Uma Epígrafe



"...Quanto à poesia, parece condenada a dizer apenas aqueles resíduos de paisagem, de memória e de sonho que a indústria cultural ainda não conseguiu manipular para vender."...[Alfredo Bosi, in O Ser e o Tempo da Poesia, p. 133]

quarta-feira, setembro 09, 2009

Tocata e fuga (à vida que passa)






















imagem google



Trago por dentro a força do toró
que arroja esse vento nordeste
Sinto no peito os rasgos, os riscos
que no céu fazem os coriscos...

Estou a ribombar no solo agreste,
na desapiedada percussão dos pingos
despedaçando telhas e sapés
Rasgando zincos...

Estou tempestade bruta
E abrupta;
Violento aguaceiro
que mergulha em meu mundar no mundo,
Sinfonia aórgica
Melodia dodecafônica, sem opus do humano;
arrostando isso que passa, e eu com ela.

Estou lutando sob a chuvarada,
nessa agreste des/harmonia,
em que as partes e o todo
se engastam e se desgastam,antagônicas:
Luta sinfônica,
largos compassos, descompassos
desconexos adágios;
golpes no ar, de maestro ou de ágil
pugilista.

No entanto, soa um gongo secular,
e a minha chuva faz silêncio,
e a força cessa, devagar.
Profundo e aquático silêncio...
Pausa.
Dorida pausa.
E, nesse momento,
caem-me, silentes,
as gotas, vindas de um céu cinzento;
com a música grave de garoa calma,
a deslizar pelos declives d’alma,
qual melancólica canção depois da enchente...
Cessa a enxurrada,
mas, a escorrer das calhas invisíveis
de u'a moenda centenária,
Ouço esvair-se líquida essa ária.
Eis minha fuga, pela linha d'água...




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15 comentários:

Dauri Batisti disse...

Estou aqui, a ler. Ainda não sei o que deixar como comentário. É lindo o modo como escreves. Amanhã, quem sabe, lendo de novo, eu...

lula eurico disse...

Amigo, amigo irmão, li na Mai um exemplar comentário de tua lavra. Sei que meu texto está vindo calcado em emoções profundas e tempestuosas. Mas é texto, é expressão. É expressionista, talvez. E aprendi com vc a ler o texto enquanto texto. Podia ser um vulcão, que depois da erupção, se extingue, ou um dia de fúria que findasse em sereno esgotamento, o um mar revolto, que depois da tormenta viesse a dar com a calamria... mas tudo apenas texto, tessitura rsrsrs O autor não importa na leitura, e ser amigo do autor é um ruído danado na recepção do texto kkkkk Mas estou falando muito e hj uma médica me pediu silêncio. O nome disso tu bem sabes... ansiedade. Nada que uma dose de bromazepan não amenize. Ou um poema tempestuoso como esse...

Paz para ti
e fraternidade nos corações e mentes...

Ilaine disse...

Oh, meu Deus, que coisa mais bonita!
Ouvi com você esta ária e me perdi em seus adágios. Sonata-poema... e me emocionei. Ah, poeta! Grandioso!

Beijo no coração

Jacinta Dantas disse...

E se, ao ler, os sentimentos são dos leitores, aqui, nesses versos, faço um passeio pela minha infância, com ventos e chuvas adentrando a vida, impondo o recomeço.
Um abraço

lula eurico disse...

Ilaine, irmãzinha querida,
as coisas vibram-me por dentro, cordas insuspeitadas. Depois de uns dias "travado", egóico, agora vou me lançando fora. Os textos, sou sincero, não estão com os cuidados de artesão, como gosto. Não os tenho revisado. Há senões. No futuro posso refazê-los. Mas têm uma força de cura da alma. Colocam-me pra cima. Dão-me essa serenidade do fim desse poema...
Se vcs soubessem que dia foi esse. Como a nossa sociedade visa o lucro antes da vida, e como a revolta me põe de pé rsrsrs entenderiam o que há de denotativo nessa tempestade...kkk

Abraço fra/terno.

