Uma Epígrafe



"...Quanto à poesia, parece condenada a dizer apenas aqueles resíduos de paisagem, de memória e de sonho que a indústria cultural ainda não conseguiu manipular para vender."...[Alfredo Bosi, in O Ser e o Tempo da Poesia, p. 133]

quarta-feira, novembro 12, 2008

O Relógio (Cassiano Ricardo)


















Diante de coisa tão doída
conservemo-nos serenos.

Cada minuto de vida
nunca é mais, é sempre menos.

Ser é apenas uma face
do não ser, e não do ser.

Desde o instante em que se nasce
já se começa a morrer.

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Nota do Editor:
Ainda sob o influxo da bela Tuba mirum, de Mozart,

fui até 1971, num velho livro de ginasiano,
pra colher essa relíquia e encerrar a série
de textos sobre Tanatos, que, paradoxalmente,

apontam para a Vida ( ou, para Eros) e nos sugerem: carpe diem!

Fonte do txt:
JESUS, RICARDO, ROBERTO, Português Interpretação,
São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2º vol., 5ª Ed., 1971, p. 119.


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P.S.:
Em parceria com meu pai, Elias Eurico, musiquei
esse poema do Cassiano Ricardo.

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Fonte da img relógios de Dali:
http://forademoda.wordpress.com/2007/04/23/domenico-de-masi-e-o-novo-luxo/dalijpg

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Ah, os texto tanatológicos estão nas postagens aqui embaixo e são:
Este, O Relógio, do Cassiano Ricardo; Momento num Café , do Manuel Bandeira; Composição, do Carlos Drummond de Andrade, e, mais modestamente, o meu Recife (miragem cianótica) .

5 comentários:

Dauri Batisti disse...

O relógio é um poema lindo. Assim, sem muitas palavras, dizendo verdades, de um modo que se suporta o que é dito.

lula eurico disse...

Realmente, amigo Dauri, quase um hai-cai. Porém com uma densidade imensa.
Abraçamigo.

Jacinta Dantas disse...

O relógio, ah o relógio....
Bem sabe o Cassiano. O relógio nos desconcerta, mas como diriga meu, nos coloca no "prumo". Mesmo doída, encarando a doida verdade, vive-se melhor quando se acolhe como um ser que nasce, assumindo que a morte é certa.
Beijos

lula eurico disse...

É verdade, amiga, sei que estás no momento feliz de acolher um sobrinho. E a Vida sempre sorri para uma nova vida.

Unknown disse...

Diante de coisa tão doída conservemo-nos serenos. Cada minuto de vida nunca é mais, é sempre menos. Ser é apenas uma face do não ser, e não do ser. Desde o instante em que se nasce já se começa a morrer. Cassiano Ricardo 1) Diante de coisa tão doida conservemo no sereno A que coisa o poeta se refere? 2) Já que está coisa e muito sofrida como deve ser segundo o poeta a nossa atitude diante disso? 3) O que significam os versos cada minuto de vida nunca é mais e sempre menos? 4)Ser para poeta corresponde a nossa existência. A que corresponderia o não ser? 5)Em que o relógio nós faz pensar? 6)Em todo o poema há a presença constante de algo inevitável para todo ser humano de que se trata?