Uma Epígrafe



"...Quanto à poesia, parece condenada a dizer apenas aqueles resíduos de paisagem, de memória e de sonho que a indústria cultural ainda não conseguiu manipular para vender."...[Alfredo Bosi, in O Ser e o Tempo da Poesia, p. 133]

domingo, junho 14, 2009

EULÁLIA (um fado à lusofonia)































OIÇO um canto de fadista.
És tu que cantas,
A essas minhas esp’ranças,
Que são tantas:

Sons em voz de lusitana
rapariga
...trazes, dos mediterrâneos,
as cantigas,
feito rios subterrâneos
de água amiga,
que escorrem, escondidos,
Deus o sabe,
à foz, em mar cristalino
do Algarve...

***

É teu, o aceno triste
de saudade,
no lenço branco que vejo,
vindo dos balcões moçárabes?

***

Um dia fiz duas trovas
com sotaque visigodo,
numa eufonia de motes,
lamentando a pouca sorte
de meu coração tão doudo:

I

A saudade singra os mares
Desviando dos abrolhos
E se alimenta dos ares
Da lembrança dos teus olhos.



II

Ontem foste campesina
A ouvir cânticos moiros;
Já te encontrei concubina
Dum sultão lúbrico e loiro.


***

Todas as linguagens trazes
numa etimologia
de cristais
em fonemas aéreos e vocálicos;
musicais.

Música aleatória e vária
em plangentes alaúdes:
ai! moiraria!
Potros, selins, bandeirolas,
A festejar tua vitória
Que é tão minha!

Vielas da Albufeira:
Casas lavadas de branco.
Quanta luz!
Não adianta chorares
Quero cruzar verdes mares,
com essa cruz.
Eis as velas triangulares
de uma fragata ligeirinha
que, por fé, minha rainha
batizara de... Jesus.

***

É teu, o aceno triste
de saudade,
no lenço branco que vejo,
vindo dos balcões moçárabes?



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A imagem, cujo sítio originário está nela linkado,
é da Albufeira, região de Algarve, Portugal,
último recanto luso tomado aos mouros,
derradeiro nicho de resistência da Língua Portuguesa.
Embora, aqui, não se negue a riqueza dos empréstimos linguísticos
e do vocabulário da cultura árabe.

Ave, Mátria!!!
Ave, nossa Língua Portuguesa!!!


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Nota do editor:
reeditar Eulália foi a minha maneira
de trazer o lado positivo do elemento branco
na formação da alma ancestral brasileira,
fechando essa série de poemas, que se iniciou
em maio, com o poema Tantãs, uma celebração,
e se encerra com este Eulália, uma loa à língua portuguesa.


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11 comentários:

OLHAR CIDADÃO disse...

EURICO

BOM DIA

Maravilhosa essa sua postagem. Bonita, sensível, justa.

Parabéns

Um abraço

FERNANDINHA & POEMAS disse...

QUERIDO EURICO... MARAVILHOSA POSTAGEM... EU ABRAÇO-TE COM O MEU CORAÇÃO...VOTOS DE BOM DOMINGO,
FERNANDINHA

Paula Barros disse...

Oi, Eurico, não se preocupe, não pularemos de pedra nenhuma, nem jogaremos pedras em ninguém, quando eu e Mai estivermos juntas. rsrsr Obrigada pela preocupação, é pertinente, pois, pois....


TEnho vontade de conhecer esse mundo chamado Portugal.

Muito bonito esse poema.

abraços e beijos em vocês.

Sueli Maia (Mai) disse...

Miscigenar povos, mesclar os sabores das línguas...Misturar instrumentos, cruzar pernas ou não, mas cruzar oceanos nos mares e marés dos amores de todas as raças, de todas as gentes, de todos os Países.
Miscigenação.
- "VIVA o povo brasileiro!"
- E que a Língua, em nossas línguas, sempre,
essa 'Lingua Portuguesa' e que seja sempre VIVA.

Belíssima série, Eurico. Belíssima!
Cultura.
Ancestralidade.
Raiz!

És Simplesmente Bárbaro.
P.S. Eu canto esse fado'Canção do Mar' e tentei 'cantarolar' esse fado que escreveste aos povos d'além mar...

Abraçamigo,
Mai

Sueli Maia (Mai) disse...

Ah! Ainda lembrei que sou absolutamente fascinada pelas imagens que acompanho de 'chaminés' em 'Algarve'.

Uma arquitetura fabulosa.
Chaminés de Algarve estão em minha memória virtual.


Outro carinho,

Mai

Elaine Gaspareto disse...

Olá!
Bom dia!
Estou passando para desejar uma semana linda, com muitas coisas boas.

Beijos e fique com Deus.

Jens disse...

Oi Eurico;
Sons indíos, negros e brancos - eis a nossa matéria prima. Estimulante o conjunto de poemas.
Um abraço.

Beti Timm disse...

Nada tão puro, tão casto como o versejar seu, onde encontramos nossa essência e nosso berço. Bom te ler, em versos conexos e rimas melodiosas.

Beijos

Ilaine disse...

Eurico!

Lindos poemas! Ouço sua voz e seu ritmo português. Um fado, com certeza!

Eurico, iríamos com os meninos para Algarve em julho... Mas nossa, como é caro nesta época. Talvez eu possa conhecer Albufeira no outono... Quem sabe! Até lá, sonho.

Beijo

Max Coutinho disse...

Lula,

Que homenagem linda! Para mim não há nada mais bonito que a Lusofonia: é a união de tantos povos, que embora diversos se unem por uma só voz: a língua Portuguesa :D!

Amei!

Um abraço

lula eurico disse...

Outro abraço, Max. E seja sempre bem vindo.