Uma Epígrafe



"...Quanto à poesia, parece condenada a dizer apenas aqueles resíduos de paisagem, de memória e de sonho que a indústria cultural ainda não conseguiu manipular para vender."...[Alfredo Bosi, in O Ser e o Tempo da Poesia, p. 133]

sexta-feira, abril 17, 2009

Ciranda da Inutilidade (ou rondó silesiano)
























"A rosa não tem porquê.
Floresce porque floresce.
Não cuida de si mesma.
Nem pergunta se alguém a vê..."
Angelus Silesius


A luz dos olhos de um gato
na noite feita de breu
é inútil feito o piscado
das estrelas lá no céu.
Gosto da flor porque gosto.
E esse gostar é só meu.
Assim, gosto da poesia,
Posto que inútil, ela e eu:

Se o cravo arengou da rosa...
Se a rosa pôs-se a chorar...
Faz sentido, choro em rosa?
Algum sentido, em brigar?
Só faz sentido, na roda,
Girar, apenas girar.
Por que criança vai dormir,
No melhor da brincadeira?
E sei lá eu! E eu sei lá!
Não me perguntem por nada
Ciranda é só cirandar.

Se o dia é bom pra que noite?
Por que existem baratas?
Os chatos andam nas chatas?
Quem ama as botas é o boto?
Tantas perguntas, ó Deus!
E eu sei lá!
E sei lá eu!

Claro que eu não disse nada.
Nem vim aqui pra dizer!
É tarefa vã, baldada,
De quem veio me entender.
Poesia não é pensada
Poesia não tem porquê:

É inútil o olhar do gato tó
na noite feita de breu eu eu
Nada explica cá
o alvoroço çó
das estrêlas
das estrêlas
lá no céu.
Nihil!



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Eurico :)
(permitam-me essas pequenas tolices,
tão inocentes, quanto pueris rsrsrs)




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8 comentários:

Maria Luiza Vargas Ramos disse...

Nossa! Gostei demais da sua poesia!
É lúdica, com muito ritmo. Parabéns!
Com sua permissão, vou linkar seu blog ao meu, só para ser mais rápido de visitá-lo quando quiser.
Ah, passe lá no meu bloguezinho também. É simples como o nome, mas quem sabe lhe inspire também.
Um abraço.
Maria Luiza

Dauri Batisti disse...

Tolices bem feitas como esta se tornam outra coisa: poesia.

Um abraço.

Jacinta Dantas disse...

Eurico, no Eu-lírico, numa outra fase.
É...
Aqui parece ter as mãos da Allana nos sentimentos que fazem brotar poesia.
Beijos

lula eurico disse...

Maria Luiza, quando os bons ventos do ritmo aqui aparecem, haja ritmo. Mas, certas vezes, o tempo fica assim, parado. Então os poemas me saem lerdos e monocórdios rsrsrs não é o caso desse "divertiment"o acima.

lula eurico disse...

Dauri, amigo. Vc sabia que nossas conversas virtuais podem servir de motes pra poemas? Tenho feito alguns assim. Mas, nesse, em especial, fiquei com a impressão de não ter atingido o ponto. Errei na batida da massa! rs

Fica como um "divertimento", mesmo sabendo que essa palavrinha tem raízes muito profundas.

Abraçamigo e fraterno.

lula eurico disse...

Acertou, Jaci. Allana está me ensinando a cuidar de meus filhos mais velhos com mais atenção e carinho. Ela me amplia as emoções. E escapole por entre as linhas dos poemas. Eu sou o "Tio Uíco" dela. E como é bom isso! Ando com renovadas esperanças! Tá nas vista, né?

Éverton Vidal Azevedo disse...

Eurico,

Me emocionei com esse poema. Eu ri, ele é engraçado, e me arrepiei também.

Porque o que muitos não percebem é que nem só de utilidades vive o homem. A gente se alimenta daquelas coisas que parecem não ter valor.

Quando vasculha a memória encontro cada coisa. E se guardei é porque amei.

E a poesia, eu gostei disso, ela florece porque tem de florescer. A beleza e a verdade, elas se impõe, mesmo quando tudo é contra né.

Coisa boa é prestar atenção nas coisas inúteis da vida.

Aquele abraço.
Inté.

Rejane Martins disse...

...pois Eurico, cada vez que venho buscar notícias fico impressionada com a exatidão daquilo que encontro, e tu dizes que não achaste o ponto!
Estou pra dizer que se não fossem estes teus poemas ditos inocentes e pueris não haveria procura, deve ser esse vício de Mário Quintana, devem ser essas minhas cismas tolas, só pode ser, pura tolice!