Uma Epígrafe



"...Quanto à poesia, parece condenada a dizer apenas aqueles resíduos de paisagem, de memória e de sonho que a indústria cultural ainda não conseguiu manipular para vender."...[Alfredo Bosi, in O Ser e o Tempo da Poesia, p. 133]

domingo, agosto 29, 2010

De Tigres e de Cães (evocação dolorosa)


















Cruz do Patrão - Recife - PE
(imagem recolhida no Google)



Duas vilezas,
das mais torpes crueldades,
estão guardadas na intra-
história dessa cidade:

...os tigres,
esse era o nome que se dava aos escravos
que carregavam na cabeça
os vasos dos excrementos
dos seus senhores, nojentos.
A amônia e a uréia
desse fedido xixi
que escorria dos barris
marcavam nas costas negras,
listas brancas, e assim,
os escravagistas, tão vis,
chamavam tigres, a esses
humildes carregadores,
desses primevos brasis.


...e os cães,
coitados, que, inocentes,
comiam carne de gente
de pele negra, enterrada,
em covas rasas na areia,
lá na Praia dos Milagres,
ou sob a Cruz assombrada,
que fica no cais do porto,
guiando o patrão dos barcos,
quando da atracação.
Decerto, a maior vileza
dos que se dizem cristãos,
mas, capazes, Deus o sabe!,
de infâmias sem perdão:

enterrar à flor-da-terra,
os corpos dos seus escravos,
Cruz credo! e os cães, coitados,
famintos, desses despojos
faziam sua ração.

***

Essa era uma história não-dita,
dessa metade maldita,
de nossa Mauritzstad.
Se não fossem as notas de viagem,
de certa Maria Graham,
turista anglo-saxã,
talvez não viessem à tona
essas verdades malsãs.

***

Oiço os gemidos...
Escutem!
Almas penadas uivando,
ou são ganidos de um cão?
Não passem nunca de noite,
por trás do Forte Brum.
Por lá, de jeito nenhum!
Por essas horas que são,
juro que oiço gemidos,
entrecortados de açoites,
junto da Cruz do Patrão!




Notícias sobre Maria Graham

Lolita (outras evocações)


















(evocação tardia e quase censurada pelo próprio autor, rs)


Outrora, eram os epicuristas,
que ensinavam aos helenos
a arte do bem viver.
Sem falar dos hedonistas,
que em Grécia se compraziam
com a delícia de ser;
já nesses tempos primevos
se admiravam os mancebos,
os tais valentes efebos,
da arte de guerrear.

Agora, os existencialistas,
cuja oportuna malícia,
diz o povo, é escolher
viver do hoje as primícias,
sem se ocupar do amanhã,
vinham à cidade Maurícia
ver um novo efebo na liça,
com uma alegria louçã.

A sensação era Lolita,
a lidadora temida,
que desancava a polícia,
com seus murros de marrã.

Diz que a zona portuária
pertence aos gregos mercantes,
ianques e coreanos,
capitães de longo curso,
aos marujos, aos maganos
e aos ratos de convés.
Mas todos temem Lolita.
Ele é a rainha, é quem dita
a lei, nesses cabarés.

Já fui moleque e arteiro,
e, curioso, na rua
de Nossa Senhora da Guia,
ia ver calçolas quarando,
nos balcões dos pardieiros...

Deus me livre dos pecados da rua do Bom Jesus!
Da difícil-vida-fácil, nos bordéis, à meia-luz.
Corpos despidos das putas,
bem na Vigário Tenório!

Com tanta mulher bonita,
um velhote em suspensórios,
se babava por Lolita...

-- Vôte! Que nem Freud explica!

Não sei se me engano ou não,
mas oiço a voz esquisita
do Liêdo Maranhão.


***

Fonte da imagem:
Bordel - Di Cavalcanti
in Jornal da Besta Fubana

sábado, agosto 28, 2010

Augúrios (evocações de um Recife Antigo, Nº 7 - desfecho)




















"Auspiciis hanc urbem conditam esse,
auspiciis bello ac pace domi militiaeque omnia geri,
quis est qui ignoret?"
— Lívio, VI.41


1 - A senha


Paira algo sobre a pólis tropicana,
ouvem-se verbos em um médium volátil;
Sibilos,
balbucios,
falas al(i)teradas.

A voz velada de um áugure
vaza a cidade, como a um túnel um trem.

Não é delíquio, tampouco paranormalidade.
Mas, aqui, in/augura-se a poesia enquanto fenômeno extraliterário.

O evocado:
Souzândrade,
de cujus, tectônico e tríbio,
saudoso amigo de um futuro antigo
:
Permitidos estão todos anacolutos, incluídos os de semântica!
As colagens em um mosaico (ele)mental!
As frases de alusão, com elisões incidentais!
Liberdade para as todas as anacronias
e superposições (intra)históricas!


