Uma Epígrafe



"...Quanto à poesia, parece condenada a dizer apenas aqueles resíduos de paisagem, de memória e de sonho que a indústria cultural ainda não conseguiu manipular para vender."...[Alfredo Bosi, in O Ser e o Tempo da Poesia, p. 133]

domingo, janeiro 25, 2009

Olhando pro futuro...

















Daqui, desse recanto protegido
dos raios solares pela sombra amiga
de nossas irmãs árvores...
quero te mostrar o futuro, Alana...


Olha, minha menina, essa claridade esverdeada
é o teu futuro!
Eu te prometo lutar,
não sei com que armas não-violentas,
sinceramente, não sei...
mas te prometo lutar para que esse planeta
em que viverás daqui a 50 anos ou mais,
(quando terás a minha idade)
seja pleno de paz, de justiça,
além desse indispensável ar puro.
Segure na mão desse homem de meia idade, frágil e desarmado,
que te promete lutar,
mesmo que em vão, lutar,
para que possas viver num planeta,
não apenas verde,
mas harmonioso e belo.

Eurico
25jan2009





Poupem as crianças...





















Que sobre as crianças do mundo
os adultos não lancem mísseis,
tele/guiados por suas crenças ridículas,
estúpidas...


Que se matem entre si, os terroristas sem Estado
e os terroristas de Estado.
Matem-se, ora essa!
Mas poupem as escolas, os parques, as florestas...
Poupem as indefesas crianças, os animais...

Não precisam abdicar de sua insana guerra.
Não. Podem morrer e matar
até não sobrar nenhum pra reivindicar a terra.
Mas deixem em paz as crianças,
sejam judias, palestinas, vietnamitas, afegãs.


Não joguem bombas sobre suas bonecas e bicicletas,
sobre a sua lúdica inocência.

Matem-se entre si, senhores, defendendo cada um sua cova rasa
e seu fundamentalismo sagrado e antivital.
Mas não arrastem pra essa loucura,
as pequeninas vidas que perecem sem causa.


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Imagens:
O poeta-tio-coruja com a sobrinha Allana, durante passeio no Horto-florestal Dois Irmãos,
Recife - PE. Que farra!!!





sexta-feira, janeiro 23, 2009

Ensaio com Naná Vasconcelos e algumas reflexões pueris...


















Ontem, crianças riam sobre o tablado armado no meio da rua humilde. Imitavam, com pequenos pedaços de pau, as baquetas do grande percussionista que ali se apresentara. Eu vi os olhos das crianças do maracatu, brilhando de felicidade.

Por falar em crianças com alegria e paz... não pude deixar de lembrar, mesmo em meio à festa de ontem,
dos olhos desesperados da menina vietnamita,
das milhares de pequeninas rosas mortas em Hiroshima...
dos pequeninos judeus dizimados nos campos de concentração nazistas.
Essas não tiveram a chance de brincar...

Por essas que morreram no passado é que lamento a insanidade em Gaza.

Não se perseguem terroristas, atirando em civis indefesos, ó Deus! O mesmo nacionalismo racista do hitlerismo, esconde-se nas desculpas esfarrapadas de Tel-aviv. Mata-se por matar, na Faixa de Gaza. Crueldade não tem pátria, nem cor, nem raça!

Até quando o Estado de Israel ignorará os mandamentos da lei mosaica?
Como direi que amo a Deus, se abomino o meu próprio irmão?
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sábado, janeiro 17, 2009

Caim redivivo






















Falar de Gaza com os olhos úmidos de incertezas.
Quem tem razão?

Falar de Gaza é olhar bem fundo nossas vilezas.
Por que razão?

Falar de Gaza é ter à mesa o apocalipse em vez de pão.
Não há razão.

Irracional é todo ódio que mata o irmão.


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quarta-feira, janeiro 07, 2009

Por uma cultura de paz!

Não acumulem mais ódios. A espiral da violência, ensinava Dom Hélder Câmara, é interminável. Só os gestos e iniciativas de reconciliação e paz podem interrompê-la.
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Pelas crianças, pela população civil, pelos velhos, pelas grávidas e pelos enfermos,
pedimos o imediato cessar-fogo bilateral em Gaza!

terça-feira, janeiro 06, 2009

Gaza by Saramago

São esses os terroristas que o Estado de Israel está atacando?











