Uma Epígrafe



"...Quanto à poesia, parece condenada a dizer apenas aqueles resíduos de paisagem, de memória e de sonho que a indústria cultural ainda não conseguiu manipular para vender."...[Alfredo Bosi, in O Ser e o Tempo da Poesia, p. 133]

quarta-feira, abril 15, 2009

O Elefante (uma análise eudemonológica)
























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a Arthur Schopenhauer




Poeta jovem e volúvel:
assemelhava-se
a uma pêndula,
inconstante entre quereres,
a oscilar entre um desejo e outro,
feito menino na feira,
ante o colorido das frutas maduras.
Restou uma, entre as mãos:
a fruta dos (des)caminhos.

Poeta adulto, porém perdido:
assemelhava-se a um geômetra enlouquecido,
tentando fazer da linha reta, a superfície,
a ziguezaguear pela vida.
Produzia, com pontinhos salteados e desconexos,
uma obra inconclusa,
e de um impreciso pontilhismo.

Poeta maduro, todavia indócil:
assemelha-se, enfim,
a um elefante capturado
que, por muitos dias, estrepita horrivelmente
até perceber inútil essa peleja
e, então, subitamente amansado,
ofertar a cerviz ao jugo,
domado para sempre pela Poesia.

Hoje, pesado e grave,
equilibra-se sobre poemas bissextos e baldados.
Está feliz
e faz afago aos circunstantes.

Já sabe que a vida é instável e circense

feito um frágil tamborete, sob a lona...



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8 comentários:

Éverton Vidal disse...

Eurico, sou menino ainda, e quanto mais cresço mais percebo que tenho muito o que crescer. Com alegria, digo que aprendi com meus pais a reconhecer pessoas sábias e ouvi-las. E gostei daqui porque você tem o que dizer e diz.

Esse poema é especial. A gente se reconhece nele... Eu sou poeta jovem rs.

Abraçamigo!
Inté.

Paulo Roberto! disse...

Caros amigos e amigas,
que comigo
compartilham dessa
data mais que especial,
obrigado! ^^

Meu sincero
e singelo
agradescimento...

Visto que não
sei esculpir
uma estatueta
nas estrelas
pra lhes mostrar
e provar
a minha admiração,
mas
nas entrelinhas
de cada um dos meus versos
estão
sinceros
e impressos
os meus sentimentos
por cada um de vocês
leitores,
poetas,
mais que isso
caros amigos!

Abraços á todos!
Até sempre...

Dauri Batisti disse...

Está feliz. Ponto.

Só falta dispensar a tabuleta: poeta.

Restará a madurez, a doçura, a beleza.

Um abraço.

Paula Barros disse...

"Já sabe que a vida é instável e circense
feito um frágil tamborete..."


E as vezes nós nos tornamos pesados demais. Por nós mesmo, pelo que vamos nos tornando.

abraços, me fez pensar.

lula eurico disse...

Paula e Cristina,
danado é que a gente está se equilibrando sobre ela, a Vida, esse frágil banquinho.

Éverton,
tua amizade está me renovando. Sábio o que, menino! Todo errado na vida, em ziguezagues. Agora é que vim descobrir Schopenhauer. Ah, se eu fosse moço rsrsrs

Paulo Roberto,
vc me passa uma energia muito boa.
Parabéns pelo niver do blogue!

Dauri,
meu irmão e amigo! A tabuleta que vou botar é a de "garagem". rsrsrs É um ditado que se usa aqui quando o cabra tá velho. kkkkk
Mas aceito o poeta. Demorei demais a assumir isso. E vindo de um poeta da tua grandeza, muito me honra.

Abraço fraterno a todos.

Dauri Batisti disse...

"Interessante, também só encontro livros de poesia no recanto da livraria. E isso a faz superior, sua inutilidade, num mundo em que o utilitário sempre deixa resíduos e destrói".

Amei este teu pensamento. Muito bom. Obrigado. O útil deixa resíduos. CARAMBA! Depois volto com mais calma.

Abraço forte.

Ester disse...

Linda imagem!!

um elefante domado pela poesia,

esta sou eu.


bj,

Rejane Martins disse...

Faça-se o registro:

Felizmente existe, existiu e existirá um bando de gentes, ao qual Eurico pertence, num país chamado Brasil - um bando de Zona de Fronteira, aquele do João Bosco:
- rei eu sei que sou, sempre fui, sempre serei, Oba! de um continente por se descobrir...
já alguns sinais estão aí sempre a brotar do ar de um território que está por explodir!
sim, mas é preciso ser sutil pois justo na terra de ninguém sucumbe um velho barril.
sim, bem em cima do barril, exato na zona de fronteira eu improviso o Brasil.
e minha cabeça voa assim, acima de todas as montanhas e abismos que há no país!
mas algo chama a atenção: ninguém jamais canta duas vezes uma mesma canção.

- sempre muito bom te ler, Eurico! Gracias.