***


2 - Derradeira evocação

Os velhos arcos da cidade antiga
desdobram-se em novas artérias exangues,
essas avenidas exdrúxulas,
que arrastam os palafitas e soterram os mangues,
e abrem o flanco dessa urbe, aflita,
a demolir seus claustros e igrejas.

Os arcos... os arcanos.
Salvou-se a Cruz do Patrão,
registro de assombração
dos náufragos que buscam abrigo.
Talvez, porque está escrito:
Não removas os marcos antigos.

Um rio invade as tumbas de Santo Amaro das Salinas
e pranteia seus mortos.
Seus milhares de peixes mortos.
Um outro lava os batentes do Palácio da Justiça
e reclama a posse de suas margens urbanizadas.
Juntos, os rios transbordam no pátio de manobras do porto.
O mar, ameaçador, aguarda a maré alta e os ventos da ressaca...
É Agosto.

Ausculto o coração dessa urbe assustadiça.
E oiço vozes.
Palavras arcaicas.
Motes desusados.
Um vozerio no marco-zero da cidade.
Evocações sem nexo aparente.
Meras repetições do passado.
Herméticas e litúrgicas frases desconexas.
Monges entoando merencórios cânticos gregorianos...

Os fantasmas do velho casario colonial assombram
os novos locatários.
A brisa maurícia sopra os aventais dos pedreiros-livres.
E eu os oiço, creiam-me, oiço-lhes os ritos,
vozes vindas de uma sobre/loja,
a oriente de mim, num pardieiro
:
"Erguemos túmulos às margens dos rios
e os batizamos:
Cidades."





*( Tradução da epígrafe: (fonte google)
"Quem não sabe que esta cidade foi fundada somente após consultar as divindades,
que toda guerra e paz, no país e no estrangeiro,
foi feita somente após consultar as divindades? ")


Fonte da ilustração:
fotografia da coleção de Allen Morrison (Google)

quinta-feira, agosto 26, 2010

Tijolinho (evocações de um Recife Antigo, Nº 6)




















I
Desci a ponte apressado,
perdi o bonde das cinco.
Volto pávido pra casa.
Mas não perdi a esperança.

II
Sei que os gatunos já espreitam
na Estreita do Rosário,
Os bêbados
Os operários
que jogam com palitinhos.
Aqui se dorme cedinho.

III
Conheci um motorneiro
cujo nome, Tijolinho,
sempre me cai na cabeça.
Meu pai, dizia: não desça,
antes de Tejipió.
Primeira vez, eu, no bonde,
andei só.

IV
O bonde aberto do lado.
Eu fora, dependurado,
com o guarda-chuva na mão.
Eu, de volta.
Eu, cansado.
Eu, eus, múltiplo, multiplicado.
Mil rostos,
mil e um pecados.

V
Eu, do Recife,
eu do umbigo mundo.
Eu, tão ambíguo, no mundo.
Vrrrummm! no bonde, um giramundos!

VI
Fui consultar u'a vidente.
Queria ver meu passado.
Meus trilhos. A ubiquidade;
Eu, tríbio.
Eu, sem idade.

VII
Num bonde andei.
Mas brincava sobre uma placa flutuante.
Um bonde é antes brincante,
f(l)ui, passageiro,
Eu passei...




Viagem poética, criada a partir de uma viagem real,
que fez o meu pai, Elias Eurico de Melo.
Meu velho, 86 aninhos, me conta seus causos d'infância,
nesses dias frios de 2010 em que, juntos, cuidamos
dos nossos corpos (e almas), alquebrados, mas serenos.


Fonte da Imagem:
Bonde de Tejipió
http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=1112501

L'Ultima Pluvia (evocações de um Recife Antigo, Nº 5)




















Quando veio a grande guerra,
Francesco Vita foi fabricar cristais, na Bahia.
A Soledade não mudou.
Continuou, serenamente, a fabricar sua agridoce gasosa de maçã.
Todos já sentiam o prenúncio de tudo.

Anos depois houve a Intentona.
Não precisava ser vidente.
Bastavam os olhos de ver.

Meu pai era infante
e ouviu as éguas relincharem, pressurosas, na cavalariça do 14º RI.
Desabavam as chuvas de março.
Esse era um sinal dos tempos.

O rádio protestava contra as reformas de base.
Breve, um novo arcebispo chegaria a Olinda.
Esta vila libertária seria vigiada de perto pela Opus Dei.

Quando digo que oiço coisas, ninguém acredita...
Oiço a tempestade desabar.

A Fratelli Vita seria comprada pelos ianques.
Os Renda & Priori perderiam o mercado das balas tutti-frutti.
A macarronada daria lugar ao americano.
Logo os brotos da geração Coca-cola
iriam mudar de hábitos,
e a cidade do gabardine
tornar-se-ia blue jeans.
Já não se pedia o grapette,
e a goma de mascar já se mudara em chiclets.