P.S.: Há momentos em que lembro do Cristo a escorraçar os vendilhões do templo. Até Ele se indignou com os mercenários. Os Dele eram da fé, os meus são os da saúde! rsrsrs

Não agravando a todos, pois tenho achado pessoas lindas e são a grande maioria. Aliás, todos tem os seu motivos, né. Entendo que a medicina adoece os seus profissionais, também. rsrsrs

lula eurico disse...

Jacinta Dantas, menina com nome de flor, e sobrenome heráldico,
refloresço no teu blogue e recomeço contigo sob a chuva abençoada dessas lembranças. Tive uma infância maravilhosa. Até hj aqui perto há um resquício da mata atlântica. Quantas vezes fiz "trilhas" mata a dentro, num tempo em que nem se falava em ecologia. Quantas vezes a chuva nos pegava sob as árvores. E lá havia um velho engenho de fogo morto dos Brennand (hoje é o ateliê do famoso filho escultor, o Francisco). Bem, volto á infância nessa tua leitura.
Mas já falei demais. Ando ansioso.

Abraço fra/terno.

Fabiano Silmes disse...

Putz cara...este é com certeza um daqueles textos em que o lirismo é exaltado em cada verso...

Abração

www.vortexproject.blogspot.com

Anônimo disse...

Lindo dimaisdaconta seu poema.
Agora, ameeei a foto.
Gosto tanto de vento que quando era criança minha mãe me proibia de ir no terreiro porque se não eu não saia até cair a chuva.
Freud deve explicar.
Bjs querido.

lula eurico disse...

Fatima,
o vento e todas as forças aórgicas, aquelas que não são produzidas pelo homem; admiro a todas com o pasmo dos aborígines, e com humildade de criatura entre criaturas.
Deus á maior, como dizem os árabes.
Alah-hu-acbar!!!
E pequeno sou eu!

Abraço fra/terno, mineiramiga!

Anônimo disse...

Eurico
Obrigada pela visita e parabéns pelo espaço, está maravilhoso.
Abraço

Beti Timm disse...

Recebi teu abraço com muito carinho e emoção. Estou afastada dos amigos(as vezes burlo a vigilância de minha filha e dou uma passeada). E chegando aqui deparo-me com versos melodiosos o que nõ me espanta. E cda vez mais sinto-me com desejos de conhcer tua cidade que deve ser linda, ainda mais descrita com tuas palavras perfeitas.

Ainda tenho um longo caminho a percorrer no problema do meu braço, mas qdo posso, dou uma escapada.

Beijos e obrigada por lembrar de mim.

lula eurico disse...

Betti,
aproveito para dar parabéns pela filhota jornalista.

lula eurico disse...

Raquel,
passo a recomendar o teu blogue a todos os meus amigos e amigas de bom gosto. Teu blogue é um clássico! Ler o que tu postas é como ouvir uma sinfonia!

Abraço fra/terno.

Paula disse...

Amigo! Ah, as festinhas do almirante já foram melhores! Na hora que tava ficando bom o menino levou as baquetas e acabou o batuque! Tomara que a do Ponto de Cultura seja mais animada! Heheheh Sinta-se convidadíssimo a visitar o Estrela Brilhante de Igarassu. Os ensaios estão pra começar, te aviso qd começarem mesmo. É mesmo uma nação muito linda! Também, 184 anos de história não é pra qualquer um. Foi Bruno quem fez o site, eu traduzi! Heheheh Vendendo o nosso peixe! a terça-negra foi ótima aquele dia. Melhoras pra vc, viu? abraço!

lula eurico disse...

O Ponto de Cultura vai dar um trabalhãaao daqueles. As pessoas da família de Teté não enxergam o maracatu enquanto Cultura, mas só enquanto divertimento. Querem só o lado o lado folguedo. Eu preciso de gente que queira resgatar a história e as raízes desse grupo, que traz a herança das irmandades de pretos e do Rei do Congo. Espero ter sorte nessa empreitada.

Abraço.
E parabéns pelo belo trabalho Estrêla, a vc e ao Bruno. Gostaria de saber o teu nome, amiga P! rsrsrs