Uma Epígrafe



"...Quanto à poesia, parece condenada a dizer apenas aqueles resíduos de paisagem, de memória e de sonho que a indústria cultural ainda não conseguiu manipular para vender."...[Alfredo Bosi, in O Ser e o Tempo da Poesia, p. 133]

quarta-feira, fevereiro 27, 2008

Auto-retraço

(ou fábrica de espelhos)








É pra nos vermos, sim, é pra nos vermos
Que fabricamos
essas poças d'água contra o sol.
De vidro, todos os poemas
teoremas
apotegmas
todos os di-lemas.
Di-frações
Lentes espelhadas

(Luz, quero luz...)

Todas as pedrinhas lançadas no espelho d’água
E a flor das ondas reverberando...
Tudo isso, e ainda querer dos filhos
que sonhem como um dia sonhamos.
E que enxerguem o mesmo mundo que vi(ve)mos

Ajustar o foco,
Olhar nos próprios olhos
E revelar que não te amo.
Em verdade, eu me amo em ti.


Todos os postulados
Todas as teses
Os aforismos
Os vaticínios.
Sim, esses poemas,
vitrais,
bulbos de vidro soprados de dentro da alma,
São a maneira de re-ver
nesse afluente heraclitiano
que leva, sempiternamente,
Essa imagem, essa imago...
Esse auto-retraço.
Esse Eu.




Eurico
fev/2008
(A imagem é o Narciso de Caravaggio.)

Um comentário:

Luis Eustáquio Soares disse...

"É pra nos vermos, sim, é pra nos vermos
Que fabricamos
essas poças d'água contra o sol."
sim, versos do diverso, poeta, nos quais e através dos quais o surrealismo emerge e submerge, do sol na poça d´água e desta no sol, e eis o eu-lírico, seu alter-retrato, seu sol-retrato, na água da poça, e assim singulariza-se em poema, o poema. belo poema e obrigado pela visita.
saudações,
luis de la mancha