Uma Epígrafe



"...Quanto à poesia, parece condenada a dizer apenas aqueles resíduos de paisagem, de memória e de sonho que a indústria cultural ainda não conseguiu manipular para vender."...[Alfredo Bosi, in O Ser e o Tempo da Poesia, p. 133]

domingo, maio 24, 2009

Tantãs - (uma celebração)






Dionisos é negro e dança em transe,
Vertiginosa dança com seus mitos.
Escuto o som distante:
Tum dee dee dum!
Maracatumbam tambores:
Tum dee dee dum, dee dee dum!
Vozes líquidas vazam dos casebres
onde se dança à transmutação.
Abro a janela,
instante numinoso,
júbilo de concelebração:
Tum dee dee dum a um Pã universal!
Sem guante a africana gesta e um falo
fecunda intensamente a natureza.
Regaço, cosmos, mãe, força telúrica:
Deus é um útero,
um dentro, um aconchego.
E solto Dionisos dança negro,
abandonado à ondulação da vida,
vertiginosa dança com seus ritos:
Tum dee dee dum
com alegria cósmica,
voz de tambores, noite suburbana.
Sambarrebatamento nos barracos
e percutidos gritos ao Infinito!



***


Eurico
Poema publicado originalmente
no zine Eu-lírico n.º 4, Ano 1995,
em Edição comemorativa dos 300 anos de Zumbi
Fonte da imagem:



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Nota do editor:
O motivo dessa reedição do poema Tantãs
é a total falta de espaço na mente para poetar.
Ando com a cabeça, o corpo e os membros
todos dedicados a pensar o projeto do
Ponto de Cultura Almirante do Forte.
Lá estou eu a produzir um roteiro para um curta,
uma cartilha com a história do maracatu para as crianças,
um álbum iconográfico/documentado sobre as origens grupo,
uma grife afro para gerar renda extra,
e já planejando o carnaval 2010.
E tudo isso é a primeira vez que faço na vida.
Entenderam porque não tenho postado?
rsrsrs


Em tempo:
e corrigindo um lapso da primeira publicação,
o poema é dedicado ao poeta e político senegalês,
Leopold Sedar Senghor (1906-2001)
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6 comentários:

Dauri Batisti disse...

O que importa são teus trabalhos, o sangue quente circulando forte por cada empreendimento. Isto é o que você é chamado a viver agora. Enquanto isso para o nosso deleite você vai reeditando estes teu preciosos e esmerados poemas.

Abraço.

Sueli Maia (Mai) disse...

E eu adorei porque ainda não conhecia.

Ouvi sons, vi imagens senti meu pé na terra mãe.

Carinho,

mai

Jens disse...

De minha parte, Eurico, agradeço a republicação, pois não conhecia o poema. Gostei; nações em festa!
Um abraço.

Luis Eustáquio Soares disse...

salve, querido poeta, vejo que anda mesmo com mil e uma ações de criações, enquanto seu dionisio negro dança na gramática, através da embriaguez de partos presentes seus, gravi-dez.
saudações
luis de la mancha

Max Coutinho disse...

Podes não estar a postar com regularidade, mas quando postas, postas!!

Adorei este texto! Eu adoro dançar, nasci em África, e sei bem o que estas palavras expressam. Obrigada :D!

Um abraço

lula eurico disse...

Abraço, Max. Bom ter vc aqui.