Gaza

By José Saramago


A sigla ONU, toda a gente o sabe, significa Organização das Nações Unidas, isto é, à luz da realidade, nada ou muito pouco. Que o digam os palestinos de Gaza a quem se lhes estão esgotando os alimentos, ou que se esgotaram já, porque assim o impôs o bloqueio israelita, decidido, pelos vistos, a condenar à fome as 750 mil pessoas ali registadas como refugiados. Nem pão têm já, a farinha acabou, e o azeite, as lentilhas e o açúcar vão pelo mesmo caminho. Desde o dia 9 de Dezembro os camiões da agência das Nações Unidas, carregados de alimentos, aguardam que o exército israelita lhes permita a entrada na faixa de Gaza, uma autorização uma vez mais negada ou que será retardada até ao último desespero e à última exasperação dos palestinos famintos. Nações Unidas? Unidas? Contando com a cumplicidade ou a cobardia internacional, Israel ri-se de recomendações, decisões e protestos, faz o que entende, quando o entende e como o entende. Vai ao ponto de impedir a entrada de livros e instrumentos musicais como se se tratasse de produtos que iriam pôr em risco a segurança de Israel. Se o ridículo matasse não restaria de pé um único político ou um único soldado israelita, esses especialistas em crueldade, esses doutorados em desprezo que olham o mundo do alto da insolência que é a base da sua educação. Compreendemos melhor o deus bíblico quando conhecemos os seus seguidores. Jeová, ou Javé, ou como se lhe chame, é um deus rancoroso e feroz que os israelitas mantêm permanentemente actualizado.



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segunda-feira, janeiro 05, 2009

Pausa para reflexão: Gaza agoniza
















O Outro agoniza
inutilmente,
no centro dessa tela fria.
E um abismo se abre,
lentamente,
sob as mentiras de milênios,
dia após dia...


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"E não precisamos do cinto de explosivos e da sujidade dos atentados. A indiferença mata com igual exactidão. "
Paulo Feitais:

http://novaaguia.blogspot.com/2009/01/o-conflito-israelo-palestiniano-uma_05.html


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domingo, janeiro 04, 2009

CUITELINHO: os arcaísmos de nossa língua-mátria!






















CUITELINHO



Cheguei na bera do porto
onde as onda se espaia.
As garças dá meia vorta
e senta na bera da praia.
E o cuitelinho não gosta
que o botão de rosa caia, ai, ai, ai...

Quando eu vim de minha terra,
despedi da parentaia.
Eu entrei no Mato Grosso,
dei em terras paraguaia.
Lá tinha revolução,
enfrentei fortes bataia.

A tua saudade corta
como aço de navaia.
O coração fica aflito,
bate uma, a outra faia.
E os óio se enche d'água
que até a vista se atrapaia, ai, ai, ai...





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Nota:Para júbilo de meu compadre Carlinhos do Amparo,
postarei alguns exemplos da preservação de vocábulos

pela nossa gente do interior do Brasil.

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Pós-escrito:os castelhanos chamam de “yeísmo” ao fenômeno em que o “LL” deles, nosso “LH”, é pronunciado como “i”, como em caballo (cavalo), que se diz “cabaio”, pelo povão espanhol, no Caribe e na América Central. Curiosamente, na França, o mesmo “LL” , como em bataille (batalha), abeille (abelha), se pronuncia “batáie” e “abéi”, respectivamente. Da mesma forma, o nosso falante do interior do Brasil, segue, por uma origem comum e remota, as mutações de pronúncia das línguas do mesmo tronco neolatino; como se vê nos exemplos de Cuitelinho: batáia (batalha), espáia (espalha), naváia (navalha).
(Mais sobre o assunto, in: BAGNO, Marcos, A Língua de Eulália, Ed. Contexto, 1997)

Nota:
Cuitelinho,
designação dada a certa espécie de beija-flor,
é uma modinha do folclore do Centro-oeste do Brasil,
adaptada por Paulo Vanzolini e Antônio Xandó,
que tornou-se um clássico da genuína música sertaneja.

Para ouvir Cuitelinho, cantado pela Nara Leão, clique aqui.

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sábado, janeiro 03, 2009

Filodoxo ou poeta? Uma crise de identidade...





















O compadre Carlinhos do Amparo, meticuloso e arguto filodoxo olindense, anda a me questionar sobre a minha adesão ao MIL, Movimento Internacional Lusófono, dizendo, entre outras coisas:

1- que estou a esquecer da herança linguística africana, que deduz, por parecer apodítica, da minha cor da pele;
2- cobra-me, além disso, que faça referência à, não menos relevante, contribuição ao léxico deixada pela nossa ancestralidade tupiniquim;
3- e, por fim, acusa-me de maltratar a linguistica moderna, ao fazer uma apologia do sotaque de Portugal.