***


Certa vez um estudante me disse que o curso Clássico
do Ginásio Pernambucano iria ser extinto,
para que se formassem técnicos para as empresas estrangeiras.

Eu disse isso a meu padrinho, Contador do Governo do Estado.
E ele me disse:
Menino, nunca mais repita isso!
Quer ser preso?

Eu deixei de parlare in pubblico.
E só oiço.

Mataram um padre no canavial da Várzea do Capibaribe.
O novo bispo fechou os seminários criados por Dom Hélder.
E houve uma grande passeata por Deus, pela Família e pela Pátria.

Tudo estava consumado!

Hoje quando vejo as grandes favelas urbanas
sitiando a cidade,
o rio moribundo e fétido,
os espigões destruindo o casario colonial,
eu me recolho a um canto...

Oiço trinarem os últimos pássaros ,
abarrancados cá na mata dos Brennand.

E oiço, apenas oiço:
Ultima pluvia, questo il loro nome.


Essa chuva há de passar...




Fonte da imagem:
Ruínas da fábrica dos Fratelli Vita, em Recife.
(clic de Kelly Cristina, em 17/09/2010)

Zeppelin (evocações de um Recife Antigo, Nº 4)





















Ist etwa der Graf Zeppelin nur eine posse?

Haja a paz nos nossos genes mais profundos,
desde a espécie infra-humana
até o genótipo caucasiano.
Por isso não estamos em guerra:
compramos o sabão da Lubeka
e os sorvetes lá no Gemba.

Não açulemos o aborígene que habita em nós
contra o louro germanico.
Não esqueçamos os belos traços asiáticos, holandeses, africanos,
dessas crianças livres, apesar dos muros,
a chapinhar na maré.

Ist etwa der Graf Zeppelin nur eine posse?
Sim.
E isto é quase risível:

Corria o ano de 1936.
Éramos ainda um pequeno burgo.
Graciosamente, pairava sobre nós, o dirigível.
Vinha de outro mundo, dos seres em litígio.

Ist etwa der Graf Zeppelin nur eine posse?
Sim.
Uma alegre palhaçada cheia de ar!
Dos inocentes óim da meninada
sartavam faíscas felizes!

Risíveis e efêmeras momices, nos viveiros de peixes do Jiquiá.

Haja a paz nesses genes mestiços!


Fonte da Imagem:
Jornália do Ed

quarta-feira, agosto 25, 2010

Great Western (evocações de um Recife Antigo, Nº 3)























I

Nada mais poético do que a ciência,
quando perscruta a realidade com seus instrumentos falíveis.

Decerto um agrimensor
nessa província de muitas línguas,
fora flanêur nas vielas, com uma sombrinha e uma luneta.
Era o tempo de deitar dormentes,
e sonhar trilhos urbanos...

Nada mais poético do que abrir trilhas ao trolley
:
Os engenheiros formaram um team de football.
No céu azulado do Derby,
via-se a bola cruzada e o dirigível gigante.
Os pebolistas descansavam sob um certo sapotizeiro.

***
II

Oiço vozes.
O ar atravessa os gradis de ferro da ponte da Boa-Vista.
O vento sopra fonemas de outras línguas.
Oiço, creiam-me, oiço alguém dar as senhas aos maquinistas.
Oiço frases em inglês britânico.

Vocês não ouvem?

Pois, vos digo, que a ciência não é menos poética do que a poesia.
E que, se não topamos com Hamlet nas ruas,
tampouco tropeçamos com teoremas imaginários.

Oiço vozes, sim:
Is the ghost train really haunted?
E re-in/vento essas pitagóricas fantasmagorias.






Fonte da imagem:
Bonde do Derby, na Pça do Diário - Recife-PE
http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=1112501

Ibbür (evocações de um Recife Antigo, Nº2)





















1
O porto, defendido por muralhas de Al-raçif ,
é a obra milenar das madréporas e dos rios.
Os diques e os jardins são de um príncipe alemão,
com a ajuda prestimosa dos marranos.
Mas os bazares...

ah, os bazares... são de sírios, libaneses,
velhos turcos, carcamanos;
Isso explica a algaravia
dos pregões mediterrâneos,
nessa vila de moçárabes.


2
Ao adentrar essa nave,
quase mesquita, da Penha,
imensa abóbada erguida sobre o pátio do mercado,
sinto um sussuro ultrafânico.

É uma exigência do ibbür:

Sete sermões capuchinhos.
Sete bençãos carmelitas.
Sete-estrêlo.
Sete liras.

No meu coração há um dardo.
Sobre os meus ombros, um fardo.
Da moiraria oiço um fado,
nesses vitrais projetados,
no espelho de um mar azul...


Meu ser fica impregnado:
Essa é a exigência do ibbür.



