Uma Epígrafe



"...Quanto à poesia, parece condenada a dizer apenas aqueles resíduos de paisagem, de memória e de sonho que a indústria cultural ainda não conseguiu manipular para vender."...[Alfredo Bosi, in O Ser e o Tempo da Poesia, p. 133]

quinta-feira, maio 24, 2007

ÍNDIOS



“...nos deram espelhos, vimos um mundo doente...”
Renato Russo



Certo dia descobrimos uns galegos
Com seu deus crucificado
e, incautos, nos entregamos, cordeiros,
ao holocausto...

Descobrimos a Europa
Com os seus princípios...de bosta,
seus missais e arcabuzes,
a sua ciência morta,
E com as doenças de um mundo
ranzinza e antivital.
Nesse dia tão medonho
nos tornamos Portugal.

Contaram-nos do amor desse deus manso e pacífico,
por seus tataravós assassinado,
E, poluindo nossas almas inocentes,
nos vestiram com esse manto fictício,
e esses valores nauseabundos do ocidente.


Quem sabe, Nietzche, salve-nos, quem sabe,
pela transvaloração dessa cultura.
E que a Tribo também morra ensandecida
nesse velho Novo Mundo infectado pela usura,
com rosários de prata sobre o peito.
e pedaços de oiro em nossos dentes.

Mas morramos numa festa do Quarup
sem pecado, sem medo e sem mentiras,
celebrando a floresta ou a que nos resta
alegremente livres...
sim, felizes!


Eurico 2006

Um comentário:

Rejane Martins disse...

A aurora apaga-se, e eu guardo as mais puras lágrimas da aurora - Belo, Belo! como Manuel Bandeira.
Sinta-se abraçado nesta manhã, querido Eurico.