Uma Epígrafe



"...Quanto à poesia, parece condenada a dizer apenas aqueles resíduos de paisagem, de memória e de sonho que a indústria cultural ainda não conseguiu manipular para vender."...[Alfredo Bosi, in O Ser e o Tempo da Poesia, p. 133]

terça-feira, dezembro 18, 2007

Evoé!!! Viva a Nova Translação!!!








Todo dia pode ser o primeiro do novo ano.
Ano novo?

Rotações sobre o próprio eixo e translações em torno do Sol, dia após dia, meses a fio, desde o início dos tempos. Eis o que é concretamente a raiz de toda essa euforia.

Uma ilusão.

O que fazemos nós com tudo isso?

Se apenas celebrarmos, como os pré-cristãos, com a mais lúdica e natural maneira pagã,
nada a opor.
Mas essas tolas reflexões, que levam muitos a ponderar sobre as conquistas ou fracassos a que nos induzem as ilusões capitalistas, essas coisas da competição feroz copiadas do american way of life; isso tudo serve apenas para alimentar as depressões e as doenças psicossomáticas de fim de ano.
Por que não celebrarmos o verão, o sol, a chuva, as colheitas, o amor, o sexo e a saúde?
Por que tanta necessidade dessas correrias ao comércio?
Carecemos mesmo é de mais paganismo, de mais alegria com as coisas simples, mas em qualquer dia, ou seja, em qualquer das 365 rotações do ano.

Comemorar as translações?
Comemoremos o instante fugidio,
esse segundo que passou,
as sístoles, sim, comemoremos as diástoles,
e aquilo que acontece junto com elas,
a Vida.

E, por favor amigos, nada de reflexões, de retrospectivas,

sejamos, pelo menos nisso, mais cristãos

ou seja, "vivamos a cada dia a sua preocupação."

EVOÉ!!!

Que venha a nova translação!!!
P. S. :
Meu ano novo começa no dia do Galo da Madrugada kkkkkk Evoé!!!
Saúde, paz e fraternidade!
Eurico
18/12/07

segunda-feira, novembro 19, 2007

PACIFISMO TUPINIQUIM



Há uma inteligência, tão pedante quanto autodestrutiva, que insiste em poluir a água e o ar do planeta Terra, em nome do crescimento industrial. Em nome dessa mesma ideologia do progresso suicida, destroem as florestas, eliminam a fauna e a flora, e, para poder continuar nutrindo a avidez de riqueza e poder, atacam os países que possuem jazidas de combustível fóssil, contrariando as recomendações da ONU, e dos países mais sensatos.

Justificando-se nessa falaciosa e maligna assertiva, tem aparecido na TV, e, em horário nobre, pago às expensas dos cidadãos brasileiros, um político, de caráter duvidoso, mas reverenciado como bom orador, a defender certas posições demagógicas e cínicas . Seria um novo sofista?.

Pois bem: argumenta o famoso orador, que o Brasil, para defender suas necessidades industriais e de consumo, deveria ter ido à guerra com os bolivianos. Chega a usar o exemplo da dupla Bush/Blair, que invadiu o Iraque, para “defender” as jazidas de petróleo, interesse vital dos seus povos na região.
A postura não beligerante do Lula é questionada, pelos sofismas desse abominável político.
E é contra essa argumentação neofascista, que quero realmente me posicionar. Pois, seguindo esse raciocínio "tão perfeito", esse mesmo argumento poderá ser usado contra nós, se, por exemplo, a Amazônia for encarada como algo vital ao First World. E por que não?
Além disso, acabamos de descobrir uma imensa jazida de petróleo no oceano, que pode ser, seguindo a falaciosa peroração daquele nefasto político, um pretexto para um ataque dos belicosos saxões do norte do hemisfério, .
Pois bem:
Todo dia, nós pregamos a paz. Fazemos passeatas, missas, cultos, e outras manifestações pela paz no nosso país e no planeta. Mas foi o Lula, o não-letrado Lula, quem nos deu um exemplo prático e raríssimo, de como um país poderoso em seu continente pode resolver uma ação intempestiva e imatura, como foi a dos cocaleros, nossos vizinhos, com a necessária sabedoria, evitando uma guerra que arrastaria todo o continente, e, quem sabe, todo o mundo, atraindo, para o nosso território, os olhos da máquina de guerra do Xerife do Mundo, o Sr. Bush Filho.
Saber conviver com os povos vizinhos, em paz e harmonia, usando a diplomacia antes, e a pressão econômica, depois, e só se for necessária, será o exemplo de tolerância que o Brasil dará, nesse início de milênio, aos avoengos e ranzinzas europeus e seus belicosos seguidores ianques.

Há muito tempo, espero que se cumpra a profecia do Chico Xavier, de que o Brasil será o “coração do mundo e a pátria do evangelho”. A fé, às vezes, se enfraquece em meu duvidoso e pragmático espírito. Mas esse gesto do mítico Lula, do nordestinado filho da lavadeira, que quase morre afogado em um açude paulista, sem o socorro do próprio genitor; o altruísmo geopolítico do torneiro sem um dedo na mão, e agora alçado a primeiro mandatário do maior país da América Latina; enfim, esse gesto de boa vontade e não violência do Lula me reanima a esperança. Quem sabe um novo milênio de intenções pacifistas e de preservação do planeta esteja sendo esboçado aqui, com nosso jeitinho tupiniquim.

Viva Deus! Pequeno sou eu! Alah hu acbar! Shalom! Axé! Paz e fraternidade!!!

Eurico
19.11.07

Pratique a cortesia no trânsito. A paz começa nas pequenas atitudes.

P. S. : cuidado com os belicosos sofismas do R. Jefferson, pois quem, afinal de contas, irá à frente de batalha, matar e morrer pelas suas idéias fascistas, serão nossos filhos e netos, e não ele et caterva.

sábado, novembro 03, 2007

SONATA AO LUAR

Ora, direis, ouvir estrelas? Certo perdeste o senso.
Pois, ampliem os sentidos da alma,
e ouçam a enluarada sonata de Beethoven ...
Eurico









"Quem de nós não teve um momento de extremada dor?
Quem nunca sentiu, em algum momento da vida, vontade de desistir?
Quem ainda não se sentiu só, extremamente só, e teve a sensação de ter perdido o endereço da esperança!
Nem mesmo as pessoas famosas, ricas, importantes, estão isentas de terem seus momentos de solidão e profunda amargura...
Foi o que ocorreu com um dos mais reconhecidos compositores de todos os tempos, chamado Ludwig Van Beethoven, que nasceu no ano de 1770 em Bonn, Alemanha, e faleceu em 1827, em Viena, na Áustria.




Beethoven vivia um desses dias tristes, sem brilho e sem luz. Estava muito abatido pelo falecimento de um príncipe da Alemanha, que era como um pai para ele.
O jovem compositor sofria de grande carência afetiva. O pai era um alcoólatra contumaz e o agredia fisicamente. Faleceu na rua, por causa do alcoolismo.
Sua mãe morreu muito jovem. Seu irmão biológico nunca o ajudou em nada, e, além disso, cobrava-lhe aluguel da casa onde morava.
A tudo isto soma-se o fato de sua doença agravar-se. Sintomas de surdez começavam a perturbá-lo, ao ponto de deixá-lo nervoso e irritado.
Beethoven somente podia escutar usando uma espécie de trombone acústico no ouvido, o que seria para nós, hoje, um tipo de aparelho auditivo.
Ele carregava sempre consigo uma tábua ou um caderno, para que as pessoas escrevessem suas idéias e pudessem se comunicar. Mas elas não tinham paciência para isto, nem para ler seus lábios.
Notando que ninguém o entendia nem o queria ajudar, Ludwig se retraiu e se isolou. Por isso conquistou a fama de misantropo.
Foi por todas essas razões que o compositor caiu em profunda depressão. Chegou a redigir um testamento dizendo que ia se suicidar.




