flor o ato de florar.
Flor é a possibilidade de ser flor...

...quando chove sobre a terra,
os úberes se entreabrem.
Antevejo corolas encarnadas.
Papoulas.

Efloresço.

Eu serei eu: flor-futura.
Já úmidas, as pét'las.
Saudade do amanhã...



Fonte da imagem:
http://omeujardim.com/files/imagecache/artigos_full/artigos/utensilios-jardinagem.jpg


***

Notícias sobre
Papoulas