(dedicado ao ex-capuchinho da Penha e meu irmão, Diógenes Afonso de Oliveira)

Fonte da imagem:
Basílica da Penha - Recife - PE

segunda-feira, agosto 23, 2010

Guilgul Neshamot (evocações de um Recife Antigo, Nº1)




















Nas pedras da Bom Jesus
há segredos de uma estrela:

achados subterrâneos,
porcelana e prataria,
velhos cachimbos batavos
e um poço dos batizados,
em que um avoengo bodek,
cumpria todos os dias
milenares oblações.

Percorro os trilhos urbanos
da antiga Rua da Cruz.
Súbito, surge uma luz!

Numa antiquíssima luz,
oiço o rabino Fonseca,
glosando um mote esotérico
da inolvidável Torah:
Se da pedra, brota uma fonte,
do Rochedo, nasce um mar
de vagas inumeráveis
que reverberam no além,
num misterioso além-mar...


Era o guilgul neshamot,
essa esperança bonita
dos que decifram a morte...


Luiz Eurico de Melo Neto
(ao cunhado-amigo-irmão Kelson Roberto da Silva)
Fonte da Imagem:

Rua do Bom Jesus

A Espantosa Realidade das Cousas...




















A espantosa realidade das cousas
É a minha descoberta de todos os dias.
Cada cousa é o que é,
E é difícil explicar a alguém quanto isso me alegra,
E quanto isso me basta.
Basta existir para se ser completo.

Tenho escrito bastantes poemas.
Hei de escrever muitos mais. naturalmente.

Cada poema meu diz isto,
E todos os meus poemas são diferentes,
Porque cada cousa que há é uma maneira de dizer isto.

Às vezes ponho-me a olhar para uma pedra.
Não me ponho a pensar se ela sente.
Não me perco a chamar-lhe minha irmã.
Mas gosto dela por ela ser uma pedra,
Gosto dela porque ela não sente nada.
Gosto dela porque ela não tem parentesco nenhum comigo.

Outras vezes oiço passar o vento,
E acho que só para ouvir passar o vento vale a pena ter nascido.

Eu não sei o que é que os outros pensarão lendo isto;
Mas acho que isto deve estar bem porque o penso sem estorvo,
Nem idéia de outras pessoas a ouvir-me pensar;
Porque o penso sem pensamentos
Porque o digo como as minhas palavras o dizem.

Uma vez chamaram-me poeta materialista,
E eu admirei-me, porque não julgava
Que se me pudesse chamar qualquer cousa.
Eu nem sequer sou poeta: vejo.
Se o que escrevo tem valor, não sou eu que o tenho:
O valor está ali, nos meus versos.
Tudo isso é absolutamente independente da minha vontade.


Alberto Caeiro


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"Eu nem sequer sou poeta: vejo."
(grifo meu, para posteriores ilações, rs)

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Fonte:
Revista Agulha

Fonte da imagem:
Pedra do Navio - Bom Jardim - PE

sábado, agosto 21, 2010

Dauri_ lírico

















castigos de lagartas sobre flores e folhas,
descoloridos dias e buracos.

a tez leve e doce das pétalas, triturada em alimento
de futuras asas.

dos dias surgirão que asas.

e se abrirão de encasulados sofreres.





Poema do:

- Dauri Batisti


Fonte da img:
Lagarta

AMÉRICA - Carlos Drummond de Andrade






















Sou apenas um homem.
Um homem pequeno à beira de um rio.
Vejo as águas que passam e não as compreendo.
Sei apenas que é noite porque me chamam de casa.
Vi que amanheceu porque os galos cantaram.
Como poderia compreender-te, América?
É muito difícil.
Passo a mão na cabeça que vai embranquecer.
O rosto denuncia certa experiência.
A mão escreveu tanto, e não sabe contar!
A boca também não sabe.
Os olhos sabem - e calam-se.
Ai, América, só suspirando.
Suspiro brando, que pelos ares vai se exalando.

Lembro alguns homens que me acompanhavam e hoje não me acompanham.
Inútil chamá-los: o vento, as doenças, o simples tempo
dispersaram esses velhos amigos em pequenos cemitérios do interior,
por trás de cordilheiras ou dentro do mar.
Eles me ajudariam, América, neste momento
de tímida conversa de amor.

Ah, por que tocar em cordilheiras e oceanos!
Sou tão pequeno (sou apenas um homem)
e verdadeiramente só conheço minha terra natal,
dois ou três bois, o caminho da roça,
alguns versos que li há tempos, alguns rostos que contemplei.
Nada conto do ar e da água, do mineral e da folha,
ignoro profundamente a natureza humana
e acho que não devia falar nessas coisas.

Uma rua começa em Itabira, que vai dar no meu coração.
Nessa rua passam meus pais, meus tios, a preta que me criou.
Passa também uma escola - o mapa -, o mundo de todas as cores.
Sei que há países roxos, ilhas brancas, promontórios azuis.
A terra é mais colorida do que redonda, os nomes gravam-se
em amarelo, em vermelho, em preto, no fundo cinza da infância.
América, muitas vezes viajei nas tuas tintas.
Sempre me perdia, não era fácil voltar.
O navio estava na sala.
Como rodava!