Mas como nenhum filho de Deus está esquecido, vem a ajuda espiritual através de uma moça cega, que lhe interpela, quase gritando.
Ela morava na mesma pensão pobre, para onde Beethoven havia se mudado, e lhe confessa que daria tudo para enxergar uma noite de luar...
Ao ouvi-la Beethoven se emociona até as lágrimas...
Afinal, ele podia ver! Ele podia escrever sua arte nas pautas...
A vontade de viver volta-lhe renovada e ele compõe uma das músicas mais belas da humanidade: Sonata ao luar.





No seu tema, a melodia imita os passos vagarosos de algumas pessoas. Possivelmente os dele e os dos outros que levavam o caixão mortuário do príncipe, seu protetor.
Olhando para o céu prateado de luar, e lembrando da moça cega, como a perguntar o porquê da morte daquele mecenas tão querido, ele se deixa mergulhar num momento de profunda meditação transcendental...
Alguns estudiosos de música dizem que as três notas que se repetem insistentemente no tema principal do 1º movimento da Sonata, são as três sílabas da expressão por que, ou outra palavra sinônima, em alemão.
Anos depois de ter superado o sofrimento, viria o incomparável Hino à alegria, da 9ª sinfonia, que coroa a missão desse notável compositor, já totalmente surdo.
Hino à alegria expressa a sua gratidão à vida e a Deus por não haver se suicidado.
Tudo graças àquela moça cega que lhe inspirou o desejo de traduzir, em notas musicais, uma noite de luar...
Usando sua sensibilidade Beethoven retratou, através da melodia, a beleza de uma noite banhada pelas claridades da lua, para alguém que não podia ver, com os olhos físicos...

***

A música desperta na alma impressões de arte e de beleza que são o júbilo e a recompensa dos espíritos puros, uma participação na vida divina em seus deleites e seus êxtases.
A música, melhor do que a palavra representa o movimento, que é uma das leis da vida; por isso ela é a própria voz do mundo superior.
Porém, unida a palavras malsãs, a música não é mais do que um instrumento de perversão, um veículo de torpeza que precipita a alma nas baixas sensualidades, corrompendo os costumes.
Pense nisso, e busque alimentar sua alma com melodias que expressem arte e beleza, que falem do bom e do belo. "




Redação com base em história narrada pelo músico Enrique Baldovino e, em algumas frases do livro “O Espiritismo na Arte”, de Léon Denis.

Fonte do texto:

Sonata ao Luar

© Momento Espírita 2003

Role a barra lateral e ouça a Sonata ao Luar, em vídeo do Youtube, logo abaixo das postagens.

sexta-feira, novembro 02, 2007

A propósito do curta Cemitério da Memória

O homem da câmera
ou
não sorria, você não está sendo filmado
***
Marcos Pimentel, autor do documentário Cemitério da Memória, dedica o seu trabalho ao cineasta russo Dziga Vertov. Assistam ao curta, clicando no link da barra lateral. Em seguida, leiam o texto abaixo e descubram as semelhanças entre os dois:
***
DZIGA VERTOV
Denis Arkadievitch Kaufman
(Polônia - 1896 - União Soviética - 1954)


Muito jovem ainda, Vertov começa a escrever poemas e estuda música durante quatro anos. Com 19 anos, começa a estudar medicina, na mesma época em que cria o "laboratório do ouvido", onde registra e monta ruídos de todo o tipo, com um velho fonógrafo Pathéphone.
É também nesse período que muda seu nome para DZIGA - palavra ucraniana que significa roda que gira sem cessar e VERTOV - do russo vertet que significa rodar, girar. Também se declara futurista, muito influenciado por Maiakovski.

Após o discurso em que Lenin considera o cinema como o principal meio de divulgação da nova ordem social que se instala na União Soviética, Vertov se põe à disposição do Kino Komittet de Moscou (1918), tornando-se redator e montador do primeiro cine-jornal de atualidades do Estado Soviético - o KINONEDELIA (Cinema Semana).
Em 1922 cria, com sua mulher Svilova e seu irmão Mijail, o "Conselho dos Três", denominando-se kinoks - um composto das palavras russas kino (cine) e oko (olho). Começam a trabalhar no Kinopravda (Cinema verdade) e produzem 23 números dessas atualidades cinematográficas.
Em 1923, o grupo publica seu primeiro manifesto teórico com o título "A revolução dos kinoks"
Desse momento em diante Vertov desenvolve uma febril atividade, tanto prática, de realizações de documentários, quanto teóricas. Todos os seus experimentos com as imagens colhidas do real, são objeto de textos-manifestos, em que ele declara seus princípios das relações entre olho/câmera/realidade/montagem. Todos os seus experimentos cinematográficos baseiam-se no exercício exaustivo de construção da expressão, através da articulação desses quatro elementos.
Podemos resumir suas principais construções teóricas em três noções diferentes e complementares:
1. a montagem de registros (visuais e sonoros)
2. o cine - olho (kino-glaz)- um meio de registrar a vida, o movimento, os sons e organizá-los através da montagem.
3. a vida de improviso - rodada sem nenhum tipo de direção documental.

DZIGA VERTOV (fragmento de manifesto):

"Eu sou um cine-olho. Eu sou um construtor. Eu te coloquei num espaço extraordinário que não existia até este momento. Nesse espaço tem doze paredes que eu registrei em diversas partes do mundo. Justapondo a visão dessas paredes e alguns detalhes, consegui dispô-las numa ordem que te agrada e edifiquei, da forma adequada, sobre os intervalos, uma cine-frase que é, justamente, esse espaço. Eu, cine-olho, crio um homem muito mais perfeito que aquele que criou Adão, crio milhares de homens diferentes segundo desenhos distintos e esquemas pré-estabelecidos. Eu sou o cine-olho. Tomo os braços de um, mais fortes e hábeis, tomo as pernas de outro, melhor construídas e mais velozes, a cabeça de um terceiro, mais bonita e expressiva e, pela montagem, crio um homem novo, um homem perfeito."

Filmografia:

1918 - Kinonedelia -série
1919 - O aniversário da Revolução
1920 - A batalha de Tsaritsin
1922/25 - Kinopravda - série1926 - A sexta parte do mundo
1927/28 - O décimo primeiro ano
1929 - O homem da câmera
1934 - Três cânticos para Lenin (1)
1937 - Canção de ninar
1938 - Três heroinas
1941/44 - filmes reportagens rodados num refúgio na Ásia Central
1947 - O juramento dos jovens
1947/53 - noticiário de atualidades "Novidades do dia" - série

(1) Três cânticos para Lênin - toma como tema três canções populares inspiradas por Lênin. Mostra diversos aspectos da União Soviética, das regiões européias e asiáticas. É o filme em que Vertov pode por em prática com mais perfeição todas as teorias produzidas desde os anos 20, sobretudo acerca da montagem de imagens e sons. Vertov usa da melhor maneira, neste filme, materiais de arquivo, principalmente aqueles que registram as imagens e a voz de Lenin.

* Biofilmografia desenvolvida pela Profa. Dra. Marília Franco para a a disciplina DOCUMENTÁRIO (CTR 0662) ministrada na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo.** As biofilmografias podem ser constantemente atualizadas pelos visitantes com indicações de pesquisa, publicações, sites e textos publicados sobre o autor enfocado.

Fonte:
http://www.mnemocine.com.br/aruanda/vertov.htm

quarta-feira, outubro 24, 2007

Lirismo reflexivo

Retrato de Mario de Andrade por Tarsila do Amaral

"Poesia é, a meu ver, uma organização consciente do lirismo subconsciente."
M. de Andrade

Sobre o lirismo no pensamento marioandradino, achei essas interessantes citações, no blog Ensimesmudo.blogspot.com – parapoucos (postagem de 20/08/2004):


Não tão óbvio

Um pouco de teoria?

