Uma Epígrafe



"...Quanto à poesia, parece condenada a dizer apenas aqueles resíduos de paisagem, de memória e de sonho que a indústria cultural ainda não conseguiu manipular para vender."...[Alfredo Bosi, in O Ser e o Tempo da Poesia, p. 133]

terça-feira, março 24, 2009

Sonata para o Dr. Alzheimer (1º mov.)





















Não ajunteis tesouros na terra...
Mt 6:19


Toda memória é argêntea.
Subterrânea.
Nela não há oiro.
Inúteis, pois, os tesouros sem mapa...

De que adianta a filha
E essa multidão?
Agora tudo é ilha.
E todo o esforço é vão.

Um fado inesperado.
Sim, uma velha música distante.
E estar exausto.

Toda memória é argêntea.
Caverna silenciosa e erma.
Inúteis, pois, os movimentos.
Não há mais oiro algum.






14 comentários:

Dauri Batisti disse...

O jeito lusitano com que você escreve estes versos tem dado a eles uma beleza extra.

Abraço.

Paula Barros disse...

Eurico, as vezes ficamos de mãos atadas, temos que acreditar em forças superiores e pedir serenidade para ajudar com as nossa ações.

abraços para você e Kelly

lula eurico disse...

Dauri, amigo, vc sempre descobre algo nos meus textos. Prezo os arcaísmos, sim. E certa construção ao modo luso. Mas, nesse caso, o arcaísmo remete à memória (da palavra) e da pessoa a quem dedico o poema. Vc captou bem demais.

lula eurico disse...

Paulinha, vc q conhece a história de perto, sabe o q tento expressar com esse texto tão doloroso pra mim.
Abraçamigo e fraterno.

Gerusa Leal disse...

Eurico, dor transfigurada em arte, é arte. Que belíssimo poema.
Abraço
Gerusa

Jacinta Dantas disse...

Expressar o sofrer assim, de um forma tão bela...
Que a poesia faça companhia no seu tempo de introspecção.
Beijo

Cecília disse...

Meu amigo, Lindo e triste, profundo...
Gosto da forma como você escreve, como se expressa...

Beijão!!!!

Elcio Tuiribepi disse...

Olá Eurico, passamos quase ilesos pela seg...estamos quarta, mas dessa dor destaco este trecho...por ser ilha...
"De que adianta a filha
E essa multidão?
Agora tudo é ilha.
E todo o esforço é vão".
Um abraço na alma...valeu pela visita...

DiAfonso disse...

Plasticamente BELO... E argênteo, o sabor... Sem comentários mais, GRANDE POETA!

PAX ET BENE, Cumpadi!

lula eurico disse...

Prof. Diógenes, bondade sua, mas se com 1,69m de altura se pode ser chamado de grande...rsrsrs Brincadeira.
Aceito só o poeta, que pra mim significa "fazedor", aquele que faz, vide poíesis.
Abraçamgo e fraterno.

Unknown disse...

Linda inquietação, Eurico !


Abr.fraterno. Yvy

Sueli Maia (Mai) disse...

Sempre há dor na ausência... Estranhamente o 'desgoverno' da memória nesse caso, é mais doloroso para quem está fora. Porque a quem a memória 'desabita', é criança outra vez...

Eu li há pouco que há momentos em que a diferença entre o berço e a lápide, é muito tênue...Isto nos deixa impotentes.

Mas sobre a lusofonia em teus poemas, eis aí uma reverência que te faço.
Aprendo contigo.
Eu sempre disse isto desde que nos conhecemos.

Forças, amigo.
Esse é o mal do século.
Precisamos aprender a lidar com Alzheimer.

Muito carinho,

Mai

Unknown disse...

Caro poeta!

Agora você me pegou de jeito. Caramba! Isso é refinar a arte de escrever. Minha mãe teve Alzheimer, durante cinco anos e foi salva do triste final por um infarto.

Vivi, ou re-vivi cada palavra intensamente. Riquíssimo poema-real.

Aguardo um sobre o Mal de Parkinson, que levou meu pai.

Beijos

Mirze

lula eurico disse...

Ah, Mirze,

uma grande amiga foi acometida do mal aos 51 anos, coisa rara, mas violentíssima, e isso me fez escrever os 4 poemas dessa série.
Fiquei triste e revoltado.
Mas, o tempo me vai ensinando a serenidade.

Abç fra/terno.