As cores foram murchando, ficou apenas o tom escuro, no mundo escuro.
Uma rua começa em Itabira, que vai dar em qualquer ponto da terra.
Nessa rua passam chineses, índios, negros, mexicanos, turcos, uruguaios.
Seus passos urgentes ressoam na pedra,
ressoam em mim.
Pisado por todos, como sorrir, pedir que sejam felizes?
Sou apenas uma rua
numa cidadezinha de Minas
humilde caminho da América.

Ainda bem que a noite baixou: é mais simples conversar à noite.
Muitas palavras já nem precisam ser ditas.
Há o indistinto mover de lábios no galpão, há sobretudo silêncio,
certo cheiro de erva, menos dureza nas coisas,
violas sobem até à lua, e elas cantam melhor do que eu.

Canto uma canção,
de viola ou banjo,
dentes cerrados,
alma entreaberta,
decanta a memória,
do tempo mais fundo
quando não havia
nem casa nem rês
e tudo era rio,
era cobra e onça,
não havia lanterna
e nem diamante,
não havia nada.
Só o primeiro cão,
em frente do homem
cheirando o futuro.
Os dois se reparam,
se julgam, se pesam,
e o carinho mudo
corta a solidão.
Canta uma canção
no ermo continente,
baixo, não te exaltes.
Olha ao pé do fogo
homens agachados
esperando comida.
Como a barba cresce,
como as mãos são duras,
negras de cansaço.
Canta a estela maia,
reza ao deus do milho,
mergulha no sonho
anterior às artes,
quando a forma hesita
em consubstanciar-se
Canta os elementos
em busca de forma.
Entretanto a vida
elege semblante.
Olha: uma cidade.
Quem a viu nascer?
O sono dos homens
após tanto esforço
tem frio de morte.
Não vás acordá-los,
se é que estão dormindo.

Tantas cidades no mapa...Nenhuma, porém, tem mil anos.
E as mais novas, que pena: nem sempre são as mais lindas.
Como fazer uma cidade? Com que elementos tecê-la? Quantos fogos terá?
Nunca se sabe, as cidades crescem,
mergulham no campo, tornam a aparecer.
O ouro as forma e dissolve, restam navetas de ouro.
Ver tudo isso do alto: a ponte onde passam soldados
(que vão esmagar a última revolução)
o pouso onde trocar de animal; a cruz marcando o encontro dos valentes;
a pequena fábrica de chapéus; a professora que tinha sardas...
Esses pedaços de ti, América, partiram-se na minha mão.
A criação espantada
não sabe juntá-los.

Contaram-me que também há desertos,
E plantas tristes, animais confusos, ainda não completamente determinados.
Certos homens vão de país em país procurando um metal raro
ou distribuindo palavras.
Certas mulheres são tão desesperadamente formosas que é impossível
não comer-lhe os retratos e não proclamá-las demônios.

Há vozes no rádio e no interior das árvores,
cabogramas, vitrolas e tiros.
Que barulho na noite,
que solidão!
Esta solidão da América... Ermo e cidade grande se espreitando.
Vozes do tempo colonial irrompem nas modernas canções,
e o barranqueiro do Rio São Francisco
- esse homem silencioso, na última luz da tarde,
junto à cabeça majestosa do cavalo de proa imobilizado
contempla num pedaço de jornal a iara vulcânica da Broadway.
O sentimento da mata e da ilha
perdura em meus filhos que não amanheceram de todo
e têm medo da noite, do espaço e da morte.
Solidão de milhões de corpos nas casas, nas minas, no ar.
Mas de cada peito nasce um vacilante, pálido amor,
procura desajeitada de mão, desejo de ajudar,
carta posta no correio, sono que custa a chegar
porque na cadeira elétrica um homem (que não conhecemos) morreu.

Portanto, é possível distribuir minha solidão, torná-la meio de conhecimento.
Portanto, solidão é palavra de amor.
Não é mais um crime, um vício, o desencanto das coisas.
Ela fixa no tempo a memória
ou o pressentimento ou a ânsia
de outros homens que a pé, a cavalo, de avião ou barco,
percorrem teus caminhos, América.
Estes homens estão silenciosos mas sorriem de tanto sofrimento dominado.
Sou apenas o sorriso
na face de um homem calado.

Carlos Drummond de Andrade
(1902-1987)

Mais sobre Carlos Drummond de Andrade em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Carlos_Drummond_de_Andrade
retratos


Fonte do txt:
http://leaoramos.blogspot.com/2010/06/tanto-dizer-america-mas-drummond.html

Fonte da img:
http://farm3.static.flickr.com/2254/1516069989_5308871313.jpg

quinta-feira, agosto 19, 2010

Águas de março


Nota do blogueiro:
(flashes de apreensão lírica; partes e todo, em ondas de interação; natureza, poesia, maravilhamento - eis o maestro-poeta Antonio Carlos Jobim. Nada mais lírico):

ao lado a árvore "dele", no Jardim Botânico, do Rio de Janeiro.



