Acredito que o lirismo, nascido no subconsciente, acrisolado num pensamento claro ou confuso, cria frases que são versos inteiros, sem prejuízo de medir tantas sílabas, com acentuação determinada.

***

A gramática apareceu depois de organizadas as línguas. Acontece que meu inconsciente não sabe da existência de gramáticas, nem de línguas organizadas. E como Dom Lirismo é contrabandista...

***

Canto da minha maneira. Que me importa se não entendem? Não tenho forças bastantes para me universalizar? Paciência. Com o vário alaúde que construí, me parto por essa selva selvagem da cidade. Como o homem primitivo cantarei a princípio só. Mas canto é agente simpático: faz renascer na alma dum outro predisposto ou apenas sinceramente curioso e livre, o mesmo estado lírico provocado em nós, por alegrias, sofrimentos, ideais. Sempre hei de achar também algum , alguma que se embalarão à cadência libertária dos meus versos.

***


Por muitos anos procurei-me a mim mesmo. Achei. Agora não me digam que ando à procura da originalidade, porque já descobri onde ela estava, pertence-me, é minha. Aliás versos não se escrevem para leitura de olhos mudos. Versos cantam-se, urram-se, choram-se. Quem não souber cantar não leia Paisagem nº1. Quem não souber urrar não leia Ode ao burguês.


***


O "Prefácio interessantíssimo" foi publicado como introdução aos poemas de Paulicéia Desvairada, de Mário de Andrade. Este "prefácio" tem a importância de um manifesto que revela alguns ideais do Modernismo.

Fonte:
http://ensimesmudo.blogspot.com/2004_08_01_archive.html

sábado, outubro 06, 2007

Carta aos Mortos






















Topei com esse poema do Affonso Romano de Sant'ana, ao assistir o vídeo Cemitério da Memória. O texto é muito bom. Então resolvi trazer pro blog:


Cemitério da Memoria
(Em tempo: transcrevi, abaixo, todo o roteiro do curtametragem, que se pode assistir no Portacurtas Petrobrás, clicando no link ao lado)

Diálogos do curta :

“Porque escrever memórias é um ajuste de contas do eu com o eu…”
Pedro Nava
Ontem, Hoje e Amanhã
apresentam

cemitério da memória - fragmentos da vida cotidiana:

sábado 1930

Há cidades que não vem à tona
ficam entre nós, eternamente submersas
************************************
domingo 1940

Herói de batalhas de confete
e lança-perfume,
as únicas batalhas que admiro
************************************
segunda-feira 1950

Já não és a cidade confidencial
e borralheira de outrora…
************************************
terça-feira 1960

Inverte-se enfim a arquitetura,
onde havia pedra
resta agora outra figura:
Ruina em que o oceano
se ajoelha e bate, eternamente bate,mas onde jamais se apura
*******************************************************
quarta-feira 1970

É preciso parar os ponteiros
no fim do sonho, enquanto é tempo
*******************************************************
quinta-feira 1980

Locução:
Carta aos Mortos

Este poema foi recitado na voz de Tônia Carrero no CD "Affonso Romano de Sant'Anna por Tônia Carrero" da Coleção "Poesia Falada".

Amigos, nada mudou em essência.
Os salários mal dão para os gastos,
As guerras não terminaram
E há vírus novos e terríveis,
Embora o avanço da medicina.
Volta e meia um vizinho
Tomba morto por questões de amor.
Há filmes interessantes, é verdade,
E como sempre, mulheres portentosas
Nos seduzem com suas bocas e pernas,
Mas em matéria de amor
Não inventamos nenhuma posição nova.
Alguns cosmonautas ficam no espaço
Seis meses ou mais, testando a engrenagem
E a solidão.
Em olimpíada há recordes previstos
E nos países, avanços e recuos sociais.
Mas nenhum pássaro mudou seu canto
Com a modernidade.
Reencenamos as mesmas tragédias gregas,
Relemos o Quixote, e a primavera
Chega pontualmente cada ano.
Alguns hábitos, rios e florestas
Se perderam.
Ninguém mais coloca cadeiras na calçada
Ou toma a fresca da tarde,
Mas temos máquinas velocíssimas
Que nos dispensam de pensar.
Sobre o desaparecimento dos dinossauros
E a formação das galáxias
Não avançamos nada.
Roupas vão e voltam com as modas.
Governos fortes caem, outros se levantam,
Países se dividem
E as formigas e abelhas continuam
Fiéis ao seu trabalho.
Nada mudou em essência.
Cantamos parabéns nas festas,
Discutimos futebol na esquina
Morremos em estúpidos desastres
E volta e meia
Um de nós olha o céu quando estrelado
Com o mesmo pasmo das cavernas.
E cada geração, insolente,
Continua a achar
Que vive no ápice da história.

Lettering:

Quem não encontrar poesia no infinitamente pequeño jamais a encontrará no infinitamente grande sexta-feira hoje
A memória é uma construção do futuro
mais que do passado
Aqui jaz um século que se chamou moderno e olhando presunçoso o passado e o futuro julgou-se eterno; século que de si fez tanto alarde e, no entanto, já vai tarde; um século filmado que o vento levou…
“O memorialista é a forma anfíbia de historiador e ficcionista…”
Pedro Nava
O documentarista é, invariavelmente, um curioso.

Para Rachel Jardim e Dziga Vertov
e todos aqueles que admiram o século em que a lua deixou de ser dos namorados...
***********************************************************************************
Eurico
out/2007
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Fonte da img.:
http://catedral.weblog.com.pt/arquivo/poesia_ilustrada/index0

terça-feira, outubro 02, 2007

Por que Eu-lírico?






Transcrevo aqui um brevíssimo comentário do Carlinhos do Amparo, extraído do zine Eu-lírico, nº 6:


Lirismo, sim. Mas não lirismo comedido: pura contemplação da natureza ou catártica expressão das emoções.
Lirismo, sim. Porém centrado em uma analítica da existência, se isso lá é possível. Algo como o que nos fala G. M. Kujawski:
“Adotamos aqui o lirismo como método fenomenológico, rigorosamente descritivo, para aprofundar nosso conhecimento da natureza”. (Perspectivas Filosóficas, 1983).
O poeta tropeça com o estar-aí da coisa. Qualquer coisa: um pássaro, uma pedra (como no célebre poema drummondiano), um recorte qualquer da realidade. E esse choque com a patência da coisa exige a mediação lírica, o assombro, o maravilhamento, a subitânea iluminação do ser. Nesse instante, a Palavra se torna instrumento de reaproximação com o derredor, a circum-stantia, a realidade tal com a encontramos.
Uma atitude irrevogável e consciente presentifica-se no eu enunciador do poema, o eu-lírico: a atitude de auscultador, não de estrelas, como em Bilac, mas auscultador da Existência.
O poema não responde à pergunta: por que o pássaro está aí em vez de não estar?
O poema é o pássaro, vôo repentino, é a coisa no fulgor de sua presença, é o impacto como o essencial. Mas o poema é, antes, o fascínio órfico, o lírico palpitar do real...