Eita,que esse compadre está mais pra superego do que pra amigo...rsrsrs

Creio, no entanto, que devo uma explicação ao meu inquieto compadre. E aqui vai a resposta ao dileto pensador do Sítio d’Olinda, com o ensejo de servir de preâmbulo à minha nova série de textos: Frátria.

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A respostas às questões 1 e 2 são simples. Não carecem de muito aprofundamento:

Minha adesão à lusofonia não exclui, nem prescinde de toda a influência das culturas dos povos nativos do Brasil, os chamados indígenas, nem da poderosa participação da inumerável quantidade de africanos que aqui aportaram, como mão de obra escravizada. No entanto, apesar de seus falares africanos e tupinambás, o que nos ficou, enquanto idioma, foi, de fato, o idioma dos portugueses. A estrutura sintática, a fonologia, a dicção de certos vocábulos, mesmo os escritos em nagô ou tupi-guarani, seguem a pronúncia e a grafia do idioma português.
Claro que uma língua é uma possibilidade aberta por uma cultura, que, em si, não é algo isolado de um contexto histórico e geográfico. Podemos ressaltar que o próprio idioma português que atravessou o oceano, já era, culturalmente, mestiço. Basta rememorar a influência de todos os povos que invadiram a península ibérica, desde os romanos até os mouros, passando pelos visigodos. Todos formaram um caldo de cultura, que ensejou a formação dessa língua miscigenada que veio até nós nas caravelas. Contudo, antes que se alevantem contra mim os puristas de plantão, transcrevo o que disse sobre a miscigenação em Portugal, o Rui Martins, intelectual de boa cepa, na Revista Nova Águia:

"Encontramos uma outra chave para a compreensão do problema de saber porque foi em Portugal que se procuraram estabelecer “territórios-ponte” no carácter étnico dos portugueses como uma das populações mais miscigenadas da Europa. Esta rara característica, identificada pelo professor Luís Adão da Fonseca, ao descrever Portugal como “um país de transição”, formatado e gerado pela justaposição e cruzamento de povos e culturas diversas e mais miscigenado e “impuro” que qualquer outra nação europeia. Só uma nação de “rafeiros” poderia erguer esse milagre continental que é o Brasil, senão vejamos a dispersão que condenou a América espanhola à irrelevância política… Só um país como Portugal, que vê cruzar na sua alma, a transcendência judaica, a contemplação berbere, a valentia germânica e a organização prática latina, com mais alguns múltiplos vestígios poderia deitar a semente desta portugalidade que se chama hoje “Portugal”, mas que se poderia chamar “Mundo” ou “Quinto Império-União Lusófona”(...) (grifo meu)
Fonte: http://movimentolusofono.wordpress.com/2008/08/29/do-futuro-da-lusofonia-rui-martins/

Portanto, o que falamos é, em verdade, o extrato neolatino da língua falada na península ibérica, derradeira expressão românica, o arcaico português da Andaluzia. Fruta tardia da cultura grecolatina, apesar de todo o amálgama das culturas que lhe foram adjacentes, é a essa lusofonia que venho aderir no meu blogue. Não posso negar a influência das culturas, de todas as culturas por que passou a minha cultura brasileira, mas é também evidente que sou lusófono, e isso é decorrente dessa cultura, cuja voz é lusitana, na qual me acho inserido, desde o meu nascimento, e da qual, me é impossível escapar.

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3- Para concluir, vamos à questão do sotaque da Dulce Campos: Decerto aprendi lendo o sociolinguista Marcos Bagno, que a prosódia que aqui chegou com as caravelas deve assemelhar-se mais ao Português falado pelos matutos e caipiras do interior do Brasil, do que o falado no Portugal de nossos dias. Como isso se explica? Deixemos o próprio Bagno nos explicar, com o que disse em 1997, in A Língua de Eulália, à pagina 120:



"A presença de aspectos arcaicos é comum a todas as línguas que foram transplantadas de um lugar para outro (...) Existe uma relação entre arcaísmo e distância geográfica: quanto mais distante de seu local de origem mais arcaica fica a língua. Assim acontece, por exemplo, com o francês falado no Canadá, que tem muitos aspectos do francês falado na França no século XVII. (...) Essa mesma relação faz com que a língua das zonas rurais seja mais arcaizante do que a língua das grandes cidades, onde as transformações sociais mais rápidas são acompanhadas no mesmo ritmo por transformações na variedade linguistica(...) o Português do Nordeste brasileiro(...) está muito mais próximo da língua falada por Cabral e Camões do que o português de São Paulo. (...) A língua falada na zona rural nordestina é muito mais arcaica do que a falada nas grandes cidades da região.(...)"