É pau, é pedra, é o fim do caminho
é um resto de toco, é um pouco sozinho
é um caco de vidro, é a vida, é o sol
é a noite, é a morte, é um laço, é o anzol
é peroba do campo, é o nó da madeira
caingá, candeia, é o Matita Pereira
É madeira de vento, tombo da ribanceira
é o mistério profundo
é o queira ou não queira
é o vento ventando, é o fim da ladeira
é a viga, é o vão, festa da cumeeira
é a chuva chovendo, é conversa ribeira
das águas de março, é o fim da canseira
é o pé, é o chão, é a marcha estradeira
passarinho na mão, pedra de atiradeira

Uma ave no céu, uma ave no chão
é um regato, é uma fonte
é um pedaço de pão
é o fundo do poço, é o fim do caminho
no rosto o desgosto, é um pouco sozinho

É um estrepe, é um prego
é uma ponta, é um ponto
é um pingo pingando
é uma conta, é um conto
é um peixe, é um gesto
é uma prata brilhando
é a luz da manhã, é o tijolo chegando
é a lenha, é o dia, é o fim da picada
é a garrafa de cana, o estilhaço na estrada
é o projeto da casa, é o corpo na cama
é o carro enguiçado, é a lama, é a lama
é um passo, é uma ponte
é um sapo, é uma rã
é um resto de mato, na luz da manhã
são as águas de março fechando o verão
é a promessa de vida no teu coração

É pau, é pedra, é o fim do caminho
é um resto de toco, é um pouco sozinho
é uma cobra, é um pau, é João, é José
é um espinho na mão, é um corte no pé
são as águas de março fechando o verão
é a promessa de vida no teu coração

É pau, é pedra, é o fim do caminho
é um resto de toco, é um pouco sozinho
é um passo, é uma ponte
é um sapo, é uma rã
é um belo horizonte, é uma febre terçã
são as águas de março fechando o verão
é a promessa de vida no teu coração

É pau, é pedra, é o fim do caminho
é um resto de toco, é um pouco sozinho

É pau, é pedra, é o fim do caminho
é um resto de toco, é um pouco sozinho

Pau, pedra, fim do caminho
resto de toco, pouco sozinho

Pau, pedra, fim do caminho,
resto de toco, pouco sozinho

Tom Jobim
Coleção
Disco de Bolso:
O tom de Antonio Carlos Jobim e o tal de João Bosco
(1972)

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Sobre o autor


Chega dezembro e com ele vêm o natal, o reveillon, as férias, depois o carnaval... Na verdade, o ano seguinte só se inicia mesmo depois de encerradas as folias populares. Nada melhor que uma boa enxurrada para varrer as cinzas do ano anterior e então começar vida nova. Nada melhor que as refrescantes águas de março, que esfriam nossa cabeça para enfrentar mais um ano de luta... É verdade que, em cidades como São Paulo, com problemas tão graves como os de saneamento básico, essas águas são muitas vezes sinônimo de enchente, caos e até mesmo de morte. Mas isso não é culpa da natureza: cabe à cultura (no caso, aos administradores públicos, urbanistas e engenheiros) proteger os homens.
Certamente não eram as chuvas paulistas que Tom Jobim tinha em mente quando compôs "Águas de março".

"É pau, é pedra, é o fim do caminho
é um resto de toco, é um pouco sozinho
é um caco de vidro, é a vida, é o sol
é a noite, é a morte, é um laço, é o anzol
é peroba do campo, é o nó da madeira
caingá, candeia, é o Matita Pereira..."

O que temos aqui? Eu diria que um conjunto de elementos que lembram uma paisagem não urbana propriamente: pau, pedra, toco, a solidão, peroba, nó de madeira etc. São elementos de um contexto mais natural, onde quase não se sente a ação do homem. O "quase" que eu disse vai por conta dos seguintes objetos: caco de vidro, elemento que implica fabrico, tecnologia; candeia, objeto rústico para iluminação, a indicar, no entanto, que esse lugar tomado pelas águas de março não tem luz elétrica; e anzol, que, apesar de artefato humano, tem a ver com uma forma primitiva de relação com a natureza, ou seja, a pesca, favorecida decerto em tempos mais chuvosos, em que os rios ficam cheios. Índices de uma cultura mais ligada à natureza são ainda a referência a caingás, bem como pela referência ao matita pereira. Como vocês podem percerber, estamos a léguas dos centros urbanos, num espaço onde ainda vigoram lendas, personagens folclóricas, populações pré-modernas, como os índios, e onde são enfatizados os ciclos naturais, vida e morte, sol e noite:

"é um caco de vidro, é a vida, é o sol,
é a noite, é a morte, é um laço, é o anzol."