***

Transcrevo também o meu poemeto (nem tão rigorosamente descritivo, tampouco fenomenológico, rsrsrs) que originou o comentário acima, naquela edição de 12 anos atrás, do zine Eu-lírico:



Um pássaro de seis asas...
Embora o rugir mecânico das coisas,
Um pássaro de seis...
E a urbe e o orbe
E o universo se desdobre,
Um pássaro...
Atávicos urros na estação metroviária neolítica,
Um passarinho...
(dilata-se o real)


Eurico
Jun/1995
************

quinta-feira, agosto 09, 2007

Processo criativo em Rilke


"Ah, mas versos significam muito pouco se escritos cedo.Devia-se esperar, reunir sentido e doçura numa vida inteira, se possível bem longa, e depois, bem no fim, talvez se conseguissem dez versos bons.Pois versos não são, como as pessoas imaginam, sentimentos(a esses, temos cedo demais) - são experiências. E por causa de um verso é preciso ver muitas cidades, pessoas e coisas, é preciso conhecer bichos, é preciso sentir como voam os pássaros e saber com que gestos flores diminutas se abrem ao amanhecer. É preciso poder recordar caminhos em regiões desconhecidas, encontros inesperados,e despedidas que há muito sentíamos chegar - dias da infância, ainda não explicados os pais que tínhamos de magoar quando nos davam alguma alegria e não entendíamos(era uma alegria pra outra pessoa), doenças de crianças que começavam de modo tão singular, com tantas e tão profundas transformações, dias em quartos silenciosos e isolados, e manhãs no mar, o mar sobretudo, mares, noites de viagem rumorejando no alto e voando com todas as estrelas - e poder pensar em tudo isso ainda não é suficiente. É preciso ter lembranças de muitas noites de amor, nenhuma semelhante à outra, gritos de mulheres dando à luz, leves e alvas parturientes adormecidas que se tornavam a fechar. E também é preciso ter estado com moribundos, sentar-se juntos aos mortos no quartinho com a janela aberta, e aqueles ruídos intermitentes.E também não basta ter recordações.É preciso saber esquecê-las quando são muitas , e ter a grande paciência de esperar que retornem por si. Pois as lembranças em si ainda não o são. Só quando se tornarem sangue em nós, olhar e gesto, sem nome, não mais distinguíveis de nós mesmos, só então pode acontecer que numa hora muito rara se erga do meios delas a primeira palavra de um poema."


Rainer Maria Rilke, Os cadernos de Malte Laurids Brigge,
Nova Fronteira, Rio de Janeiro 1979, p. 14e 15


(Isabel, grato pelo email com o texto acima).


Eurico
09/08/07

sexta-feira, julho 13, 2007

Drummond, eterno Drummond...


Ginásio Pernambucano, leituras incipientes: no meio do caminho Pessoa, Bandeira e Drummond, o eterno Drummond...
Assim me perdi (e me encontrei) nas sendas da poesia...como esse frágil elefante:

O Elefante
Carlos Drummond de Andrade


Fabrico um elefante
de meus poucos recursos.
Um tanto de madeira
tirado a velhos móveis
talvez lhe dê apoio.
E o encho de algodão,
de paina, de doçura.
A cola vai fixar
suas orelhas pensas.
A tromba se enovela,
é a parte mais feliz
de sua arquitetura.

Mas há também as presas,
dessa matéria pura
que não sei figurar.
Tão alva essa riqueza
a espojar-se nos circos
sem perda ou corrupção.
E há por fim os olhos,
onde se deposita
a parte do elefante
mais fluida e permanente,
alheia a toda fraude.

Eis meu pobre elefante
pronto para sair
à procura de amigos
num mundo enfastiado
que já não crê nos bichos
e duvida das coisas.
Ei-lo, massa imponente
e frágil, que se abana
e move lentamente
a pele costurada
onde há flores de pano,
e nuvens, alusões
a um mundo mais poético
onde o amor reagrupa
as formas naturais.

Vai o meu elefante
pela rua povoada,
mas não o querem ver
nem mesmo para rir
da cauda que ameaça
deixá-lo ir sozinho.

É todo graça, embora

as pernas não ajudem
e seu ventre balofo
se arrisque a desabar
ao mais leve empurrão.
Mostra com elegância
sua mínima vida,
e não há na cidade
alma que se disponha
a recolher em si
desse corpo sensível
a fugitiva imagem,
o passo desastrado
mas faminto e tocante.

Mas faminto de seres

e situações patéticas,
de encontros ao luar
no mais profundo oceano,
sob a raiz das árvores
ou no seio das conchas,
de luzes que não cegam
e brilham através
dos troncos mais espessos.

Esse passo que vai
sem esmagar as plantas
no campo de batalha,
à procura de sítios,
segredos, episódios
não narrados em livro,
de que apenas o vento,
as folhas, a formiga
reconhecem o talhe
mas que os homens ignoram,
pois só ousam mostrar-se
sob a paz das cortinas
à pálpebra cerrada.

E já tarde da noite,
volta meu elefante,
mas volta fatigado,
as patas vacilantes
se desmancham no pó.
Ele não encontrou
o de que carecia,
o de que carecemos,
eu e meu elefante,
em que amo disfarçar-me.
Exausto de pesquisa,
caiu-lhe o vasto engenho
como simples papel.
A cola se dissolve
e todo seu conteúdo
de perdão, de carícia,
de pluma, de algodão,
jorra sobre o tapete,
qual mito desmontado.
Amanhã recomeço.

(Kelly, grato pelos florais de Bach.
Um beijo, e, como disse Drummond:
"Amanhã recomeço.")

Eurico 13/07/07

sexta-feira, julho 06, 2007

Elegia Pós-moderna



Em 31/10/2006 publiquei a notícia abaixo.
Agora publico, em tempo, o poema que motivou uma rídicula censura da minha ex-terapeuta.


Tony Blair anuncia o fim dos tempos!!!
fonte: Jornal Nacional, de 30/10/2006

Tony Blair, na contramão do Mr. Bush, vem a público assumir a posição defendida pelos cientistas, de que, se continuarmos poluindo o planeta nesse ritmo, causaremos uma irreversível recessão economica mundial, nos próximos 50 anos. É que o mundo gastará mais com as consequências da poluição, do que o que gastaria com sua prevenção. Os gastos em 50 anos seriam da ordem de 5% do PIB mundial, provocando um colapso da economia capitalista.

Viva Deus!!!
Queria ver a cara da minha psicoterapeuta,
aquela que, pelos idos de 1988, me aconselhava
a não cuidar de temas ecológicos nos meus textos poéticos.

Taí:
a ecologia ganha dimensões de variável economica.
E com proporções catastróficas.

Anotem aí:
Desde o surgimento do Green Peace, nos idos de 1970, já se anunciava isso que agora vou dizer: O industrialismo e o crescimento economico cego estão com seus dias contados. Em suma: o capitalismo e o socialismo fundados no crescimento sem preocupações ecologicas levam ao extermínio da espécie!
Roger Garaudy já apregoava em 1979, no seu profético Apelo aos Vivos:
"o crescimento dos próximos 30 anos, sob pena de morte da espécie, não pode mais ter a mesma orientação nem o mesmo ritmo dos últimos 30 anos."

Concluo afirmando que, ao reelegermos o Lula, presidente, poderíamos também dar uma guinada em nosso modelo de crescimento, para um crescimento sustentável e ecológico, distanciando-nos do destruidor planetário G. W. Bush.

Eurico
Viva Deus, pequeno sou eu! 31/10/2006


O poema que a tal psicanalista disse-me que era sobre um assunto que não interessava a ninguém é esse aí. Isso em 1988. Confiram:

ELEGIA PÓS-MODERNA
ou Réquiem ao Futurismo

É preciso traduzir a náusea dos esgotos a céu aberto,
A lenta agonia dos canais imundos,
Escoadouros dos dejetos vis da máquina do mundo.
Quero versos oleosos e negros
Que exalem a fedentina dos peixes mortos
pelos milhões de barris de petróleo jogados ao mar.
Palavras pútridas e fétidas
Como a alma dos rios das cidades industriais.

Houve um tempo em que se cantavam odes triunfais
Fraques e cartolas saudavam fubicas velozes.
Mas os futuristas há muito mudaram-se para o campo
Apavorados com o rugido cruel dos motores McLaren.

Ó, adoradores do imediato,
Há motivo para exclamações eufóricas?
Hoje, um supersônico atravessa a Etiópia num segundo,
E nem por isso os negrinhos esquálidos sobrevivem à fome.