No entanto, prezado compadre, a Canção do Mar, entoada com esse encadeamento de fonemas, como só a Dulce Campos a interpreta, me traz uma reminiscência como que de cânticos mouros, ou mesmo cantigas de moçárabes e seus descendentes, que devem ainda ecoar pelas vielas da Lisboa Antiga. Creio eu, que, lá, mais do que aqui, a cultura dos povos mediterrâneos deve estar entranhada aos costumes, aos gestos, à culinária e, mais profundamente, ao fado. Não me tome por xenófilo, ou mesmo por alienado, ao me derramar em louvores ao encadeado sotaque do fado da dulcíssima Dulce. Mas, lá no fundo d'alma, ecoa-me essa saudade mística, essa emoção em tempo tríbio, que me faz quedar por horas, a ouvir a voz dolente e sensual dessa fadista iluminada.


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sexta-feira, janeiro 02, 2009

Rumo à Frátria: Babel versus Pentecostes


Não sou religioso, gente. Posso até dizer que sou arreligioso. Mas não desdenho dos textos sagrados das religiões institucionais. Neles habita a sabedoria milenar dos povos. E, por que não dizer, de Deus. Pois bem: essa postagem aparentemente religiosa surgiu de uma saudação de ano novo, que me fez a amiga do blogue Canto da Boca, na minha postagem Canção do Mar: um déjà vu. Leiam o comentário abaixo e, logo em seguida dois curiosos e antagonicos fragmentos bíblicos:



Texto 1 - Anti-babel: comentário da Boca

"Que felicidade! Como somos o que sentimos e verbalizamos, Eu-ri-líri-co, forever! Li-te, senti-te e emocionei-me... O que sentes é tao tangível que de um modo muito meu, senti teus sentimentos. Semana passada em Lisboa, e passando por meus olhos, alma e coraçao tantos desses sentires, a Lisboa moura, da silabaçao encadeada, a Lisboa velha, a Lisboa nova, ou caminhando pelo Chiado e deslumbrando-me com a vida que também por lá caminha, a estátua de Pessoa, tao viva, tao vivo a contemplar mundos... E o sotaque luso, tão luso, tão difuso do meu, mas tão em confluência, tão em abrangência... Dilatado, dilatando...
...E na passagem de ano (que chamáramos de ONU, uma analogia às diversas nacionalidades presentes), ontem, todos estrangeiros, longes de suas gentes, mas com todas dentro-em-nós, apesar da multinacionalidade, falávamos a mesma língua: do amor, da fraternidade, da solidariedade (caboverdianos, chilenos, congoleses, brasileiros, mexicanos, peruanos, portugueses), mas em harmonia, celebrando a vida, o ano que ia, e cheios de esperanças, desse que acaba de chegar.

E vibro, e vivo, meu amigo Tãolírico todas as possibilidades que construo e as que me escaparam pelas maos... E o que te desejar? O mínimo que mereces: saúde, paz, amor, felicidade, amizade, harmonia, tranquilidade, junto com a sua família, e dinheiro para pagar as contas, mas para todos os dias.
Um 2009 iluminado e iluminante!
Abraço imenso e um beijo estalado na testa."
Canto da Boca

Texto 2 - Babel

"E era toda a terra de uma mesma língua e de uma mesma fala.
E disseram: Eia, edifiquemos nós uma cidade e uma torre cujo cume toque nos céus, e façamo-nos um nome, para que não sejamos espalhados sobre a face de toda a terra.
Então desceu o SENHOR para ver a cidade e a torre que os filhos dos homens edificavam;
E o SENHOR disse: Eis que o povo é um, e todos têm uma mesma língua; e isto é o que começam a fazer; agora, não haverá restrição para tudo o que eles intentarem fazer.
Eia, desçamos e confundamos ali a sua língua, para que não entenda um a língua do outro.
Assim o SENHOR os espalhou dali sobre a face de toda a terra; e cessaram de edificar a cidade." Gênesis, cap. 11

Texto 3 - Pentecostes

"E quando se completaram os dias de Pentecostes, estavam todos juntos no mesmo lugar; e veio de repente do céu um estrondo, como de vento que assoprava com ímpeto, e encheu toda a casa onde estavam assentados. E apareceram-lhes repartidas umas como línguas de fogo, e o fogo repousou sobre cada um deles. E foram todos cheios do Espírito Santo, e começaram a falar em várias línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem.
"Estavam então habitando em Jerusalém judeus, homens religiosos de todas as nações que há debaixo do céu. E logo que correu esta voz, acudiu muita gente, e ficou pasmada, porque cada um ouvia falar os discípulos na sua própria língua. Estavam pois todos espantados e se admiravam, dizendo: Por ventura não se está vendo que todos estes que falam são galileus? E como os ouvimos nós falar cada um a nossa língua em que nascemos?
"Partos, medos, elamitas e os que habitam a Mesopotâmia, a Judéia, a Capadócia, o Ponto e a Ásia, a Frigia, a Panfilia, o Egito, e as partes da Líbia que confina com Cirene e os vindos de Roma, também judeus, e prosélitos, cretenses e árabes, os temos ouvido falar em nossas línguas as maravilhas de Deus. Pasmavam pois todos e se admiravam dizendo uns para os outros: O que é que isso pode ser? Outros porém, escarnecendo, diziam: É porque estes estão cheios de mosto". Atos, cap. 2