A letra de Tom Jobim é basicamente descritiva, repertoriando uma série de elementos que visam construir a atmosfera desencadeada pelas chuvas num ambiente mais rural. Sendo descritiva, não conta com uma progressão dramática, um desfecho. Essa estrutura descritiva é enfatizada pela reiteração intensa do verbo "ser", um verbo que serve, entre outras coisas, para dar atributo, qualidade a algo. Mas talvez esse verbo tenha um sentido algo ambíguo aqui. A letra já se inicia sem mencionar o sujeito a que se liga o verbo.

"É pau, é pedra, é o fim do caminho", e assim até o fim, com variação dos predicativos. Imaginamos que o que é pau, o que é pedra "é" as águas de março. Ou seja, "águas de março" significa pau, pedra, peroba do campo e tudo mais. Como dissemos, trata-se de representar a atmosfera úmida de março. Chegamos quase a sentir o cheiro da madeira molhada, a imaginar o corpo se refrescando (é o fim da canseira, como diz a letra). Mas, se é assim, por que o verbo "ser" não está no plural, para concordar com "águas", no plural? Podemos cogitar alguns motivos: convenhamos que repetir "são" a todo o instante ficaria um pouco exaustivo. Seria são pra lá, são pra cá, são acolá. A forma "é" está muito mais na ponta da língua, o que dá bem mais agilidade à música; além disso, o sujeito, "águas de março", é mais lógico do que sintático. Ele figura no título da canção, mas não na letra, pelo menos até quase o fim. "Águas de março" é o pressuposto do texto, mas não está estruturado nele sintaticamente. O título serve aqui para indicar o objeto de que se está falando. Por tudo isso, a concordância no singular é mais do que legítima. Tanto é assim que Tom Jobim, que não era bobo, coloca bonitinho o verbo "ser" no plural quando a expressão "águas de março" vem, no finzinho da canção, literalmente reproduzida no corpo do texto, passando de idéia de fundo a elemento de estrutura sintática, ou seja, passando de sujeito lógico a sujeito sintático:

"são as águas de março fechando o verão
é a promessa de vida no teu coração. "

A concordância no plural tem o efeito de um resumo: todos os elementos relacionados nesse texto são, formam as águas de março. Note-se, no entanto, que o verbo no singular retorna: "é a promessa de vida". É como se se quisesse dar mais peso agora à "promessa de vida" do que às águas de março. O que importa mais agora é a promessa de vida. Mas você pode perguntar: isso também não se aplica ao resto da letra? Não poderíamos dizer que a letra quis mais enfatizar os elementos, os aspectos vitais ligados às águas de março, daí ter usado o verbo no singular? É possível. Há em toda a composição de Tom Jobim um apego a elementos variados, há mesmo uma espécie de desejo de fazer o inventário de um mundo já meio fantástico para nós, homens urbanos, para quem saci e índio têm algo em comum: a inexistência, o serem coisas do passado. Esse estilo de inventário acaba como que dando relevo ao detalhe, mas sem prejuízo de dar conta do conjunto. Tudo isso é banhado pelas águas de março, que fecham o verão. Notemos ainda que os elementos ligados à ação do homem vão aumentando ao longo da canção:

"É um estrepe, é um prego,
é uma conta, é um conto
...
é o carro enguiçado, é a lama, é a lama."

Ora, a palavra "projeto" é bastante ligada ao plano da cultura. A natureza é o lugar do espontâneo, do acaso, que são o oposto do projeto, do cálculo. Já estamos num território não tão primitivo, o que é marcado pelo "carro enguiçado" na lama. Trata-se de um mundo entre a natureza e a cultura. Natural o bastante para que não tenha calçamento e fazer veículos atolarem e culturalmente modificado com a presença de carros e casas. É um mundo intermediário, de lama e de projeto, e onde a chuva cai como uma bênção. O projeto, no entanto, respeita o ciclo natural: só é possível começar de fato a construção da casa ("é o tijolo chegando") quando cessarem as chuvas. Com a terra seca e o outono, então uma nova vida pode lançar as bases. Mas infelizmente nós, paulistas, temos de rezar para que as águas de março não sejam promessa de morte e de desapropriação.