É preciso elegias e não odes.
Nossos versos não devem amar os antigos.
Façamos os versos para/odiá-los.
Na morte, para onde iremos, não há ciência ou indústria alguma.
E vos digo que Marinetti não leu uma linha sequer de Rudolf Clausius ou Sadi Carnot.
Saudava os automóveis num mundo laplaciano e
Com fontes inesgotáveis de energia.
Arre! Santa tolice!
Sobre as fábricas, sobre as gares das metrópoles modernas,
Pairava o irreversível anátema da entropia.

Era mentira a correria do progresso.
Havia um câncer na alma de aço do mundo.
Choremos, pois, à dolorosa luz das siderúrgicas,
Com seus fornos entrópicos, desagregadores e falidos,
onde arderam cadáveres proletários.

Novos profetas apregoam o fim de tudo!
(Entre eles vejo a cabeleira desgrenhada de Einstein)
Ogivas álgicas inauguram o apocalipse.
Baratas cascudas passeiam pelo parque, indiferentes.
E as criaturas perdidas na imensidão que enche a Terra
Olham o firmamento, angustiados olhos ardentes...

Tenho febre e escrevo:
Agora os poemas estão pejados de nojo.
Rói-me um cínico remorso:
Pertenço à raça abjeta de construtores dessa sociedade necrófila.
O que somos, além de um bando de aves de rapina?
Criaturas assombrosas e assombradas, digitamos programas genocidas.
Grandes máquinas soterram lagos.
Serras sórdidas ceifam florestas.
Ó civilização decadente e agonizante,
Ocaso caótico dos engenhos mórbidos,
Raça de víboras que morde a própria cauda!
Ó rodas... ó engrenagens enfraquecidas! Rangido obsoleto.
Mundo ferruginoso das máquinas esquecidas no pátio de manobras.
Espasmo retido dos maquinismos atrofiados.
Onde a fúria inconseqüente?

Tragam-me à cena os futuristas!
Velocíssimos computadores de quinta geração
Teleprocessarão dados dantescos:
Milhões de mortos na China;
Miséria nas favelas do Brasil e fome nas tribos africanas.
Distante, o brilho dos bólides sobre Guernica,
Chorem comigo lágrimas ardentes com os olhos japoneses de Hiroshima;
Assistam comigo aos mísseis pirotécnicos sobre o Vietnam.
E então eu lhes declamarei cloacas pestilentas
Rimas de vísceras de crianças mutiladas
Versos azuis de Césio 137.

No meu país os sofistas traficam leis no Planalto Central
Enquanto os filhos brincam games videotas cercados de seguranças.
É a nação dos que acordam sob as marquises e tropeçam bêbados na angústia.
Lá, os letrados insistem em dizer, em bom vernáculo:
Produzir é preciso!
Viver, não é preciso.

Por isso na há mais tempo para os poetas que se esgueiram pelos becos
Com elefantes escondidos entre os medos.
Nem se pode mais fugir pra Pérsia ou Gerais. Minas não há mais.
Mas há uma enorme pedra no caminho
E a vida humana exige a sua remoção.
Há metafísica maior do que cruzar com gente saudável e dizer bom-dia?
Há algum pecado em sonhar com uma menina a comer chocolates
E esperar que seu pai tenha um emprego para pagar a conta da Tabacaria?
É panfletário querer o poeta água limpa e comida nas mesas modestas?
Sim?!
Já não me importo!
Não há mais tempo.

A febre aumenta e ainda escrevo.
E ouço o ranger de dentes dos demônios do turno da noite.
Escrevo rangendo os dentes, fera para a frieza disto.
Um frio entrópico disto totalmente imprevisível para os antigos
Que os gregos, os rabinos e Constantino
Morram asfixiados com o cheiro surpreendente das tintas e solventes
Da oficina de lanternagem!
E que os pequenos anjos do aroma sintético
Do pintor neobarroco Eugênio Paxelly, assaltem os passantes,
Ou sujem pára-brisas por moedas irritadas.

Gordas matronas empurram carrinhos repletos do inútil,
no Shoping Center Augusto Comte;
Aristóteles, zangado, faz careta ao fim do século.
Deliro, febril e convulsivo.
Digito, a custo, stop no remoto.
O vídeo perde o brilho estúpido e eu adormeço enquanto
Espero a morte lenta e contemporânea dos aidéticos
E os poemas escorrem do meu corpo, feridas purulentas e escuras,
Como os rios sem vida que cruzam a minha terra natal...










segunda-feira, junho 18, 2007

O sorriso dorido de Ariano




Por que esse homem ri? E do que ri Ariano? Esta é uma pergunta grave e que pode ser estendida a todos os outros homens. Afinal, de que ri a humanidade?
A resposta, talvez, nos venha pela leitura que faz do mundo seu romance armorial. Apresenta-nos, sugestivamente, um herói (ou anti-herói) demasiado humano, que ostenta sua força e sua fraqueza, em um onírico memorial ou louvação da sua estirpe de reis, sangrentos e sangrados, opressores e oprimidos. Investindo contra os moinhos de vento, e pugnando, quem sabe, por um socialismo sertanejo, Quaderna ri das próprias investidas, como se fosse, ele mesmo, a um só tempo, o nobre Cavaleiro e seu simplório escudeiro.
O herói pícaro é como um bambuzal: diante dos vendavais ele se curva, mas não quebra. Levanta-se outra vez com a bonança. (Li isso em algum lugar. Em Flávio Kothe, talvez.) Quaderna encarna esse herói pícaro, que, dócil à sua circunstância, nos ensina a rir das nossas desventuras.
Foi essa a lição maior que encontrei na adaptação global d’A Pedra do Reino. O riso, o bom humor, a presença de espírito, que é própria dos personagens picarescos de Ariano, torna-se, em Quaderna, o riso pícaro por excelência, porque é o sorriso diante da tragédia humana. Mesmo que seja nas pequenas tragédias cotidianas, de João Grilo e de Chicó, o riso do Ariano, rindo de si mesmo, enquanto humano, é sempre um riso catártico. Um riso dorido e contido. Nesses delírios armoriais e genealógicos, que surgem da agonia bem humorada de Quaderna, transparece, quiçá, a dor do menino órfão, sem seu guia, sem a luz do sol de seu sertão interior. Isso fica evidente neste soneto angustiado que dedicou Ariano a seu saudoso pai:




Aqui morava um rei

"Aqui morava um rei quando eu menino:
vestia ouro e castanho no Gibão.
Pedra-da-Sorte sobre meu Destino,
pulsava junto ao meu, seu coração.

Para mim, o seu Cantar era divino,
quando, ao som da viola e do bordão,
cantava com voz rouca, o Desatino,
o riso, o sangue e as mortes do Sertão.

Mas mataram meu pai. Desde esse dia
Eu me vi, como cego sem meu Guia
que se foi para o Sol, transfigurado.

Sua Efígie me queima. Eu sou a presa,
ele, a Brasa que impele ao Fogo, acesa,
Espada de Ouro em Pasto ensanguentado."

...........................................................................(Ariano Saussuna)
*grifo nosso
********************************************************************

Mas como ainda consegue rir o homem?
E... por que nós rimos de Quaderna?

Eurico
17.06.07

Parabéns para a conclusão da micro-série
que conseguiu resumir, em cinco breves episódios ,
as quase 750 páginas do grande romance armorial,
fazendo uma homenagem ao imaginário
popular do nordeste, na obra de Ariano Villar Suassuna.
**********************************************************************
P.S.: com esse texto, prometo aos meus dois ou três leitores, (rsrsrs) que encerro a semana do Ariano.

domingo, junho 17, 2007

A Pedra do Reino é pernambucana...