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Leram? Então perceberam os grifos que fiz na descrição emocionada da amiga Boca, e o paralelo com os versículos grifados.
Pois bem:
Babel versus Pentecostes é a minha forma de dizer o que idealizo numa Frátria. Sei que sou utópico, mas utópico por opção profunda. Utópico engajado, compromissado, rsrsrs, se lá isso existe! Mas creio nessa possibiidade, apesar da dispersão babélica dos povos. Não prego um Esperanto, coisa que não foi possível realizar, apesar do idealismo do Zamenhof; a Frátria, como imagino, não é uma língua universal, mas uma cultura de comunhão, ou seja, um feixe de possibilidades de: convivencia fraternal, não-violencia, pluralismo e respeito pelas diferenças, solidariedade e cooperação entre os povos. A Frátria é Pentecostes e não Babel. Babel é a segregação: a confusão das línguas remete a uma confusão das almas, das mentalidades.

Pentecostes, pelo contrário, reunia um caudal de povos e de culturas, que testemunhou a xenoglossia dos apóstolos.
Mas, xenoglossia pra que?
Respondo:
Para difundir o Amor.
Para pregar a fraternidade.
Essa a razão do milagre das línguas no Pentecostes.

Então, por que uma frátria apenas lusófona?
Por que devemos começar pelos mais próximos, pelos falantes de nossa cultura, de nossa mátria.

Portanto, rumo à frátria, sou M.I.L. (Movimento Internacional Lusófono)
Querem participar? Cliquem no logotipo do início da postagem.
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Post-scriptum: O Eu-lírico anda muito prosa e pouca poesia.
É que estou na baixa estação poética, poeta bissexto que sou.
Ando na maré vazante da poíesis.
Mas, os ciclos da maré são o segredo do viço no manguezal.
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quinta-feira, janeiro 01, 2009

Canção do Mar - um déjà vu?

















Canção do Mar
na voz de Dulce Pontes

Fui bailar no meu batel
Além do mar cruel
E o mar bramindo
Diz que eu fui roubar
A luz sem par
Do teu olhar tão lindo

Vem saber se o mar terá razão
Vem cá ver bailar meu coração

Se eu bailar no meu batel
Não vou ao mar cruel
E nem lhe digo aonde eu fui cantar
Sorrir, bailar, viver, sonhar contigo
Vem saber se o mar terá razão
Vem cá ver bailar meu coração

Se eu bailar no meu batel
Não vou ao mar cruel
E nem lhe digo aonde eu fui cantar
Sorrir, bailar, viver, sonhar contigo


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Anda reverberando em minh'alma essa prosódia, esse sotaque , essa silabação encadeada, entre linguodental e bilabial, da fadista Dulce Pontes,
em que oiço, ao longe, feito em déjà vu, canções mediterrâneas.
Ruas de alfamas, vielas da mouraria: um espi/olhar arqueológico (em velhos álbuns),
ou mesmo um curiosear deambulatório à Fidelino de Figueiredo:
O que tens minh'alma que buscas povoações celtíberas,
campanários góticos, balcões moçárabes?

O que ecoa ao norte de mim mesmo, o surdo ribombar das legiões romanas sobre a Ibéria?
O que oiço em lembranças do não-vivido?
O hinos sacros do Eurik, que de seu presbitério, vislumbra o alarido de Tárique, acometendo sobre um Ruderik enfraquecido:
Allah hu acbar!

Tudo isso e a algaravia do miscigenado vozear dessas culturas que permeiam essa, subitamente antiquissima (al moiraria...), Canção do Mar,
com que retorno à língua mátria,
rumo à frátria...
Não à frátria ateniense, belicosa e armada contra o Outro,
mas à fraternidade tribal e irmã.
Rememoro aqui, outrora e agora ,
aquela arcaica voz, serena e lusitana,
de, quem sabe, um Quinto Império, lusófono e espiritual.

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Para ouvir de a Canção do Mar com Dulce Pontes clique em:


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