Antonio Carlos Jobim

Maestro, compositor refinado e letrista, Antonio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim é autor de inúmeras canções, como "Wave" (1969), "Águas de março" (1972), "Passarim"(1985), "Sabiá" (1968), esta última feita em parceria com Chico Buarque. Um de seus primeiros trabalhos foi na gravadora Continental, onde reproduzia na pauta as melodias de compositores que não conheciam teoria musical. Em 1952, passa a fazer arranjos para as gravações. Nesse mesmo ano, sua carreira é impulsionada com a divulgação do samba "Faz uma semana", composto com João Stockler e interpretado por Ernani Filho. De 1953 data a gravação de suas primeiras músicas, entre elas "Teresa da praia" (com Billy Blanco), interpretada por Dick Farney e Lúcio Alves. O LP Canção do amor demais, de Elisete Cardoso (1958), considerado um marco na música brasileira, trazia várias composições de Tom e Vinícius de Morais e antecipava a bossa nova em vários aspectos. A música "Samba de uma nota só" (com Newton Mendonça) torna-se internacionalmente conhecida na interpretação de cantores como Ella Fitzgerald e Frank Sinatra. Tendo como parceiro Vinícius de Morais, ele escreveu um dos maiores sucessos de sua carreira, "Garota de Ipanema" (1962). Compõe para cinema, TV e lança vários álbuns. Falece em 8 de dezembro de 1994 de parada cardíaca.


Fonte do texto:
http://www.tvcultura.com.br/aloescola/literatura/poesias/tomjobim_aguasdemarco.htm

Fonte da imagem:
http://orientacaopsi.blogspot.com/2007/11/rvore-do-tom-e-as-outras-rvores.html

quarta-feira, agosto 11, 2010

Sobrevôo





















Um vôo há de revelar-se lírico e livre.
Volitam os anjos.
Adejam as borboletas.
Voejam os pássaros.
Esvoaçam as plumas...

Já um sobrevôo é coisa técnica,
de espécie árida e cabralina.
Serve para exercícios pouco poéticos.
Por isso não se deve voar sobre populações flageladas.
A hora é grave e exige um sobrevôo.

Mesmo que observemos a extensão da dor através de binóculos
e bem assentados em poltronas ejetáveis,
a dor cinematográfica nos comove,
mas não nos alcança, ainda...
(Quem sabe se, seguindo antigo conselho egípcio,
construíssemos nossas moradas longe dos aluviões...)

Ontem, víamos apenas as queimadas, lá embaixo.
Pequeninos animais assustados a correr do fogo;
Depois, viriam imensos canaviais, encravados em nossa alma,
junto com a nossa orgulhosa tradição colonial;
A felicidade do açúcar, do melado, da rapadura...

Surgiriam então belos vilarejos ao longo dos rios.
Casinhas enfileiradas feito centopéias.
Praças da Matriz,
Ruas do Comércio:
bóias-frias felizes a consumir parabólicas.

(Como haveríamos de pensar em remorso pelo fim das matas ciliares?)

Agora os técnicos sobrevoam a tragédia anunciada...
Imagens de um infeliz clichê, em que não há nenhum lirismo.

Há a constatação histórica do óbvio.
E o óbvio não é poético:

Ergueram-se túmulos às margens dos rios,
e os batizaram:
Cidades.


(poema de 06/07/10)

Fonte da imagem:
http://wings.avkids.com/Book/Nature/Images/wright_glider.jpg


Pós-escrito em 11/08/2010:

E eu que pensava que estava viajando na maionese, vejo que há muito tempo os urbanistas sabem que se deve respeitar o rio. O CREA_PE vai ajudar a reflorestar as margens do Rio Una, em Palmares, Barreiros e outras cidades erguidas sobre as matas ciliares. Leia aqui, ou em http://www.creape.org.br/.

domingo, agosto 08, 2010

Noa-noa



















E a velha floresta cuja férvida seiva
se enriquece expandindo-se em
descuidadas ondas
esbeltas palmeiras cujos frutos se agitam
nos céus,
tamarindos, papoulas, fetos
gigantescos...
o pau-rosa e a manga que enchem o ar
com um fausto de sombra e de perfume,
árvore de ferro
e as que são pródigas de doces frutos,
carnes e pão, e as que se oferecem
por si,
muros e telhados de casas, altivas naves
e tálamos
tornam a vida um sonho belo, abolidos
o trabalho e a fome, a miséria e a inveja.
A Floresta, inteira ao cabo da vida
imensa,
morte perpétua, renascença sem fim.


(prosa poética de Paul Gauguin - apud F. Brennand*)

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*Não é à toa que o Francisco Brennand intitulou o livro de onde extraí o quase-poema acima, como Diálogos do Paraíso Perdido.
Estamos “perdendo” o planeta Terra, como vaticina o milenar relato bíblico do Éden?
Ainda há tempo de mudar a nossa civilização?

quinta-feira, agosto 05, 2010

Nuvens sobre a floresta...




















Nuvens sobre a floresta...
Sombra com sombra a mais...
Minha tristeza é esta –
A das coisas reais.

A outra, a que pertence
Aos sonhos que perdi,
Nesta hora não me vence,
Se a há, não a há aqui.

Mas esta, a do arvoredo
Que o céu sem luz invade,
Faz-me receio e medo...
Quem foi minha saudade?


Fernando Pessoa



Fonte do texto: http://bloggloria1.blogs.sapo.pt/arquivo/2005_07.html

Imagem do Google