Pedra do Reino - São José do Belmonte - PE




Atendendo ao clamor do povo de São José do Belmonte, fecho a semana da Pedra com essa singela explicação:
A ficção se passa em Taperoá - PB, no ano de 1938, mas o autor jamais diz que a Pedra fica lá. Lendo a página 14, da mais recente edição do romance, vai se achar o seguinte:
"sou, nada mais, nada menos, do que descendente (...) de dom João Ferreira-Quaderna (...) homem sertanejo, que, há um século, foi Rei da Pedra do Reino, no Sertão do Pajeú, na fronteira da Paraíba com Pernambuco."
Essa fala entre aspas aqui é do Quaderna, descendente fictício do Rei da Pedra Bonita, fanático religioso sebastianista, que liderou sacrifícios de crianças e virgens, entre 1835 e 1838, em Belmonte, Pernambuco.
Portanto, não há erro na adaptação global. Quaderna é habitante da Taperoá de 1938, e o Rei, seu antepassado, do Belmonte de cem anos antes, ou seja, 1838.
Eurico
17.06.07
Veja a grita nos sites de Belmonte:

sexta-feira, junho 15, 2007

RESENHA LIVRE






Para entender o romance
e a microsserie
d'A Pedra do Reino
leia Rachel de Queiroz:











(...) “Pode ser que a idéia de Suassuna, ao começar a escrever, fosse apenas fazer um romance divertido, usando a sua sábia dosagem de elementos literários, propriamente ditos, e elementos populares, baseado sobretudo no folclore local e nos versos dos cantadores, tendo como tema central os sucessos trágicos da Pedra Bonita. E aí, quem sabe, o santo se apoderou do seu pulso e lhe ditou essa estranhíssima epopéia calcada nos sonhos, nas loucuras, nas aventuras e desventuras e nas alucinações genealógicas do Cronista-Fidalgo, Rapsodo-Acadêmico e Poeta-Escrivão D. Pedro Dinis Ferreira Quaderna.” (...)


Rachel de Queiroz
Rio, junho de 1971
(Extraído do prefácio à 6ª Edição d’A Pedra do Reino, p. 15)

quinta-feira, junho 14, 2007

Uma profissão que não existe



O pernambucano Osman Lins (1924-1978), em seu Marinheiro de Primeira Viagem*, narra um curioso diálogo que travou com um funcionário do guichê, quando autorizava seu passaporte para a Europa. Esse incidente, por ilustrativo e pitoresco, servirá de suporte a essa interessante
conclusão sobre a profissão de Escritor:
Escritor é uma profissão que não existe.


“UM BUROCRATA

- Profissão?
- Escritor.
- Não pode ser. Não é isto que consta dos documentos do Imposto de Renda.
- Naturalmente. Não se paga imposto de renda como jornalista ou escritor.
- Tenho de por “bancário”. O senhor não trabalha em Banco?
- Trabalho.
- Quer dizer que é escritor-amador.
- Existe rádio-amador, mas não escritor-amador. Ou se é escritor, ou não se é.
- Mas se o senhor trabalha em Banco, tenho de por “bancário”.
- Não é como bancário, e sim como escritor, que viajo. A maioria de meus possíveis contatos, na Europa, será de natureza artística e literária.
Só vou entrar em Banco para trocar dólares. Como cliente. Não quero que o senhor ponha “bancário”. Pode prejudicar-me. Já perdi uma bolsa de estudos porque, nos documentos, constava que trabalho em Banco.
- Pois eu só posso por “escritor”, se o senhor provar que é escritor.
- Trago-lhe os livros.
- Ah, não servem.
- Como é que não servem?
- É preciso trazer um documento, assinado por duas pessoas, atestando que o senhor é escritor.
- Selado?
- Perfeitamente. Com firma reconhecida.
- Então os livros não servem?
- Claro que não, meu senhor. Livro não é documento”

*(LINS, 1980: p. 42)

O ROMANCE d'A PEDRA DO REINO






Começou a mini-série global
sobre o Romance
d'A Pedra do Reino.





Exulta o meu coração nordestinado!

Em uma profusão delírica de imagens,
vai se construindo o universo tumultuoso
das visões de Quaderna, anti-herói sertanejo,
que serve de agulha para a tessitura
da trama desse tapete mágico,
de onde surgem, fulgurantes e belas,
as altaneiras figuras armoriais
do mítico Sertão de Ariano Suassuna.

Nos dois alucinantes capítulos de abertura,
já enveredamos pela crônica-epopéia, na qual
vamos girando, como em um calidoscópio,
ao sabor das memórias atribuladas do
personagem-narrador, que escreve seu romance
no cárcere, como um dia também esteve Cervantes,
ao criar o seu Cavaleiro da Triste Figura.

Quixote, Macunaíma, Policarpo Quaresma:
de todos traz um pouco Quaderna, esse
Rei picaresco e dionisíaco, cujo Reino esperado,
o Quinto Império, transborda, lusófono,
das páginas desse estonteante romance armorial.
***************************************************
Ave, Ariano Villar Suassuna!
Ave, nação nordestina!

Eurico (madrugada de 14.06.07)
P.S.: ouço no rádio, já pela manhã, os comunicadores populares
dizendo que a obra é chata e incompreensível.
Na certa não leram o livro. E quem não leu vai ter dificuldade
de alcançar a obra de arte que a TV Globo produziu.

Video d'A Pedra do Reino

Notícias do Reino do Belo Monte




Associação Cultural Pedra do Reino

São José do Belmonte – PE

Introdução

A Associação Cultural Pedra do Reino promove a XIV Cavalgada à Pedra do Reino, festa que relembra o movimento sebastianista liderado por João Antônio dos Santos, em 1838, na Pedra do Reino (uma composição de duas grandes rochas, uma com 30 e outra com 33 metros de altura), na Serra do Catolé, em São José do Belmonte, Pernambuco.

No local, o auto proclamado Rei João Antônio formou uma comunidade de fiéis seguidores, prometendo um reino de justiça, liberdade e prosperidade, onde os pobres ficariam ricos e até os pretos renasceriam brancos.

A festa será (foi) realizada no período de 21 a 28 de Maio de 2006 e estará no seu décimo quarto ano consecutivo. Esta festa vem se tornando, a cada ano, mais brilhante e de maior expressão cultural.

O evento tem hoje vários incentivadores, dentre os quais o escritor Ariano Suassuna que publicou o livro O Romance da Pedra do Reino, em 1971, obra que resgatou a história do episódio e inspirou a festa.

No carnaval de 2002, uma das maiores escolas de samba do Rio de Janeiro, Império Serrano, levou à Sapucaí o enredo “Aclamação e Coroação do Imperador da Pedra do Reino: Ariano Suassuna”, enredo inspirado, principalmente, na Pedra do Reino e na Cavalgada. Isso mostra a dimensão histórica do evento e sua contribuição para a cultura brasileira.

A história da Pedra do Reino trata de uma das maiores manifestações do movimento sebastianista no Brasil. Anualmente centenas de cavaleiros de toda a região participam do percurso até o Sítio Histórico. Este é principal momento da festa em que os participantes da cavalgada têm a oportunidade de apreciar a bela paisagem sertaneja e viver momentos inesquecíveis de aventura. Durante toda a semana a cidade se torna palco das maiores atrações artísticas e culturais da região quando temos a visita das maiores autoridades ligadas à arte, cultura e literatura do país.




Mais notícias acessem:




quarta-feira, junho 13, 2007

Ilha sem Deus



Aquecer a frágil'alma
Ao calor desses destroços
Esses retraços que ardem
Em um ser baldio e sem crença

Esfregar mãos engelhadas
Ao fogo desse monturo
Prender a morte num engulho
Sem desistir da existência

Buscar sentido no caos
E fé na lenta agonia:
Esses barracos imundos.
Essas entranhas vazias.

Trapos, lama, palafitas
Sem Deus na ilha esquecida
E a vida?
A vida é também retraço
No pó das desconstruções.
Essa inútil empreitada.
Um traço desesperado
Que nós riscamos no Nada...

