Uma Epígrafe



"...Quanto à poesia, parece condenada a dizer apenas aqueles resíduos de paisagem, de memória e de sonho que a indústria cultural ainda não conseguiu manipular para vender."...[Alfredo Bosi, in O Ser e o Tempo da Poesia, p. 133]

terça-feira, junho 16, 2009

Ode ao lirismo whitmaniano

imagem do Google



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Melhor mesmo é dizer que o céu está azul,
Quando ele, de fato, azul está.
E aconchegar-se à realidade de um dia azul...

Às vezes, me dá essa necessidade de um lirismo transgressor,
lirismo de automóvel desgovernado.
De céu vermelho em manhã tempestuosa.
Lirismo de força centrífuga em órbita incerta.

Então olho para meus pés
E, cá do alto, me vejo majestoso.
Essas bobagens que circulam
em um cérebro propenso às tolices místicas.

Achegar-se ao mundo com lentes convexas
E rir-se só pelas ruas.
Rir-se das inúteis verdades nuas e cruas.
Rir-se como um pândego
Ou como uma criança,
Que, em sua poderosa inocência,
supera leões e dromedários.

Rindo, apropriar-me das certezas
fugidias feito sons de pífanos.
Essas inumeráveis evidências que me seguem
Como a um flautista que enfeitiça camundongos.

Um mundo lá fora está a ruir.
Que me importa o mundo, ó meus botões!
Importa que desabrochem p/rosas desses brotos.
Importa o folguedo de homens rotos.
E a festa dos sentidos quando nada faz sentido.

Entanto, ouvia-se um fragor de catadupas
E era estranho o sono que me dava nalma.
Melhor mesmo é dizer que o céu está azul,
Quando ele, de fato, azul está.
E aconchegar-se à realidade de um dia azul...

17 comentários:

Dauri Batisti disse...

O ode ao lirismo Whitmaniano está perfeito. Sua escrita está maravilhosa. Erudita sem ser pedante, elaborada e gostosa de ler. Vou ler de novo.

Um abraço.

lula eurico disse...

Ai, Dauri. Erudição é o acúmulo de saberes, e eu sou apenas uma colcha de retalhos de leituras. Talvez o meu único mérito seja fazer boas combinações com o que lembro dos livros lidos. rsrsrs

Mas te agradeço pelas palavras, pq sei da tua sensibiidade para ler o que está ao teu redor. E fico sinceramente lisonjeado por vires ler isso que escrevo. Reler, então, é melhor ainda. Deixo sempre coisas nas entrelinhas, para leitores como vc. Isso é o mais importante pra mim, que há poucos anos quase não era lido. Essa é a minha praça pública. É aqui que subo num banquinho e digo meus poemas.

Abraço fraterno.

Christi... disse...

Gostei muito, parece música ao ler..

Beijos

Beti Timm disse...

E você diz seus poemas com graça e uma sensibilidade que nos deixa leve como plumas. como é bom conhecer e ler pessoas que conseguem nos acercar com humildade e essa cultura serena.

Beijos

lula eurico disse...

Grato, Christi, bom ter vc aqui.

lula eurico disse...

Oh, Beti, amiga querida. Fico muito feliz em passar isso pras pessoas. Mas reputo esse sentimento à tua alma eve de artista.

Abraço fraterno.

Ilaine disse...

Lindo poema, meu poeta!
Que maravilhoso vir aqui e escutar música, enquanto leio os seus escritos tão especiais.

Beijo

lula eurico disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
lula eurico disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
lula eurico disse...

Ilaine,
minha representante na Dinamarca. Representante do que há melhor no Brasil: a generosidade de seu povo.
Eu é que fico sinceramente lisonjeado com a visita de todos vocês.
SAbe, essa Ode ao Lirismo foi surgindo enquanto eu dirigia em plena BR-101, norte, rumo ao meu trabalho. Chovia. O céu estava de um cinzento atormentado. Mas eu gosto da chuva, dos raios, dos trovões. Sinto-me bem com as forças da natureza. Afinal, não estou nela, eu sou ela. E, enquanto dirigia cuidadosamente, sob o aguaceiro, me foi vindo essa frase de apreensão lírica, que traduz o fingere do poeta: "melhor dizer que o céu está azul."
Por que te conto isso?
Porque pessoas velhas, como eu, gostam de prosear. rsrsrs
Porque esse meu processo criativo deve ser algo público. Faz parte de minha poesia. Preciso mostrar os andaimes da torre anti-babélica, que estou a construir... Ih, amanheci inspirado rs
Anti-babélica? Essa palavra já anuncia um poema novo.
Explico-me:
Babel é a alegoria do desamor, da discórdia, da confusão entre mentalidades, antes de ser confusão das línguas. Construir, pois, uma torre anti-babélica é a busca da "onímoda conexão", daquilo que "une coisa a coisa e tudo a nós", segundo Ortega y Gasset. Essa consciência universal, chamada Amor.
Amanheço, amiga Ilaine, sabendo que lá longe, num frio país da Europa, há um coração de mulher, de mãe, de pessoa humana, que está aquecido por essa chama invisível da fraternidade entre as pessoas.

Esse é o mundo virtual dos sonhos. E se aqui ele é possível, deve ramificar-se pela vida a fora. Ramos robustos e viçosos de um sonho possível e anti-babélico. Eis a internet, a torre que une as mentalidades, e que faz do amor fraterno, a língua universal.

Bom dia, bom dia, mesmo!

lula eurico disse...

Beti, leia-se "leve" onde digitei "eve". rsrsrs

Abraço afetuoso.

Ilaine disse...

Eurico!

Ia lhe dizendo... Tu conduzes as palavras por espaços maravilhosos e e as enfeitas com tua sabedoria e com teu lirismo. Obrigada por tudo que escreveste aqui e lá no ensaios.

Ah, como é bom trocar estas palavras com você.

Saudades!

lula eurico disse...

Grato, Ilaine. Dá um beijo nos teus pequenos e um abraço no maridão!

Sueli Maia (Mai) disse...

Ah! Eurico.
Tu me emocionas e. tuas palavras, escavam e esgarçam meu coração.

Abraçamigo,
Mai

Ilaine disse...

Sim, darei! Obrigada!

Mas olhe, quase não dá para falar em "pequenos". Matheus já vai fazer 16 anos em setembro e Christian 13... Ai, como o tempo passa. Mas é bom vê-los crescer e se tornar homens.
São brasileiros de coração!

Abraço

lula eurico disse...

Mas a minha mais velha faz 31 e parece uma meninota. E o mais novo faz 22 em novembro. rsrsrs Sempre serão meninos pra nós, Ilaine.
Eles tem sorte de ter o coração brasileiro. Creio que é a última escala da evolução, o coração brasileiro. Coração do mundo, pátria da boa nova!

Abraço, amiga.

lula eurico disse...

Oh, Mai, amiga d'infancia. Receba meu abraço de bom dia!