Eurico
16.01.2003

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segunda-feira, junho 11, 2007

E por falar em Mário Quintana...


Reparem que belezura de soneto!!!



SE EU FOSSE UM PADRE

Mário Quintana (*1906 —+1994)

Se eu fosse um padre, eu, nos meus sermões,
não falaria em Deus nem no Pecado—
muito menos no Anjo Rebelado
e os encantos das suas seduções,

não citaria santos e profetas:
nada das suas celestiais promessas
ou das suas terríveis maldições...
Se eu fosse um padre eu citaria os poetas,

Rezaria seus versos, os mais belos,
desses que desde a infância me embalaram
e quem me dera que alguns fossem meus!

Porque a poesia purifica a alma
...e um belo poema — ainda que de Deus se aparte —
um belo poema sempre leva a Deus!

Texto extraído do livro "Nova Antologia Poética",
Editora Globo - São Paulo, 1998, pág. 105.

fonte: http://www.releituras.com/mquintana_padre.asp
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Em tempo:
agradeço a dica à amiga Isabel Pontual
Eurico
11.06.07
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sexta-feira, junho 08, 2007

Poemeto ao modo de Mário Quintana

ou


Pequena Lição de Poíesis

A prosa, por sua natureza, pode ser poética
porque sempre traz, dentro de si, hermética,
uma pequena rosa.

Em sendo assim,
o que se chama simplesmente prosa
é a tentativa frustrada de ocultar
no discurso (coisa odiosa)
a poesia que há...
a inevitável rosa
(poemeto ao modo de Mário Quintana)
Eurico
08.06.07

***

domingo, junho 03, 2007

Uma Loa para o Mestre Diógenes















Aprecio certos vocábulos arcaicos, os quais, embora egressos de um léxico avoengo e desusado, continuam preservados pelo linguajar do povo.
Loar é um deles.
O verbo Loar ainda guarda os dois sentidos: tanto o da ação de louvar, fazer discurso laudatório; quanto o de intróito ao drama, prólogo, apresentação do espetáculo; como era costume, segundo Aurélio Buarque de Holanda, no teatro ibérico dos séculos XVI e XVII.
O povo nordestino, mui sábio, também costuma usar a loa, rimada e, quase sempre, metrificada, antes de engolir uma boa dose de cachaça. Antes de tomar a lapada, louva-se e introduz-se, em seguida, a bebida goela abaixo.
Esse é o meu intuito, e tão somente esse, ao apresentar, neste zine-blog literário, os poemas desse Mestre: introduzir os textos, antes da fruição da leitura. Louvação e introdução é o que querem ser essas palavras de pórtico. Loar. Loor. Loa.

Não sei se é propriamente uma fruição, o sentimento que nos traz a leitura dos textos abaixo, pois o Mestre Diógenes é dono de uma potência criadora próxima da dos pugilistas. Sua força poética quase nos nocauteia. As imagens acachapantes da sua agonia nos falam, também, da nossa agonia. Seus versos caosagonicos tratam de uma angústia que me faz lembrar, em sua essência, a de um outro Mestre, o grande basco Dom Miguel de Unamuno, cuja obra, A Agonia do Cristianismo, percorremos dia desses.
Assim como o Varão de Bilbao, também se esforça, Dom Diógenes Afonso, por apresentar-se ao leitor, não apenas como Poeta ou Autor, e sim, como um homem de carne e osso, com o flanco nu, adentrando a arena:

“o homem de carne e osso, aquele que nasce, sofre e morre, - sobretudo o que morre - aquele que come e bebe e joga e dorme e pensa e quer; o homem a quem vemos e ouvimos, o irmão, o verdadeiro irmão”.
( Unamuno)

Fala-nos o homem Diógenes que se problematiza, que se faz a questão de si mesmo (mihi quaestio factus sum, como em Santo Agostinho). Sua obra poética é, ela mesma, reduto e registro inominável de sua problematicidade. Como neste insólito e belo


INEQUAÇÕES:



Sou matemático de cabeça para baixo:
as inequações, marcas de minha impotência;
os números, teimosia de infinitude,
postergando o meu capturar definitivo.

Sou matemático de uma agônica geometria:
as linhas, tortas por um contorno inacabado;
as esferas, derretidas na frouxidão do tempo
(talvez, doidamente, mais lânguidas que os relógios-tempo de Dali);
os trapézios, trapalhadas trôpegas
de um discurso falido.


**********************************************************************************


No entanto, radicam-se no homem todas as realidades, e ao se impor como a questão de si mesmo, encontrará, irremediavelmente, o outro que não ele.
Dom Diógenes, como Unamuno, é um homem de seu tempo, que busca salvar a sua circunstância e com ela salvar-se a si mesmo. Ao chorar, num poema, as agruras de seu recém-nascido filho Victor, (hoje, um victorioso e saudável rapagão), chorava também as dores da alteridade, do próximo, do humano:




PRA QUE NÃO CHORES

(poesia pra Victor)

Porque a miséria, Victor,
tem o semblante da
morte
em vida que desponta
cadavérica e ameaçadora
como carvalho dês
aponta
no cerne da noite.

Porque a miséria, Victor,
faz disparar em
retirada
os sonhos que
por um,
por mil,
por milhões,
por infinitos... vãos desejos
se pretendem
sonhar!

Porque a miséria, Victor,
faz o seio do homem
inflar
de sangue-latino, latindo
como cão danado
uivo-desespero explodindo
inerte no ódio!

**********************************************************************************

Não escapará de si mesmo, tampouco do Deus em que acredita. Sua crença se apresenta sob certa tensão, certo embate interior com um cristianismo que professa crítica e crísticamente, quase dizia, unamunianamente. Bom exemplo disso é esse soco final, digo, poema final, que considero ser a obra prima de Dom Diógenes Afonso de Oliveira:
***


CAOSAGONIA: um acorde com ninguém.
*

Meu cansaço esfacela-se sem nome
E eu esbravejo matilhas ofegantes, espumando
Pela Caça Fugidia que desliza espectral
Dos ombros inefáveis de Deus.
*
Meu cansaço esfacela-se sem nome
E eu estremeço legiões de demonios, temendo
Pelo Tudo Distante que emerge seminal
Dos ombros inomináveis de Deus.
*
Meu cansaço esfacela-se sem nome
E eu... Que esbravejo por essa Caça,
Que estremeço por este Tudo,
Que enlouqueço por este Lugar-Nenhum,
Busco desbravar o labiríntico
Dessas sendas sem nomes:
Golpes golfando impotência
Diante dos ombros absurdos de Deus .
*
...........................................................(Diafonso).

Como arremate, trago esse poema de um homem que se confessa homem:


Ícaro (A vertigem)
Eis o homem:
Ícaro de asas amputadas
De alma pútrida...
Áptero... pávido...
Insano... sem dó... dor só!
Eis o homem!
Acordado sem acordes
Ccom os quais dançar
(dançarino do nada: dor só)
Eis o homem!
Acordado sem cor
Ccom a qual se pintar
(dândi do nada: dor só)
Eis o homem!
Acordado sem palavras,
Sem verbo,
Sem vida
Com a qual apodrecer
em seu túmulo caiado de trevas
(divindade do nada: dor só!)
Eis o homem:
Dançarino... nada!
Dândi... nada!
Divindade... nada!
**************************
Veja mais em
ou
******************************************
Eurico
06/06/07
******************************************o

quarta-feira, maio 30, 2007

ALCÁCER-QUIBIR revisitada


Uma monocromia armorial
dedicada a Dom Ariano Villar Suassuna







Vermelhidões no poente,
céu sangüíneo, incandescente.
Da porfia oiço o alarido:

Rezas,
.......rajadas,
...............rugidos.

sonho um sonho mal dormido:
de morte, em luta renhida,
foi Dom Sebastião malferido?

Feito de sonho é o que vejo:
estranhos carros de fogo
cruzam os céus sertanejos.
Ungem de luz a caatinga
Essas flamejantes bigas.
Vermelhidões no poente:
Seriam sarças ardentes?

Nos sertões os céus tão rubros:
sangue na chã de Canudos?

Ao longe oiço estampidos:
raios,
......trovões
............. e gemidos...

Vermelhidões no poente
rumores de gado e gente
clamor do sangue inocente:
hereges sangrando os crentes?

sonho um sonho mal dormido:
de morte,( ouço o rugido)
foi o Prinspe atingido?...

Vermelhidões no poente:
crepúsculo enceguecente,
E em estranho carro de fogo
Dom Sebastião soerguido...


Eurico

domingo, maio 27, 2007

Óxente, que blog arretado!


No pé da parede




Se vosmecê tem aquele orgulho danado pelas coisas do nordeste, acesse o blog arretado do poeta Jorge Filó.
Clique:
no pé da parede

Eu recomendo.
Eurico
27.05.07

sexta-feira, maio 25, 2007

Emoção proustiana



Eurico no Alto da Sé - Olinda
ao fundo a Bertioga e o casario mais que centenário


A mesma impressão que eu teria ao ouvir Beatles, Creedence, Renato e seus Blue Caps, ou antigas canções de Elton John, creio que senti ao achar ontem, no orkut, um velho amigo de infância. Veio à lembrança o tempo bom do Ginásio Pernambucano: as peladas na quadra, as descobertas no museu de história natural; tempo de amizade sincera, coisa rara hoje em dia.
Achei o Roberto Portella, um jovem senhor, um ano mais novo do que eu, que insistiu no seu sonho de desenhista, vindo de lá dos idos de 1968/69, quando nos mostrava seus interessantes desenhos em sala de aula. Hoje um imagemaker, webdesigner, sei lá eu, mas tudo dentro da área das artes plásticas por onde ele, decerto, enveredou.
Aquela turma do GP foi das melhores coisas da minha vida. Apesar do pânico que eram as aulas do Cláudio Estelita, que nos obrigou a fazer todos os exercícios da coleção Matemática Moderna, do Marcius Brandão, tínhamos ali muitos predestinados: o Jader, que hoje é médico; Zé Fernandes, físico, se não me engano; o Carlos Alberto, do nosso tempo, que morreu jogando pelo Sport e, o nosso Roberto Portella, que eu tinha certeza que seria da área de arquitetura, designer ou artes plásticas.
Registro aqui minha alegria de ter visto o belo trabalho feito pelo Portella e que está aberto ao público aqui, nessa rede, para deleite dos navegadores.
Acessem, pois:

http://www.robertoportella.com.br


E vejam as obras de arte desse exímio artista-digital, ou imagemaker, como usa dizer.
Parabéns, amigo.

Eurico
26.maio.2007

P.S.: depois dessa data, além do Portella, encontrei o Raul Manhães, médico e professor da UFPE, Ivan e Ivson, os dois irmãos que moravam em Areias, o Jader de Alemão Cysneiros, regente da banda, que, hoje, mora na Europa. Tive notícias do Rudex, mas falta reencontrar o Luiz Carlos de Souza, Caveirinha, o fera em matemática, que está morando em João Pessoa, segundo o Ivan. Ah, sempre vejo o Edvaldo Valentin, advogado, que já me defendeu em causa trabalhista contra o Bandepe. Ganhamos.
As notas triste são o falecimento do Jader Lucena, médico e do Irandé. Que Deus os tenha!

quinta-feira, maio 24, 2007

ÍNDIOS



“...nos deram espelhos, vimos um mundo doente...”
Renato Russo



Certo dia descobrimos uns galegos
Com seu deus crucificado
e, incautos, nos entregamos, cordeiros,
ao holocausto...

Descobrimos a Europa
Com os seus princípios...de bosta,
seus missais e arcabuzes,
a sua ciência morta,
E com as doenças de um mundo
ranzinza e antivital.
Nesse dia tão medonho
nos tornamos Portugal.

Contaram-nos do amor desse deus manso e pacífico,
por seus tataravós assassinado,
E, poluindo nossas almas inocentes,
nos vestiram com esse manto fictício,
e esses valores nauseabundos do ocidente.


Quem sabe, Nietzche, salve-nos, quem sabe,
pela transvaloração dessa cultura.
E que a Tribo também morra ensandecida
nesse velho Novo Mundo infectado pela usura,
com rosários de prata sobre o peito.
e pedaços de oiro em nossos dentes.

Mas morramos numa festa do Quarup
sem pecado, sem medo e sem mentiras,
celebrando a floresta ou a que nos resta
alegremente livres...
sim, felizes!


Eurico 2006

quarta-feira, maio 23, 2007

Ouvir galáxias? Perdi o senso!


Não gosto dele, do Olavo. Não é nada contra a forma fixa e metrificada dos versos parnasianos. O problema é outro: ele foi o a autor da lei que tornou obrigatório o serviço militar no Brasil. Servi no 14º RI e não gostei. rsrsrs
Mas, como bom Esferista, farei como o mestre Dom Eugenio Paxelly, o pai do Esferismo, nos orientava, e buscarei ver o lado bom desse poeta/deputado. Aliás, depois que o Belchior musicou o "ora (direis) ouvir estrelas! Certo perdeste o senso!" que tantas vezes ouvi, nas recorrentes e malfadadas ocasiões das perdas amorosas juvenis, fui levado a ler os sonetos que abaixo transcrevo, pirateado da net. Cito a fonte, é claro!
E vamos ao Olavo!

P.S.: a favor do Olavo temos os bons poemas neo-parnasianos do Bandeira e do Vinicius, embora eu prefira, questão de gosto, o Drummond e o João Cabral.



VIA-LÁCTEA
Olavo Bilac

(fragmento)



XIII

“Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...

E conversamos toda a noite, enquanto
A via-láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: “Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?”

E eu vos direi:”Amai para entende-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas”.




XXVII

Ontem – néscio que fui! - maliciosa
Disse uma estrela, a rir, na imensa altura:
“Amigo! uma de nós, a mais formosa
De todas nós, a mais formosa e pura,

Faz anos amanhã... Vamos! procura
A rima de ouro mais brilhante, a rosa
De cor mais viva e de maior frescura!”
E eu murmurei comigo: “Mentirosa!”

E segui. Pois tão cego fui por elas,
Que, enfim, curado pelos seus enganos,
Já não creio em nenhuma das estrelas...

E – mal de mim! – eis-me, a teus pés, em pranto...
Olha: se nada fiz para os teus anos,
Culpa as tuas irmãs que enganam tanto!


XXXV

Pouco me pesa que mofeis sorrindo
Destes versos puríssimos e santos:
Porque, nisto de amor e íntimos prantos,
Dos louvores do público prescindo.

Homens de bronze! um haverá, de tantos,
(Talvez um só) que, esta paixão sentindo,
Aqui demore o olhar, vendo e medindo
O alcance e o sentimento destes cantos.

Será esse o meu público. E, decerto,
Esse dirá: “Pode viver tranqüilo
Quem assim ama, sendo assim amado!”

E, trêmulo, de lágrimas coberto,
Há de estimar quem lhe contou aquilo
Que nunca ouviu com tanto ardor contado.


Fonte:
BILAC, Olavo. Antologia : Poesias. São Paulo : Martin Claret, 2002. p. 37-55 : Via-Láctea. (Coleção a obra-prima de cada autor).

Texto proveniente de:
A Biblioteca Virtual do Estudante Brasileiro
A Escola do Futuro da Universidade de São Paulo
Permitido o uso apenas para fins educacionais.

Texto-base digitalizado por:
Anamaria Grunfeld Villaça Koch – São Paulo/SP

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Eurico
23 de maio de 2007